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As teses que conduziram à revolução proletária

Em 03 de abril de 1917, Lenin havia voltado a Petrogrado depois de um longo período de exílio.

Em 6 de março, ainda desde seu exílio em Zurich, Suíça, Lenin tinha enviado este telegrama a seus companheiros que como ele voltavam à Rússia:

“Nossa tática: absoluta desconfiança, nenhum apoio novo governo, suspeitemos sobretudo Kerenski, armamento proletariado única garantia, eleição imediata Duma de Petrogrado, nenhuma aproximação de outros partidos. Telegrafar isto Petrogrado”

Sua volta reforçou as críticas ao Governo Provisório que se mantinha reticente e distante das demandas que haviam provocado o processo revolucionário.

No dia seguinte de sua chegada leu o texto que ficou para a história com o título de “Teses de Abril”, onde alem de afirmar a posição pela paz sem condições, afirmava que “A peculiaridade do momento atual na Rússia consiste na transição da primeira etapa da revolução, que deu o poder à burguesia por faltar ao proletariado o grau necessário de consciência e organização, para a sua segunda etapa, que deve colocar o poder nas mãos do proletariado e das camadas pobres do campesinato.”

Na volta de Lenin, “todo poder aos sovietes”  foi a palavra de ordem capaz de sintetizar a crítica ao Governo Provisório ao mesmo tempo que reivindicava o poder para a classe trabalhadora.  Lenin teve que lutar primeiro no interior do seu partido para conquistá-lo para essa estratégia, que inicialmente era negada pela maioria dos seus camaradas.

A tentativa fracassada de retomar a unidade do exército por meio da figura do general Kornilóv, em setembro de 1917, foi também o que impulsionou uma aliança mais próxima entre soldados e classe trabalhadora. Esses guardas vermelhos sentaram praça na proteção do Instituto Smolny, um convento que foi ocupado pelos revolucionários e era o lugar de muitas reuniões e plenárias. Desde então, as ruas passam a sediar também reuniões e assembléias e o futuro político da Rússia passou a ser escrito pelo seu próprio povo, pela própria classe trabalhadora.

De setembro a outubro de 1917, o partido bolchevique se concentrou em operar a palavra de ordem — Todo o poder aos sovietes. Sonharam e formularam a insurreição que podia por fim ao Governo Provisório e dar passo a um governo da classe trabalhadora.

Na manhã de 25 de outubro de 1917, a multidão tomou o Palácio de Inverno. O Governo Provisório chegou ao fim e Kerenski abandonou Petrogrado.

NOSSO LENIN – POR CARLOS HENRIQUE ÁRABE

A relação da DS com o leninismo é resultado da confluência de três vetores históricos. O primeiro é a construção de um núcleo de marxistas em torno ao jornal Em Tempo, claramente inspirada na ideia do “jornal para toda a Rússia” como catalisador de núcleos revolucionários dispersos, apresentada no Que Fazer?. O núcleo em torno ao Em Tempo, assim como na experiência russa, nunca se propôs a ser “o partido”, mas a participar ativamente da construção de um partido revolucionário.

O segundo é a compreensão do leninismo sob uma ótica anti-estalinista e com forte influência de Trotsky, mas não dos trotskismos, que considerávamos em geral doutrinários e, por vezes, seitas. Nesse sentido, o contato com a IV Internacional dirigida por Mandel e Bensaïd, no seu momento de maior abertura para debater com não-trotskistas, foi fonte de conhecimento e criação teórica.

O terceiro é a construção do Partido dos Trabalhadores que nos colocou desde cedo o desafio de pensar em uma dupla construção: a do partido e a de uma corrente marxista-revolucionária no seu interior. Enquanto diversas correntes desapareceram ou por diluição no PT ou por negação do PT, a Democracia Socialista constituiu-se na maior e principal corrente marxista no interior do PT. Esse crescimento baseou-se na defesa do PT como partido “mesmo”, com um caráter simultâneo de vanguarda e de massas.

Assim, “nosso” leninismo rejeitou as características a-históricas e de pensamento único que moldaram o modelo de construção de partido da III Internacional depois do seu V Congresso (ou seja, desde que esta caiu sob o domínio de Stalin).

“Vida longa à Revolução Socialista!”

As condições históricas concretas sempre foram fundamentais para definir caminhos de construção de partidos revolucionários. A experiência soviética, a maior e mais influente de todas, não deveria ser vista, portanto, como caminho único. As experiências chinesa e cubana, por exemplo, ilustravam outros caminhos. A brasileira deveria ser decifrada.

A democracia interna, vigente nos momentos de auge do leninismo sob Lenin e que foi completamente decisiva para construir um partido revolucionário de massas na Rússia, sempre foi um elemento fundamental. Assim compreendíamos e por isso lutamos pela máxima democracia partidária – inclusive com direito de fração – e pela firme unidade de combate do partido.

Outro aspecto que consideramos ao longo da nossa experiência leninista – e com forte influência dos debates travados no instituto de formação da IV Internacional, em Amsterdam – é a compreensão do programa e da estratégia de conquista do poder como definições sujeitas à prova da luta de classes. Nessa concepção, o programa expressa a consciência marxista-revolucionária para uma época histórica e, nesse sentido, o fundamental é sua orientação geral. Sua construção é contínua. A estratégia requer processos aproximativos, comporta maior margem de correções. A idéia da revolução permanente é a expressão do marxismo-revolucionário para os tempos atuais, juntando programa e estratégia.

O internacionalismo é parte essencial do leninismo como o compreendemos. Sem essa dimensão, a revolução socialista na Russia – sem bases materiais nacionais para passar de um capitalismo recém iniciado ao socialismo – seria pura inconsequência. Para Lenin não poderia haver uma revolução antes da hora, precoce. Assim, a revolução começaria na Russia e continuaria na Europa.

O feminismo compõe nossa identidade revolucionária para além das tradições leninistas e trotskystas. A igualdade de gênero faz parte da luta pela igualdade social. Não deve ser promessa, tem que estar presente na organização que luta pelo futuro socialista.

Para ler mais:
Democracia Socialista, A construção do PT como partido revolucionário. I Conferência Nacional, 1988
Lenin, Que fazer?
Trotsky, História da Revolução Russa

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