Henrique Porto Lusa
Milhões saíram às ruas para comemorar o resultado do plebiscito popular realizado na Grécia neste domingo. Chamado pelo governo do primeiro ministro Alexis Tsipras, mais de 60% do povo grego afirmou que o governo não deve aceitar a chantagem dos credores e buscar uma nova alternativa de pagamento da dívida do país.
O resultado das urnas na Grécia mostra-se como um enorme símbolo de enfrentamento ao pensamento único, que vê no aumento da exploração do povo a saída das crises econômicas.
No Brasil, vivenciamos uma política econômica, iniciada em 2015, que adota o discurso da austeridade, do equilíbrio fiscal, do aumento de juros sucessivos para acalmar a inflação. Justamente o contrário que sempre defendemos para buscarmos um crescimento equilibrado e contínuo. Aqui, optamos por um discurso para acalmar os mercados e não atacar os reais problemas que atravancam o nosso crescimento.
Precisamos de saídas que rompam com esta política econômica, que refaçam sinais políticos de mudanças estruturantes na nossa sociedade, para o povo trabalhador e principalmente, como aconteceu na Grécia, afirmem a confiança do seu povo em seus governantes. O modelo de coalizão, centrado na governabilidade parlamentar, fruto de acordos de ampliação de espaços governamentais para partidos de centro e até de direita está esgotado.
O recado das urnas Gregas mostrou que é fundamental a aliança dos governos com as suas bases sociais, a busca pelo diálogo direto com a população e enfrentamento as políticas do Banco Central Europeu e a mídia. Todo esse movimento evidenciou que os processos populares são pedagógicos e instrumento de libertação dos povos. Há um processo de revolução democrática em curso no Grécia, com forte mobilização social e debate sobre os rumos soberanos do país. Os nossos governos, por mais que tenham construído formas de participação popular, com a realização de conferências nacionais, conselhos e instrumentos de discussão sobre as políticas públicas, são ainda insuficientes instrumentos de participação.
O nosso governo pecou por não fazer o enfrentamento ideológico e discussão sobre os rumos que gostaríamos para o nosso país. Optamos pela inclusão produtiva de amplos setores sociais, esquecendo de acompanhar a formação política, relegando a mídia a construir uma narrativa histórica do último período. Com efeito, observamos a crescente e assustadora ideologia proto-fascista, fortemente incentivada pela mídia monopolizada.
O governo brasileiro, em um momento de fragilidade política, precisa combinar ações para sair do atoleiro que se encontra. Tais ações passam por mudanças da política econômica e retorno da política que construímos e através das quais emancipamos milhões de brasileiros e brasileiras; pela retomada dos debates sobre a democracia participativa e o fortalecimento de instrumentos de participação direta que irão reaproximar inúmeros setores da sociedade civil sobre o debate de qual Brasil queremos construir.
Somente com a nítida sinalização de retomada do projeto de outubro e a busca por uma nova correlação de forças que insira os movimentos sociais, fortaleça a participação direta e que leve a nossa base social ao centro da tomada de decisões é que iremos afastar projetos golpistas e que não auxiliam na construção de uma nova consciência do povo brasileiro. A retomada do diálogo com o conjunto dos movimentos sociais e a participação popular são peças fundamentais para a manutenção e aprofundamento do nosso projeto de desenvolvimento e emancipação do povo.
O exemplo do Governo Syriza na Grécia é forte inspiração para nós, que queremos enfrentar a austeridade imposta pelos financistas do mundo!
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Henrique Porto Lusa é estudante de saúde coletiva, membro da direção nacional da DS e executiva estadual do PT-RS.
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