Emir Sader *
Os movimentos que despontaram em 1968 se tornaram conhecidos como libertários, como fica nos lemas: “Barricadas do desejo”, “É proibido proibir”, “Sejamos realistas: peçamos o impossível”. “Quanto mais faço a revolução, mais tenho vontade de fazer amor. Quanto mais faço amor, mais tenho vontade de fazer a revolução” e “faça amor, não faça a guerra”.
Essas lutas geraram uma década de utopias – como ocorreu em 1920 -, uma década de “assalto ao céu”, em que tudo parecia possível. Os guerrilheiros barbudos da Sierra Maestra conseguiram derrubar um ditador apoiado pelos Estados Unidos e instalar o socialismo a poucos quilômetros do maior império da história da humanidade. Os combatentes vietnamitas conseguiram resistir vitoriosamente à maior invasão militar desde a Segunda Guerra Mundial. Os argelinos conseguiram se impor ao poderio colonial francês. Se tudo isso era possível, o que não seria, que céu não poderia ser conquistado?
Tínhamos a impressão de que o mais fraco poderia ganhar, se defendesse as causas justas. A moral triunfaria sobre o poderio militar; o impossível; sobre o possível; e a utopia, sobre o realismo.
O poder das barricadas: uma autobiografia dos anos 60 retrata o itinerário de um desses jovens militantes, o revolucionário Tariq Ali. Texto autobiográfico, marra suas viagens políticas, suas experiências de luta, de Karachi a Saigon, passando por Havana, Londres, Paris e Berlim.
Em todos esses lugares ele testemunha o “assalto ao céu”. E, em todos esses testemunhos, encontramos um militante que dedicou sua vida a revolução, que estava ali, logo na varanda da esquina.
O livro foi inicialmente publicado na Inglaterra, em 1987, e jamais havia chegado ao público brasileiro. A edição com a qual a Boitempo nos brinda se baseia na reedição de 2005, revista e ampliada por Tariq Ali. Inclui uma entrevista que ele realizou com John Lennon e Yoko Ono. A introdução, em que são abordados acontecimentos recentes, mostra que o autor segue com a mesma coerência e a mesma combatividade da década de 1960. O relato de sua militância nos lembra que o mundo da revolução não está longe, por mais que pareça. Basta acreditar na possibilidade de impossível, lutar contra a corrente, soprar contra a tempestade, até que se consiga mudar o curso das coisas.
Esta obra é um grande elogio à militância, que mostra a descoberta da rebeldia. Não se trata apenas de um livro de memórias, mas de uma introdução à política revolucionária, ao que significa ser militante.
Livro: O poder das barricadas
Autor: Tariq Ali
Editora: Boitempo 2008
Tariq Ali é escritor paquistanês, radicado em Londres. Publicou dezenas de livros, incluindo romances e ensaios políticos. É uma das principais referências intelectuais de esquerda da atualidade. Integra o Comitê Editorial da New Left Review.
* Este texto é o prefácio do livro O poder das barricadas.