A eleição das Mesas da Câmara Federal e do Senado nunca despertaram tanto engajamento da militância petista e de esquerda. As vezes, questões da rotina parlamentar portam símbolos. Eles despertam audiência por descortinar tendências de futuro. É por interesse nos passos seguintes da luta política no Brasil que essa eleição mobiliza tanto.
Normalmente, a escolha de quem preside o parlamento não tem dimensão estratégica ou de princípios. Trata-se do arranjo político que reproduz a correlação de forças na sociedade. Numa democracia, todos os partidos devem ter, pela proporção dos seus votos, representação nas Mesas. É um direito assegurado na Constituição.
O problema é que vivemos uma anormalidade política no Brasil. Nascido de um golpe institucional, o governo ilegítimo que dirige o país apresenta uma implacável agenda regressiva contra os direitos sociais conquistados há décadas pelo povo. É o ultraneobileralismo.
O golpe não é apenas o ato de deposição da presidente que não cometeu crime, é, acima de tudo, o conjunto da obra. As medidas em curso, como o congelamento dos investimentos em saúde, educação e assistência social por 20 anos e as reformas da previdência e trabalhista, representam o golpe em movimento.
O golpe não parou e precisa ser detido. O congresso é o Capitão do Mato do golpe. Não só legalizou, com o impeachment sem crime de responsabilidade, a saída da presidente Dilma, como implementa todas as medidas anti-populares.
Ao apoiar candidatos a presidente da Câmara e do Senado, cuja plataforma é o programa do golpe, o símbolo que passa é o da conciliação. Toda narrativa de ruptura democrática acumulada pela brava resistência dos movimentos sociais, setores populares, intelectualidade progressista e partidos de esquerda ficará enfraquecida. As vítimas não devem conciliar com os algozes.
A luta pelo reestabelecimento da democracia não deve perder seus símbolos e referências de atuação. A votação nos presidentes da Casas têm que fortalecer a causa democrática e não esmorecê-la. As bancadas do PT na Câmara e no Senado devem votar em candidatos a presidente que defendem a democracia no parlamento e na sociedade e que não sejam alinhados com a destruição do Brasil promovida pelos golpistas.
Robinson Almeida, Deputado Federal PT-BA
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