A eleição de outubro de 2018 não é uma eleição a mais do ciclo democrático iniciado com a promulgação da Constituição de 1988 e a primeira eleição para presidente após o fim da ditadura, em 1989. Nem sequer é tão somente uma eleição de grande importância como foi a de 2002 que, com a vitória da candidatura Lula, mudaria os rumos do país criando
condições para sair do ciclo de governos neoliberais e iniciar a aplicação de um programa democrático-popular.
No evento que temos pela frente se decide mais do que quem vai ser o presidente do país e com qual plataforma de governo. O que temos vivido é uma situação em que, sob o manto da democracia, instituições componentes do Estado brasileiro atuam para travar o desejo das maiorias. Nossas organizações políticas e sociais serão capazes de fazer com que prevaleça a vontade popular por um país igualitário e soberano?
Longe do escrutínio popular, setores do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal se aliaram à classe po lítica mais corrupta e neoliberal e aos meios de comunicação de massas e colocaram na cadeia o candidato que o povo brasileiro quer ver na presidência da República.
O Partido dos Trabalhadores tem feito um duro aprendizado nos últimos anos. O Sexto Congresso consolidou muitas das lições da luta de classes ocorrida desde 2014. E a prisão
do Lula deu o ensinamento definitivo, da incompatibilidade deste Estado com a Democracia plena.
Assim, a tática eleitoral da atual campanha não é apenas isso, mas deve ser parte de uma estratégia geral das esquerdas brasileiras para superar os obstáculos que esta democracia – cada vez mais restringida – coloca à soberania popular. É sobre esse pano de fundo que se desenvolvem os argumentos dos dois primeiros artigos deste número da Revista: em “A luta contra o golpe, por Lula e pela retomada da democracia no Brasil”, Wagner Romão apresenta uma visão sobre a tática necessária neste período. E Juarez Guimarães escreve sobre os principais temas programáticos propostos pela campanha petista em “Da resistência à luta pela refundação democrática do Brasil”.
Um dos terrenos fundamentais da disputa política no período recente tem sido o da educação pública. Trata-se de um direito fundamental que está sob intenso ataque do governo golpista e das forças neoliberais em geral e, além disso, envolve diretamente importantes setores sociais organizados, movimentos de professores e estudantes, que têm tido grande protagonismo político nos últimos anos. Daí que uma visão de conjunto do que está em jogo e sobre como defender os direitos das maiorias é fundamental. É o que faz Guilherme Barbosa no artigo “A educação em tempos de golpe”.
A participação das mulheres nas lutas sociais no Brasil e América Latina tem sido historicamente importantes sempre, mesmo que em grande parte das vezes tenha sido invisibilizada pela história e pela ciência política. E desde os anos 1970 o feminismo como corrente político-ideológica tem tido importante participação em diversos momentos chave nas disputas na sociedade. Mas o que a conjuntura brasileira e latinoamericana tem registrado nos últimos anos é um fenômeno novo. É um feminismo de massas, com forte componente popular e juvenil, capaz de intervir tanto em agendas gerais como nos temas de direitos das mulheres. O evento mais recente desse fenômeno foi a campanha pela legalização do aborto na Argentina que teve impacto em praticamente todos os países da América Latina. Tica Moreno e Luiza Mançano analisam a campanha em “Aborto e mobilização popular: aprendizados e desafios a partir da luta das mulheres argentinas”.
A Democracia Socialista é uma corrente do Partido dos Trabalhadores que se formou ainda em 1979 como herdeira de varias experiências anteriores da esquerda brasileira, entre elas, a do Partido Operário Comunista (POC), fundado em 1968. Com motivo dos cinquenta anos daquele momento Raul Pont organizou um livro: 1968-2018 50 anos do POC. Uma coletânea de textos, dentre os quais um de autoria do próprio Raul, “A Dissidência/RS e a fusão no POC” que reproduzimos aqui. Esse artigo pode ser lido como complemento à entrevista que Raul deu à nossa revista no número 2, de dezembro de 2014. Finalmente, encerra nossa revista, o poema “Pelas mãos das mulheres” de Camila Paula.
Os Editores