Confederação Sindical das Américas: sindicalismo sociopolítico para defender a classe trabalhadora e ampliar a democracia.

Inspirados e buscando honrar o legado de Pepe Mujica de cujo falecimento se teve notícia logo no início dos trabalhos do 5º Congresso, em quatro dias de discussões, relatos e balanços do período histórico, a classe trabalhadora de mais de vinte países esteve reunida na República Dominicana para organizar a resistência à barbárie do capitalismo neoliberal contra o trabalho na perspectiva de um sindicalismo internacionalista.
Centenas de militantes das Américas, Europa e África, reiteramos as palavras de Mujica sobre nossa tarefa de lutadores sociais: “O que seria deste mundo sem militantes? Como seria a condição humana se não houvesse militantes? Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e não se equivoquem. Não é isso. É que os militantes não vêm para buscar o seu, vêm entregar a alma por um punhado de sonhos”.
A ação sindical praticada pela CSA, uma confederação de militantes com alto grau de compromisso coletivo, busca sempre fazer o que define e formula em suas resoluções e planejamentos. Isso vai desde compor uma direção com representatividade a praticar a solidariedade com todos os povos e todas as entidades e movimentos que buscam seu apoio e intermediação nos conflitos que se multiplicam nas Américas e no mundo, como consequência do avanço da extrema direita sobre os direitos da classe trabalhadora e sobre suas organizações.
Os relatos apresentados por companheiras e companheiros presentes compõem um mosaico da imposição do caos e da violência física em muitos casos denunciados e em vários países, com dirigentes sindicais sendo presos por exercerem a tarefa determinada pelos seus estatutos e pelas leis que garantem a ação sindical, sindicalistas e suas famílias sendo expropriados de seus bens, tendo seus salários confiscados, atacados em seus meios de sobrevivência.
Estas garantias estão sendo revogadas e os casos de prisões arbitrárias e ações antissindicais se repetem em inúmeros lugares com variados graus de truculência e sempre a serviço dos interesses empresariais mais mesquinhos e anticivilizatórios. Como afirma o sociólogo Jessé de Souza, “O interesse da extrema direita é destruir todos os consensos civilizatórios que demoraram milênios para serem construídos”, pois afinal , “a confusão total da sociedade é benéfica para o lucro desmedido e sem controle, uma vez que impede qualquer defesa articulada”. (Jessé de Souza, “O pobre de direita”, pág. 51-52).
Diz-se que “a arte imita a vida”, mas diria que às vezes a arte antecipa realidades desse mundo como constatamos em filmes como o mexicano “El nuevo orden”, de Michel Franco, que nos apresenta o caos que antecede a imposição de uma nova ordem econômica, social, moral e política. Para se construir uma nova ordem antivilizatória, é necessário instaurar o caos e é isso que vários relatos durante o 5º congresso nos fizeram antever e nos alertaram.
É preocupante e nos defronta a tarefa que o sindicalismo de trabalhadores tem diante de si nesse período histórico, pois tem sido e será imensamente desafiador impedir o caos, construir e reconstruir direitos e fortalecer nossas entidades tendo uma extrema direita articulada internacionalmente, com dinheiro infinito e estruturas tecnológicas de manipulação e controle sem nenhuma regulação. Isso tudo nos exige redobrar o grau de compromisso e combatividade para intervir na realidade e superar esse período de obscurantismo e atraso social.
Tivemos também nesse 5º Congresso a eleição do Conselho Executivo e dos Comitês de trabalho da CSA, e é importante registrar que o compromisso de participação de mulheres e jovens foi cumprido com êxito, e mulheres foram a maioria entre os delegados e delegadas.
Foi gratificante acompanhar e participar do Congresso como delegada da CUT – Central Única dos Trabalhadores e Trabalhadoras, que elegeu nosso companheiro Rafael Freire, para seguir compondo a direção como Secretário Geral da Confederação Sindical das Américas. Importante registrar as reiteradas manifestações de reconhecimento do trabalho do conjunto da executiva da CSA, de sua presença efetiva nas lutas travadas pelos movimentos nesse período e pela capacidade de diálogo e solução de impasses vividos pela classe trabalhadora em todos os países das Américas.
Muitas companheiras e companheiros destacaram a capacidade de iniciativa do companheiro Rafael Freire no sentido de propor e encaminhar respostas sempre coletivas para os graves problemas que afligem as organizações sindicais e seus membros. Destacada por vários/as delegados e delegadas presentes sua grande disposição de ouvir, de escutar a todas e todos e sua capacidade de apontar caminhos, de indicar saídas, apontar futuro e construir esperança para a classe trabalhadora em seu conjunto, consolidaram a confiança em seu nome para essa recondução.
Testemunhar esse reconhecimento pelo trabalho realizado pela Confederação bem como as manifestações de respeito e confiança pelo nosso companheiro Rafael Freire no processo de sua eleição, renovam e fortalecem nossas esperanças para seguir lutando para tornar realidade os pressupostos e bandeiras que orientam a CSA para os próximos anos dessa gestão: 1) Defender a democracia e combater a extrema-direita; 2) Promover a integração regional e, 3) Fortalecer os sindicatos e ampliar a organização sindical dos trabalhadores.
Da nossa parte estaremos juntos e unificados em torno dessas bandeiras de luta que sintetizam a defesa do que construímos como classe trabalhadora no decorrer da história nos últimos séculos e décadas.
É o legado que recebemos de militantes como Pepe Mujica, que nunca se afastou da causa pela qual viveu e que lhe deu, a ele e sua companheira de todas as lutas Lucia Topolanski, sentido e significado a uma existência de luta em defesa da Justiça, da Igualdade, das liberdades democráticas dos nossos países e povos e em defesa da nossa integração e luta unitária por uma América Latina unida e soberana com uma visão internacionalista e integradora:
“Não quero nos chamar de América Latina porque não somos apenas descendentes de latinos: somos descendentes de negros, de povos indígenas, de asiáticos; somos descendentes de todos os pobres e perseguidos do mundo que vieram para a América sonhar com um futuro”. (Congresso da UNE, Julho de 2023)
A CSA nos representa e enseja a construção coletiva de um futuro de igualdade, solidariedade, com democracia, integração regional, com sindicatos fortes e trabalho decente, com justiça climática e transição justa, com uma classe trabalhadora respeitada, valorizada, sem miséria, sem violência, num processo civilizatório humanizador que torne possível um mundo para todas e todos.
Janeslei Aparecida Albuquerque é Secretaria Adjunta de Relação com os Movimentos Sociais da CUT – Brasil