Barrar o golpe de Estado e reorganizar o campo democrático e popular são as duas tarefas urgentes postas para as forças políticas e sociais progressistas que desejem impulsionar uma estratégia de aprofundamento das mudanças como resposta aos impasses do ciclo iniciado em 2003.
A realização dessas duas tarefas profundamente imbricadas entre si depende em grande medida do que acontecer na próxima sexta-feira, 18 de março.
Conjuntura pós o domingo 13
A direita mostrou nas mobilizações de domingo passado que está próxima do seu objetivo de bloquear o projeto democrático popular.
É verdade que grande parte da capacidade de mobilização se deve a uma conjunção espúria de órgãos da imprensa empresarial (canais de tevê, jornais e rádios) que passaram abertamente à condição de organizadores das mobilizações, com “movimentos cidadãos” brasileiros financiados por fundações norte-americanas da extrema direita e a oposição parlamentar golpista em estreita articulação com o “timing” definido pelos órgãos públicos – Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal – destinados a incendiar a fúria da opinião pública com vazamentos seletivos, “fases” de espetáculos para a mídia (como a “condução coercitiva” e as “prisões preventivas”) da Operação Lava Jato.
Tudo isso tem que ser objeto de denúncia e combate, mas apenas mostra quão avançadas estão as tropas da reação sobre as trincheiras em disputa contra o projeto democrático popular.
No domingo, 13, repetiram a ousadia que têm desde 2014 com capacidade de atrair o centro e radicalizar pela direita.
A convenção do PMDB, no sábado, foi uma expressão clara de que o inimigo chegou às portas do Palácio. O cálculo das principais lideranças desse partido está escancarado: querem saber se sua traição ao governo que integram será recompensada pelos golpistas, acolhendo-os à seletividade dos processos judiciais em curso e protegendo-os da execração na opinião pública.
Deixada à sua inércia, o desfecho dessa conspiração demorará o tempo necessário para realizar os entendimentos para a organização do novo bloco governante, que está em andamento, mas ainda com grandes conflitos entre setores golpistas.
Mas está fora de toda dúvida que a abertura do processo de impeachment e a prisão do Lula são as duas tarefas imediatas que se propuseram como impulso definitivo para esta fase final.
As possibilidades da sexta-feira 18
O atual cenário não é novidade na história brasileira. Qualquer leitura dos acontecimentos que em 1954 levaram à crise e ao suicídio do Getúlio e em 1964 ao golpe militar vitorioso contra Jango vai mostrar espantosas semelhanças. Um dos poucos fatores que “faltam” em 2016, já tem alguns dos sub-intelectuais do golpe atual, colunistas de jornais, convocando: os militares. Sabe-se que aqui e acolá, durante este segundo mandato da presidenta Dilma, setores politicamente reacionários das Forças Armadas têm se manifestado impunemente, sem sofrerem qualquer consequência por parte do governo.
Cabe às esquerdas evitar a repetição daqueles dois episódios trágicos para o povo brasileiro. Em 1954 o apoio majoritário a Getúlio somente se ativou com seu suicídio. Em 1964 a subestimação do inimigo levou à desarticulação da capacidade de resposta dos setores populares.
O domingo 13 mostrou grande capacidade do inimigo. Mas ainda não conta com o povão. Porém, sua força nas ruas combinada com a nossa desarticulação no cenário político lhes agrega ousadia e provoca apatia no povo pobre que é majoritário. Como em 1954 e 1964, contam com que não tenham resposta popular para concretizar seus objetivos.
O povo não esteve no dia 13. Mas estará na sexta-feira 18? Não se trata obviamente de um problema quantitativo. Nós não temos os recursos de mídia e articulação institucional para provocar eventos como domingo passado. Sobretudo, a política econômica em vigor fez o jogo do inimigo, desmoralizou e desmobilizou nossas bases sociais. Por isso mesmo a luta contra o golpe e por nova política econômica estão atreladas. Ambas devem ser mobilizadoras do combate necessário e da esperança também necessária.
Não serão Datafolha ou a Polícia Militar, com ou sem metodologias, que definirão ganhadores segundo o número de manifestantes.
A questão se definirá por dois indicadores: se centenas de milhares vão à rua na sexta-feira e qual será o “palanque” dessas manifestações. As centenas de milhares que vão às ruas em defesa da democracia e de uma nova economia precisam encontrar nos palanques e nelas mesmas a direção e a confiança para liquidar o golpismo e, ao mesmo tempo, reerguer um programa de transformações que supere os limites conciliadores que marcam os impasses atuais.
Sexta-feira 18 será em defesa da democracia e da ordem constitucional, combinada com mudanças na economia para unificar o amplo campo político que apoiou Dilma no segundo turno de 2014.
Essa força terá papel definidor sobre a possibilidade de constituir um novo governo que reate com suas origens programáticas e bases sociais, incluindo a presença destacada do Lula neste governo. Essa força definirá um novo movimento de massas democrático e popular que necessariamente implica na recomposição da esquerda brasileira. Esse duplo movimento definirá nossas possibilidades imediatas e futuras.
Sexta-feira 18 tem como desafio mobilizar com uma nova compactação do movimento de resistência ao golpe e por uma saída progressista da crise. A presença anunciada de Lula na mobilização de São Paulo é ingrediente fundamental dessa rearticulação. Quem acompanhará Lula nesse palanque? Quais setores? Que forças políticas e sociais? Com quais bandeiras? Recebendo que sinais vindos do governo da presidenta Dilma?
Em 1954 e em 1964 a principal ferramenta dos golpistas foi a desarticulação e os desencontros das direções da esquerda e setores progressistas. Fundamentava esse desastre histórico uma profunda ilusão no suposto caráter progressista da burguesia brasileira junto com uma profunda ilusão no suposto caráter democrático do Estado. Na sexta-feira,18 de março, temos que mostrar que aprendemos lições da história.
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