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Rio da memória: Otaviano de Carvalho (1955-1999)

 O jornalista e revolucionário Otaviano de Carvalho, imerso no grande rio da memória, permanece em seus modos de presença. Neste especial de 40 anos da Democracia Socialista relembramos sua contribuição às lutas sociais.

Os gregos chamavam de Letes, o rio da morte e do esquecimento. Assim, o rio da memória é também o rio da vida.

Otaviano de Carvalho, tragicamente morto junto com a companheira Elizabeth Lima, em um fatal acidente quando acompanhava o retorno de Lula em uma caravana a São Mateus, norte do Espírito Santo, em 10 de junho de 1999, frequenta sempre o nosso rio da memória.

Kleber Frizzera, arquiteto e fundado do PT/ES, escreveu uma carta em homenagem a Otaviano. Amigo de longa data da Democracia Socialista, Frizzera é certeiro ao afirmar que relembrar Otaviano é reconstituir a esperança, sentimento imprescindível em tempos de futuro tão incerto.

Em 2013, Juarez Guimarães e Ana Paola Amorim dedicaram o livro “A corrupção da opinião pública. Uma defesa republicana da liberdade de expressão” a Otaviano. Na oportunidade, Guimarães escreveu uma homenagem ao companheiro mineiro.

Abaixo apresentamos as homenagens feitas:

Memória – Kleber Frizzera

Diante do pior, do mais duro, do mais difícil, Otaviano de Carvalho tinha a coragem e a determinação dos revolucionários, o afeto e a reflexão de companheiro, a vontade e o desejo que não se curvam aos poderosos e à injustiça, que não se resignam à falta e às derrotas.

Octaviano era gentil, parceiro, era incansável.

Quando a violência, a exploração e a conservadorismo voltam a aterrorizar e ameaçar o futuro da humanidade, quando a desesperança ocupa e assusta nossas mentes e corações, relembrar Otaviano é reconstituir a esperança e renovar as forças para o pensamento e a prática transformadora.

fevereiro, 2019.

Há cinco modos de presença Otaviano Carvalho em nossas vidas – Juarez Guimarães

O primeiro é compreender a sua contribuição às grandes jornadas de luta que levaram Lula à presidência em 2002. Otaviano, como Chico Mendes, Margarida Alves e tantos outros, semearam, mas não puderam presenciar a colheita do grande ciclo de transformações atualmente vivido pelo Brasil nos anos Lula e Dilma. Do movimento estudantil em Belo Horizonte até 1999 foram 25 anos de militância em entidades estudantis, na formação do PT do Espírito Santo, em associações de bairro e como jornalista em oposições sindicais e sindicatos, como vereador e deputado estadual. Todo este esforço não foi em vão. O ano de 1999 iniciava a quarta jornada de Lula à presidência da República, desta vez vitoriosa.

O segundo modo de presença Otaviano é lembrar as causas pelas quais lutou em sua vida. A caravana de Lula na qual foi vitimado visava a luta contra a privatização da Telebras e em favor da reforma agrária. Hoje quando acende no país a luta pela democratização dos meios de comunicação, é certo que Otaviano estaria entre as principais lideranças devido ao seu acúmulo e seu conhecimento na área de comunicação.

O terceiro modo de lembrar Otaviano é falar de sua enorme contribuição à formação da tendência Democracia Socialista em seus primeiros anos e que continuou até o final. Otaviano, como Raul Pont, conjugou sempre a condição de construtor de coletivos com uma franca atividade de representação pública. Desta forma, não havia lugar para um personalismo, mas para o compartilhamento e para a formação de uma tradição que continua. Nascia ali também uma relação política com João Carlos Coser, que iria formar a Mensagem ao Partido no Espírito Santo.

O quarto caminho para evocar Otaviano é falar do grande amor da sua vida – a companheira Lísia, das suas duas filhas que deixou, Camila e Mariana, então crianças, hoje adultas, de seus parentes depois visitados em Iguatama (MG) por Lula, de seus companheiros mais próximos de militância, seus amigos espalhados por todo o Brasil. A sua própria comunidade de destinos formada em torno sempre da utopia do socialismo democrático.

Mas há ainda um quinto caminho para reencontrar Otaviano: é lembrar da sua paixão, da sua alegria de viver, de amar e transformar o mundo! A capa do boletim especial “Praça Oito”, do PT de Vitória, todo ele dedicado a Otaviano em 1999, estão os versos da canção de Gonzaguinha, ele também perdido em um desastre nas estradas, que Otaviano trazia no carro:

“São as lutas dessa nossa vida/Que eu estou cantando/ Quando eu abrir minha garganta/ Essa força tanta/ Tudo que você ouvir/ Esteja certo, estou vivendo/ Veja o brilho dos meus olhos/ E o tremor nas minhas mãos/ E o meu corpo tão suado/ Transbordando toda raça e emoção/ E se eu chorar e o sol molhar o meu sorriso/ Não se espante e cante/ Que o teu canto é a minha força pra cantar/ Quando eu soltar a minha voz/ Por favor entenda/ É apenas o meu jeito/ De viver o que é amar.”

dezembro, 2013.

Minibiografia: Otaviano de Carvalho nasceu em Iguatama/MG. Iniciou sua militância no movimento estudantil da PUC/MG onde formou-se em jornalismo.Em 1981, foi transferido para o Espírito Santo por decisão coletiva da construção nacional da então ORM-DS. Militou no movimento social sindical e comunitário. Foi eleito pelo PT vereador por Vitória em 1989 e reeleito em 1993. Foi Secretário Estadual de Comunicação do Governo do Espírito Santo na gestão do Vitor Buaiz. Em 1996 foi candidato a Prefeito de Vitória e Deputado Estadual de 1997 a 1998.

Vídeo de homenagem a Otaviano produzido pela DS/ES em 1999.

Juarez Guimarães é professor de Ciência Política da UFMG e militante da Democracia Socialista.

Kleber Frizzera é arquiteto e professor universitário. Fundador do Partido dos Trabalhadores do Espírito Santo.

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