A Central Única dos Trabalhadores – CUT encerrou no domingo (24) sua 16ª Plenária Nacional nomeada João Felício e Kjeld Jacobsen, realizada por meio virtual. Com 950 delegados e delegadas inscritas, a etapa nacional foi precedida de assembleias sindicais, plenárias estaduais e da discussão nas entidades nacionais dos ramos da CUT.
A CUT Socialista e Democrática – CSD é uma das forças políticas que constroem a central, participou da elaboração do texto-base e apresentou um conjunto de emendas que foram aprovadas e serão incorporadas à resolução final, baseadas na sua contribuição aos debates da CUT.
A plenária, com o lema “unidos e organizados somos fortes”, buscou atualizar a estratégia da CUT, debater e deliberar sobre iniciativas de atualização do modelo de organização sindical e sobre o Plano de Lutas.
Defesa da vida
Em relação a estratégia da CUT surge com destaque um eixo de luta em defesa da vida, pautado não apenas pela emergência da pandemia, mas pela compreensão de que há “uma ofensiva do capitalismo que instrumentaliza economia, tecnologia, territórios e política para ampliar o controle e o domínio das elites detentoras do poder econômico sobre a vida dos povos”. A despeito de projeções ufanistas ou catastróficas, o trabalho tem centralidade na garantia da manutenção e reprodução da vida. Não apenas a partir do emprego e do salário, mas pela totalidade do trabalho, da energia e do cuidado que as pessoas necessitam ao longo de toda a sua vida. O conflito entre o capital e a vida ataca as relações, os processos e os trabalhos que sustentam a vida a cada dia, o chamado trabalho reprodutivo que, em sua maioria, está sob responsabilidade das mulheres.
Esse eixo estratégico se soma àqueles já aprovados no 13ª Congresso Nacional da CUT, realizado em 2019 em Praia Grande, quais sejam: a defesa dos direitos, da democracia e da soberania; a construção de alternativas convergentes com os interesses da classe trabalhadora; e atualização do projeto político-organizativo do movimento sindical CUTista.
Liberdade e autonomia para organizar e lutar
Atenta às transformações no mundo do trabalho e reagindo aos ataques aos direitos trabalhistas e à liberdade de organização sindical que se multiplicam desde o golpe de 2016, a CUT vem traçando uma estratégia de transformação em sindicatos e na própria central. O objetivo é ampliar a organização e a representação de trabalhadores e trabalhadoras e dar sustentabilidade às suas ferramentas de luta: os sindicatos.
Alcançar esse objetivo exige intervir sobre uma realidade de fragmentação da classe trabalhadora através das múltiplas formas de contratação e exploração da força de trabalho, a maior parte delas com menor, ou sem nenhuma proteção social. Corresponder às demandas dessa diversidade em meio à classe é o desafio de um sindicalismo sócio-político, apresentado e defendido pelo Secretário Geral da Confederação Sindical das Américas – CSA, Rafael Freire e expresso na capacidade do movimento sindical “estar junto nas principais lutas do povo, constituir alianças sociais importantes e com outros movimentos, compreender que independência sindical não é indiferença”.
A CUT tem experimentado isso na construção das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo desde 2015 e vem dando passos para acolher organicamente na central outras entidades além dos sindicatos, a exemplo das associações de caráter classista, conforme aprovado no 13º Congresso e agora, a partir da 16ª Plenária, as chamadas associação fraternas. A adesão e participação efetiva de ambos os tipos de organização na vida da CUT depende ainda de alterações estatutárias que precisam ser aprovadas no 14º CONCUT em 2023.
Em paralelo, permanece o desafio de transformar a estrutura sindical atualmente existente. O sindicato de uma única categoria profissional, criticado pela CUT, tende a ter cada vez menos força política e social e, por consequência, mais dificuldade para garantir sua sustentabilidade. É preciso menos sindicatos e mais sindicalizados, ou seja, sindicatos maiores, com mais força e representatividade dos trabalhadores de todo um ramo de atividade econômica, independente da categoria profissional e da forma de contratação. Essa é uma exigência política que não se subordina à mudanças legislativas, mas que deve se impor pela vontade, criatividade e força dos trabalhadores organizados.
Fora Bolsonaro e o programa neoliberal!
O Plano de lutas da CUT, aprovado na 16ª Plenária Nacional, tem como eixo condutor as lutas contra as políticas criminosas de destruição do Estado brasileiro e das políticas e instrumentos públicos de proteção social e promoção do desenvolvimento.
Não há futuro para o Brasil como nação soberana e justa sob o governo criminoso de Jair Bolsonaro, nem sob o seu programa de ataque à democracia, liquidação de direitos e subserviência internacional. Por isso a CUT reafirma a luta por Fora Bolsonaro e o compromisso com a plataforma da classe trabalhadora para as eleições de 2022 e aponta a convergência e a necessidade da candidatura presidencial de Lula para o país reencontrar um caminho de emancipação e transformação social e política.
Como batalhas mais urgentes, estão no horizonte da CUT a construção da mobilização do dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, destacando as consequências sociais da política econômica da austeridade e do negacionismo, que recaem pesadamente sobre a população negra, em especial as mulheres negras e a juventude.
Persistiremos também e venceremos a batalha contra a Reforma Administrativa (PEC 32) a partir da união entre os trabalhadores das três esferas de governo (municípios, estados e união) e também com o conjunto da classe e os movimentos populares, já que a proposta prejudica servidores públicos e aponta para privatização de serviços públicos essenciais à toda a população.
O país terminará o ano de 2021 colhendo os resultados de uma política econômica desastrosa: crescimento abaixo do esperado, desemprego e inflação recorde, salários defasados. O Brasil é melhor que o Bolsonaro. E todos que constroem esse país com seu trabalho sabem disso. Construímos a maior unidade possível na luta contra Bolsonaro e seu projeto neoliberal, expressa na Campanha Fora Bolsonaro e nas lutas de massa que realizamos desde maio deste ano. Ao mesmo tempo, damos sequência à Campanha Lula Livre, Brasil Livre por justiça, democracia e por uma transformação positiva na realidade brasileira.
Já temos as ferramentas: os sindicatos, a CUT e a unidade da classe trabalhadora e do campo democrático e popular. Estamos desafiados em 2022 a criar as condições para uma greve geral contra a política econômica, a carestia e o desemprego e para vencer a disputa de rumos que se coloca para o país em favor do povo brasileiro, com um projeto de democracia, soberania e justiça social.
Daniel Gaio e Milton Rezende são bancários, de Brasília; Janeslei Albuquerque é professora no Paraná e Rosana Fernandes é trabalhadora do ramo químico, em São Paulo. Todos eles são membros da Direção Executiva Nacional da CUT e da Coordenação Nacional da CSD.
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