Há 50 anos, na madrugada de 13 para 14 de janeiro de 1971, partia da Base Aérea do Galeão no Rio de Janeiro rumo a Santiago do Chile o Voo da Liberdade, levando 70 prisioneiros (as) políticos (as), que estavam nos centros de tortura da ditadura civil-militar, trocados pelo embaixador suíço, que foi capturado por um comando guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária – VPR, no dia 07 de dezembro de 1970. Eu, Ubiratan de Souza (Gregório nome de guerra na luta clandestina), jovem com 22 anos era um dos 70. Cabe aqui, o agradecimento eterno ao Comandante Carlos Lamarca e a todos e todas camaradas da VPR que participaram da operação do sequestro do embaixador, arriscando as suas vidas para a nossa libertação
Um pouco da história. Este já era o quarto sequestro de diplomatas, realizado pela guerrilha. A ditadura ganha tempo nas negociações e joga criminosamente com a vida do embaixador, negando várias exigências da guerrilha com a intenção clara de desgastar o comando guerrilheiro e ao mesmo tempo localizar seu esconderijo. A maioria da direção da VPR decide executar o embaixador, responsabilizando a ditadura pelo fracasso das conversações. Nestas circunstâncias, Carlos Lamarca se revela um grande estrategista político e humanista, usando da sua autoridade de comandante veta a decisão e continua as negociações, assegurando a troca dos 70 prisioneiros políticos. Foram 37 dias de negociação e finalmente o Voo da Liberdade decola no dia 13 de janeiro de 1971, chegando na madrugada do dia 14 em Santiago do Chile, governado pelo grande presidente socialista Salvador Allende, herói da América Latina na luta por democracia e socialismo.
O povo chileno nos recebeu com muito carinho e solidariedade. Tive a honra, juntamente com uma comissão de cinco representantes dos 70 exilados brasileiros, de ser recebido pelo Presidente Allende que nos abriu as portas do Chile e para a participação do rico processo democrático da via chilena para o socialismo. Vivemos uma experiência extraordinária, de organização e autogestão popular, gestão pública com participação da sociedade, que marcou nossas vidas para sempre na luta pela construção de uma sociedade radicalmente democrática, fraterna e socialista.
Por último, um registro histórico com fotos e vídeo, abaixo, com a chegada dos 70 guerrilheiros em Santiago de Chile na madrugada do dia 14 de janeiro de 1971. Este acervo é um trecho do documentário “Quando chegar o momento” (que pode ser visto aqui: vimeo.com/168554803) de Luiz Barreto Sanz, sobre a vida da companheira Dora (Maria Auxiliadora Barcelos). Os dois estavam entre os 70. O jovem de camisa escura, sem bigode, de óculos, fazendo uma saudação e segurando a bandeira chilena é Ubiratan de Souza (Gregório).
Meu abraço fraterno e carinhoso a todos (as) camaradas vivos do grupo dos 70. Aos que já se foram minha saudade e recordação. Como sempre nos reuníamos nas datas redondas, no Rio de Janeiro, fica o convite, para depois de vencermos a pandemia, comemoramos os 50 anos do Voo da Liberdade. .
Ousar Lutar. Ousar Vencer.
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