Seminário Internacional, que ocorrerá dias 5 e 6 de dezembro, em Porto Alegre, discutirá situação das esquerdas na América Latina e no Sul da Europa.
Faz alguns anos, que o mundo enfrenta transformações permanentes que obrigam o povos a buscarem respostas que nos permitam encontrar saídas e alternativas ao modelo econômico e político que busca permanecer à custa dos benefícios e avanços conquistados pelos setores populares. O desemprego e a pobreza alcançam agora as regiões que nunca tinham sofrido esta situação desta maneira tão intensa e milhões de pessoas, em sua maioria jovens, são abandonados a própria sorte.
Na América Latina, onde a reeleição da Presidenta Dilma adquiriu um significado internacional positivo para as força populares, tem se desenvolvido numerosos processos políticos populares, progressistas e de esquerda, iniciados em 1999 com a chegada de Hugo Chávez a presidência da Venezuela.
No princípio da década passada estes processos se estenderam e se fortaleceram favorecidos pelo crescimento dos preços internacionais dos produtos primário que se exportam desde a região, iniciando-se uma nova etapa na qual esses recursos crescentes foram distribuídos de uma maneira mais progressiva que na etapa de predomínio das políticas neoliberais e orientando-se, com níveis distintos, numa ruptura com este paradigma.
Entretanto, a desigualdade e o aumento da pobreza que vivem, hoje, os países do sul da Europa estão diretamente relacionados com as políticas decididas na União Européia (UE) – com a cumplicidade dos governos neoliberais – exigências de austeridade suicidas e uma dinâmica de desmantelamento do Estado do bem estar social que estão afundando os países periféricos da UE. Uma situação que está afetando, ademais, com dureza os mais jovens, vítimas da estagnação, da precariedade e da falta de oportunidades.
O balanço destas medidas impostas, não pode ser outro, que a enorme transferência de renda das massas trabalhadoras para os poderosos grupos econômicos mais concentrados, descarregando o impacto da crise sobre os setores populares, agravando a crise, aumentando a dívida, destruindo os postos de trabalho, cerceando direitos, degradando o bem estar da maioria da população e relegando para um segundo plano a agenda ambiental dos países da UE.
A esquerda se vê e enfrenta assim diferentes desafios em regiões que atravessam momentos políticos e econômicos distintos. No Sul da Europa, uma esquerda em fase de resistência que busca os melhores caminhos para enfrentar a brutal – e até agora exitosa – ofensiva dos grupos econômicos mais concentrados. Na América Latina o presidente equatoriano Rafael Correa tem dito que não se está passando por uma época de mudanças, mas sim por uma mudança de época. Através de numerosas manifestações no recente caminho da integração, os fatos tem evidenciado um novo tempo.
Em vários países da região, a esquerda faz parte dos governos populares e progressistas – em alguns há deixado de participar – contribuindo na construção de modelos pós-neoliberais. Aqui a esquerda debate quais são as orientações mais adequadas para consolidar os logros obtidos e aprofundar processos de avanço que encontram obstáculos difíceis de superar, diante do perigo de estagnação e retrocessos.
As recentes vitórias políticas eleitorais na Bolívia e no Brasil e o caminho que se abriu para a vitória do Frente Amplo no segundo turno das eleições presidenciais no Uruguai, expressam a capacidade das organizações democráticas e populares de seguir levando adiante processos de realização dos programas pós-neoliberais.
A reeleição da Presidenta Dilma, numa histórica vitória do povo brasileiro, representa um duro revés para o neoliberalismo, o imperialismo, as oligarquias a ele subordinadas e nos monopólios dos meios de comunicação massivos. Nenhum dos processos políticos desta região esteve isento de dificuldades para avançar no sentido do progresso, distribuição de renda e de poder.
O golpe contra o presidente Zelaya de Honduras, a ruptura da ordem constitucional Paraguaia, a ofensiva antidemocrática contra o governo de Nicolás Maduro na Venezuela e as recentes manifestações golpistas da direita brasileira – que vão desde o pedido de impeachment e a volta da ditadura militar, até os pedidos de intervenção dos Estados Unidos no Brasil – ademais de expressar manifestações da ação das minorias antipopulares, refletem igualmente o cansaço das direitas frente às sucessivas vitórias eleitorais das forças populares quanto, o fortalecimento da histórica orientação autoritária e excludente das elites burguesas latino-americanas.
O desafio é, sem deixar de perguntar com preocupação, quais são os limites e os erros que se sucedem no interior destes processos, como dar passos para aprofundar as transformações e criar, consolidar e ampliar a legitimidade para o desenvolvimento de um novo ciclo pós-neoliberal. As ferramentas de integração criadas nestes anos como, por exemplo, UNASUR e a CELAC, dão conta das muitas conquistas não só nos aspectos políticos ou econômicos, senão também culturais, sociais e de outra índole, mas ao mesmo tempo, nos mostram importantes limites que ainda persistem.
A busca de uma maior e melhor integração da América Latina deve ser objeto de uma profunda análise que ainda hoje, há quase 10 anos da ruptura com o processo norte-americano da ALCA, segue transitando por caminhos contraditórios.
A necessidade de aprofundar as transformações populares na América Latina, diante das pressões para paralisar estes processos ou fazê-los retroceder e a busca para consolidar um processo de resistência desde as esquerdas do Sul da Europa que detenha a ofensiva das minorias mais poderosas, são duas caras do mesmo desafio. É essencial entendê-lo como partes da mesma luta para construir modelos alternativos ao que nos segue propondo o neoliberalismo.
A busca, que nos convocou a encontrar-nos em diversas ocasiões no passado recente, como o Foro Social Mundial realizado em Belém no ano 2009, nas Jornadas de Trabalho organizadas pela Fundação Novos Horizontes e o CADESyC em 2010 e 2011, no Seminário realizado na Câmara de Deputados da Argentina em 2012, mais os sucessivos encontros em reuniões e diversos âmbitos de articulação internacional , é a mesma que nos convoca agora a seguir aprofundando nossos debates, com o objetivo de buscar coletivamente as respostas necessárias para enfrentar os desafios que temos pela frente, contribuir na elaboração de uma agenda mínima comum da esquerda européia e latino-americana e estabelecer um mecanismo de diálogo para enfrentar aqueles itens que devemos manter uma posição comum, como no caso das negociações entre nossos respectivos blocos regionais.
PROGRAMAÇÃO
Dia 5 de dezembro (sexta-feira)
19h – A CRISE INTERNACIONAL: OS POVOS E AS RELAÇÕES UNIÃO EUROPÉIA E MERCOSUL (Auditório da Câmara de Vereadores de Porto Alegre Av. Loureiro da Silva, 255 – Centro Histórico).
Dia 6 dezembro (sábado)
CENÁRIOS E PERSPECTIVAS POPULARES NA AMÉRICA LATINA E EUROPA
Seminário dos Institutos de Investigação e Formação (Sindicato dos Bancários de Porto Alegre Rua General Câmara, 424, Centro Histórico)
8h30: Abertura e apresentação
9h: Painel América Latina. Os Desafios das Forças Populares
13h: Almoço
15h: Painel Europa. Ofensiva Conservadora e Alternativas Populares
19h: Reunião dos Institutos para o balanço e coordenação de Iniciativas de Cooperação
21h: Confraternização
Artigo publicado originalmente em Carta Maior.
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