10 de fevereiro de 1980. Depois de mais de uma década de luta por liberdade e democracia, da resistência organizada pelos sindicalistas, pela juventude, pelas mulheres, pelos camponeses, pela Igreja progressista e tantos outros lutadores e lutadoras sociais, esses mesmos setores convergiam para uma mesma compreensão de que era o momento de construir um instrumento dos(as) trabalhadores(as) para organizar essa luta no período da redemocratização – afinal, ainda havia muito o que fazer.
ALESSANDRA TERRIBILI
Esse momento, essa convergência, essas lutas, essa vontade de olhar pro mundo com os olhos dos setores historicamente excluídos fez e faz do PT uma experiência ímpar na esquerda internacional. E é isso, ainda hoje, entre mais outros momentos, lutas e sonhos, que garante a atualidade do projeto do maior partido de esquerda da América Latina.
Hoje, o momento é muito outro. Enfrentamos uma década de neoliberalismo brabo, e nos pusemos a resistir. Vivenciamos a experiência de administrar cidades, pequenas e grandes, e construímos o modo petista de governar. Não sem contradições, afinal, por vezes, a experiência de governar e de disputar eleições mexeu com nosso caminho.
Depois de 13 anos – curioso, não? – o PT elegeu Lula para governar o Brasil. A campanha não foi como em 1989. O PT não era o mesmo, o Brasil também não. Dez anos de neoliberalismo tiveram duros impactos sobre ambos. E o nosso governo começou em meio a crises nossas, críticas nossas, receios e desconfianças. Nossos. Porque nós sabíamos da nossa vocação de construir mudança de verdade.
Cinco anos se passaram e nós nos orgulhamos do que o nosso governo tem pra mostrar. Sabemos das imperfeições, das disputas, das mil contradições. Sabemos que a política econômica não é a que queremos. Os meios de comunicação, nós os queremos democratizados. Não queríamos conosco os que, por ora, estão. Queremos democracia plena, democracia com participação. E tanto mais coisas, poderíamos fazer diferente. Mas não somos comentaristas da História. Fundamos o PT para fazer exatamente o oposto disso, foi pra ser protagonista.
Se formos falar de ações de governo, podemos dizer que Lula entregará ao Brasil um Brasil que o Brasil nunca tinha sido. A valorização do salário mínimo, a política internacional, o caminho que tomamos na direção de uma efetiva inversão de prioridades, o investimento público nas coisas que são públicas. Não é o suficiente. Mas muito caminhamos.
10 de fevereiro de 2009. O PT é mais que o Governo Lula, há que se lembrar. Nesses 29 anos, o partido cresceu muito. Em número de filiados(as), de administrações municipais, estaduais, em presença nos movimentos sociais. Não pode diminuir as suas bandeiras, e nem pode perder a capacidade de encantar as pessoas pela luta. Nossos percalços foram muitos, e alguns persistem. Às vezes, um ou outro deles afasta pessoas de nós. Cabe a nós a responsabilidade histórica de saber superar os percalços, saber manter os lutadores e lutadoras conosco, e apontar com convicção o outro mundo possível que queremos e estamos construindo. Ele não se faz só nos governos. Ele se faz na luta do dia-a-dia. É preciso tomar partido sempre… porque, afinal, ainda há muito mais por fazer.
Alessandra Terribili, vice-presidenta do PT São Paulo e integrante da Secretaria Nacional de Mulheres do PT.
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