Durante essa semana viralizou nas redes sociais um vídeo no qual estudantes de uma universidade privada simulam um processo de masturbação coletiva durante uma partida de vôlei feminina no torneio universitário. Tão absurdo quanto, foi saber que o episódio ocorreu em ABRIL e o caso só teve desdobramento em setembro após a viralização do vídeo.
O que assistimos tem muitas camadas, é preciso olhar para cada uma delas para entender o quão grave é o problema e qual relação ele tem com a formação social brasileira e com a cultura do estupro tão presentes na nossa sociedade.
Uma das primeiras camadas que me chamam atenção é como não só um, mas vários homens se sentem à vontade, em se expor daquela maneira, sem nenhum constrangimento com seus corpos, uma diferença profunda com mulheres que sempre estão em constante insegurança sobre seus corpos.
A segunda camada é como gesto tão violento é concebido com naturalidade, isso só me remete a formação social brasileira marcada pela normalização dos abusos sexuais contra índias e mulheres negras escravizadas por parte dos senhores. A licença para estuprar emanava da cruel dominação econômica. Davis ao falar sobre estupro e questão racial, escreve que homens de classe alta saem ilesos de processos judiciais sobre coesão sexual porque ainda existe essa relação histórica com a questão econômica que permite que homens acessem nossos corpos como se fossemos propriedade ou uma sub categoria.
O ano de 2022 bateu record com o maior número de registros de casos estupros e estupro de vulnerável, leia novamente, estupro de vulneravel, foram 74.930 vítimas, com a marca de um caso a cada 7 minutos. É preciso se revoltar com o que ocorreu neste torneio, familiares, amigos, universidade, toda a sociedade. Não podemos permitir e normalizar essas violências e abusos sexuais que somos submetidas, não podemos deixar que o padrão escravocrata se perpetue nos dias atuais. Não é sobre sexualidade, é sobre imposição de poder e dominação.
NOS RESPEITEM!RESPEITEM NOSSOS CORPOS!
Mari Lacerda é Cientista Social, mestranda em Sociologia/UFC e militante da Marcha Mundial das Mulheres.
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