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Yeda Crusius é uma farsa?

Publicado originalmente no Blog RS Urgente

O debate realizado na noite desta quinta-feira na RBS TV serve, entre outras coisas, para uma reflexão sobre esse tema. O uso da palavra “farsa”, neste contexto, pode ser tomado numa acepção descritiva, bem entendido. Uma das definições do dicionário Houaiss afirma: “ação ou representação que induz ao logro; mentira ardilosa, embuste”. Por que a candidatura da senhora Yeda Crusius induziria ao logro?

Uma resposta possível é que ela se esforça, de fato, em aparecer como algo que não é. Apresenta-se como alguém sem passado, renega as escolhas que fez na vida e cobra a todo o tempo as escolhas de seu oponente na disputa eleitoral. Ela cobra de Olívio Dutra a decisão sobre a Ford e as escolhas na área da segurança pública. Quando é cobrada sobre suas próprias escolhas, faz de conta que não assumiu certos compromissos na vida. Compromissos que hoje são rejeitados pela imensa maioria do povo brasileiro, como é o caso da agenda das privatizações. É legítimo escolher este ou aquele candidato pelas idéias que defende, pela história que representa. O que não é legítimo é apresentar-se na disputa política como alguém sem passado e sem responsabilidade pelas escolhas que fez ao longo da vida. Ao longo do debate na RBS, ela cobrou de Olívio o que não admite ser cobrada: responsabilidade por suas escolhas. Ela reivindica o valor do dinheiro, dos automóveis e dos eucaliptos, mas rejeita o valor da história e da memória.

Todos nós cometemos erros e acertos na vida. Respondemos por ambos. Menos Yeda. Ela tem uma obsessão: esconder e renegar o seu passado. Apresentar-se como uma novidade. O que significa isso? O que representa alguém querer ocultar seu passado, pedir para as pessoas que olhem apenas para o futuro, dizer que a sua própria trajetória não deve ser levada em conta? Para além de um tipo peculiar de estelionato político e histórico, esse tipo de postura expõe um tipo de compromisso (ou falta de) com a vida. Não querer falar do passado, apresentar-se no presente como a portadora de um futuro sem história é uma das posturas mais autoritárias que a política pode conter. É autoritário, porque nega às pessoas o direito de conhecer a história de quem está se apresentando a elas como postulante de um cargo. Então é assim: eu chego um certo dia a uma cidade e digo: eu sou algo novo que vocês nunca viram antes, algo que vai revolucionar a vida de todos. Mas peraí, poderá dizer alguém, nós te conhecemos de longa data, sabemos o que você fez, que idéias defendeu, que causas abraçou. Por que tentar ocultar essa trajetória?

O passado, para Yeda, só existe quando se trata de tentar desqualificar seus adversários políticos. Estes têm passado, tem história, fizeram escolhas. Ela não. Caiu de pára-quedas no presente e desde então só fez o bem, não importa a quem. É uma das formas mais lamentáveis e constrangedoras de mistificação. É lamentável que seja assim. Não apenas para a qualidade do debate político, mas também para a própria candidata, que se apresenta assim como uma pessoa triste e sombria, como alguém que se apresenta como representante do novo, um novo sem memória e sem história, um novo sem face e sem identidade. Alguém cujo passado acaba soterrado por uma ambição descolada do presente do país e divorciada de qualquer idéia de futuro.

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