Os gregos chamavam de Letes, o rio da morte e do esquecimento. Assim, o rio da memória é também o rio da vida.
Otaviano de Carvalho, tragicamente morto junto com a companheira Elizabeth Lima, em um fatal acidente quando acompanhava o retorno de Lula em uma caravana a São Mateus, norte do Espírito Santo, em 10 de junho de 1999, frequenta sempre o nosso rio da memória.
Kleber Frizzera, arquiteto e fundado do PT/ES, escreveu uma carta em homenagem a Otaviano. Amigo de longa data da Democracia Socialista, Frizzera é certeiro ao afirmar que relembrar Otaviano é reconstituir a esperança, sentimento imprescindível em tempos de futuro tão incerto.
Em 2013, Juarez Guimarães e Ana Paola Amorim dedicaram o livro “A corrupção da opinião pública. Uma defesa republicana da liberdade de expressão” a Otaviano. Na oportunidade, Guimarães escreveu uma homenagem ao companheiro mineiro.
Abaixo apresentamos as homenagens feitas:
Memória – Kleber Frizzera
Diante do pior, do mais duro, do mais difícil, Otaviano de Carvalho tinha a coragem e a determinação dos revolucionários, o afeto e a reflexão de companheiro, a vontade e o desejo que não se curvam aos poderosos e à injustiça, que não se resignam à falta e às derrotas.
Octaviano era gentil, parceiro, era incansável.
Quando a violência, a exploração e a conservadorismo voltam a aterrorizar e ameaçar o futuro da humanidade, quando a desesperança ocupa e assusta nossas mentes e corações, relembrar Otaviano é reconstituir a esperança e renovar as forças para o pensamento e a prática transformadora.
fevereiro, 2019.
Há cinco modos de presença Otaviano Carvalho em nossas vidas – Juarez Guimarães
O primeiro é compreender a sua contribuição às grandes jornadas de luta que levaram Lula à presidência em 2002. Otaviano, como Chico Mendes, Margarida Alves e tantos outros, semearam, mas não puderam presenciar a colheita do grande ciclo de transformações atualmente vivido pelo Brasil nos anos Lula e Dilma. Do movimento estudantil em Belo Horizonte até 1999 foram 25 anos de militância em entidades estudantis, na formação do PT do Espírito Santo, em associações de bairro e como jornalista em oposições sindicais e sindicatos, como vereador e deputado estadual. Todo este esforço não foi em vão. O ano de 1999 iniciava a quarta jornada de Lula à presidência da República, desta vez vitoriosa.
O segundo modo de presença Otaviano é lembrar as causas pelas quais lutou em sua vida. A caravana de Lula na qual foi vitimado visava a luta contra a privatização da Telebras e em favor da reforma agrária. Hoje quando acende no país a luta pela democratização dos meios de comunicação, é certo que Otaviano estaria entre as principais lideranças devido ao seu acúmulo e seu conhecimento na área de comunicação.
O terceiro modo de lembrar Otaviano é falar de sua enorme contribuição à formação da tendência Democracia Socialista em seus primeiros anos e que continuou até o final. Otaviano, como Raul Pont, conjugou sempre a condição de construtor de coletivos com uma franca atividade de representação pública. Desta forma, não havia lugar para um personalismo, mas para o compartilhamento e para a formação de uma tradição que continua. Nascia ali também uma relação política com João Carlos Coser, que iria formar a Mensagem ao Partido no Espírito Santo.
O quarto caminho para evocar Otaviano é falar do grande amor da sua vida – a companheira Lísia, das suas duas filhas que deixou, Camila e Mariana, então crianças, hoje adultas, de seus parentes depois visitados em Iguatama (MG) por Lula, de seus companheiros mais próximos de militância, seus amigos espalhados por todo o Brasil. A sua própria comunidade de destinos formada em torno sempre da utopia do socialismo democrático.
Mas há ainda um quinto caminho para reencontrar Otaviano: é lembrar da sua paixão, da sua alegria de viver, de amar e transformar o mundo! A capa do boletim especial “Praça Oito”, do PT de Vitória, todo ele dedicado a Otaviano em 1999, estão os versos da canção de Gonzaguinha, ele também perdido em um desastre nas estradas, que Otaviano trazia no carro:
dezembro, 2013.
Minibiografia: Otaviano de Carvalho nasceu em Iguatama/MG. Iniciou sua militância no movimento estudantil da PUC/MG onde formou-se em jornalismo.Em 1981, foi transferido para o Espírito Santo por decisão coletiva da construção nacional da então ORM-DS. Militou no movimento social sindical e comunitário. Foi eleito pelo PT vereador por Vitória em 1989 e reeleito em 1993. Foi Secretário Estadual de Comunicação do Governo do Espírito Santo na gestão do Vitor Buaiz. Em 1996 foi candidato a Prefeito de Vitória e Deputado Estadual de 1997 a 1998.
Vídeo de homenagem a Otaviano produzido pela DS/ES em 1999.
Juarez Guimarães é professor de Ciência Política da UFMG e militante da Democracia Socialista.
Kleber Frizzera é arquiteto e professor universitário. Fundador do Partido dos Trabalhadores do Espírito Santo.