Esta edição da Revista Democracia Socialista se publica em um momento em que a esquerda brasileira define rumos históricos no seio do Partido dos Trabalhadores, dentro de uma conjuntura em que a crise deflagrada dentro do governo golpista e o bloco político que o apoia recoloca com ainda mais atualidade e força as bandeiras de FORA TEMER! ELEIÇÕES DIRETAS JÁ! PELA RETIRADA IMEDIATA DAS REFORMAS NEOLIBERAIS! Nesse contexto o que está em jogo é afirmar o PT como uma ferramenta de mudanças estruturais nas mãos da classe trabalhadora. E uma nova candidatura Lula à Presidência do Brasil que supere os problemas que resultaram no golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma Rousseff. São desafios que cobram respostas do 6º Congresso do Partido.
Para contribuir para esses debates, este número da revista traz um conjunto de textos que analisam o atual estágio da luta de classes no mundo e no Brasil. Em uma entrevista a Gérard Duménil e Dominique Lévy sobre seu recente livro A grande bifurcação. Para acabar com o neoliberalismo, aborda-se a crise do capitalismo e as saídas, à direita e à esquerda. Esses economistas marxistas franceses apontam para a necessidade de uma atualização programática da esquerda se o desejo for o de superar o neoliberalismo. E indicam algumas pistas nesse sentido.
No segundo artigo, Reginaldo Moraes destrincha o “fenômeno” Donald Trump e sua relação com a classe trabalhadora dos EUA. O que sua análise mostra é como os neoconservadores conseguiram essa espetacular vitória graças à desmoralização de um progressismo – representado pela candidatura de Hillary Clinton – diluído no neoliberalismo e às estratégias de desmobilização de setores cada vez mais amplos da população. Os avanços neoconservadores têm sido proporcionais à covardia histórica desse progressismo cada vez mais desfigurado.
Em seguida, Juarez Guimarães analisa a conjuntura brasileira como expressão de uma “contrarrevolução neoliberal”. Com esse conceito, busca designar a profundidade e a amplitude da ofensiva da direita brasileira. Assim, o golpe de Estado de 2016 assume feições diferentes às de um evento marcado pela desfaçatez dos seus principais impulsionadores para adquirir os traços de uma disputa histórica na qual a esquerda sofreu uma derrota estratégica. Novamente, superar essa conjuntura não será possível com mais do mesmo que nos conduziu ao beco de 2015-16. Esse é um debate que está em curso no Partido dos Trabalhadores.
Os dois artigos seguintes dão conta de dimensões-chave da luta de classes. Marilane Teixeira repassa as principais medidas que o bloco golpista governante impulsiona contra a previdência social e os direitos trabalhistas. Foi em torno desses temas que a classe trabalhadora travou uma batalha importante na greve geral de 28 de abril passado. A defesa de conquistas será parte fundamental de um programa de esquerdas para o próximo período. E Ronaldo Teodoro mostra o papel insubstituível que o sindicalismo CUTista tem na luta em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo desmonte é parte da agenda reacionária da direita.
Para o marxismo revolucionário, o qual reivindicamos, sem teoria revolucionária não há prática revolucionária. Por isso consideramos de interesse para nossa militância publicar a transcrição de uma conferência que Miguel Romero (“Moro”) ditou sobre o legado teórico-político de Daniel Bensaïd. Ambos os dirigentes políticos revolucionários europeus foram importantes interlocutores da nossa corrente para elaborarmos um marxismo crítico e aberto. Ao lembrar Bensaïd, Moro nos entrega um roteiro de questões teóricas fundamentais para construir um marxismo revolucionário para o século XXI.
No artigo que recupera a história do 8 de março como Dia Internacional da Mulher, Nalu Faria faz um resgate dos vínculos históricos e atuais entre a luta feminista e o movimento operário e socialista. Na conjuntura brasileira recente, a mobilização feminista das mulheres tem sido fundamental para enfrentar a onda reacionária que as forças da direita têm desatado. Este artigo mostra que o feminismo somente mostrará todo seu potencial se estiver fortemente ligado às lutas da classe trabalhadora pelo socialismo, mas isso somente será possível se o próprio movimento socialista assumir definitivamente o feminismo.
Encerrando nossa revista, Guilherme Cassel chama a atenção para o fato de que, na conjuntura atual brasileira, falta uma literatura que reflita o contexto social e o povo que sofre e luta. Se os personagens da Revolução Russa estão sobretudo em Tolstói, antes que nos textos políticos dos revolucionários que a conduziram, ele pergunta onde estão retratados os tipos humanos que pululam nos dramas de nosso tempo.
ERRATA REVISTA 4. No artigo de Arno Augustin Filho, Os fatos são teimosos, ficou faltando o seguinte crédito: Agradeço ao economista Jorge Maia Ussan, amigo que elaborou e gentilmente cedeu-me os gráficos ilustrativos.
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