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Polícia russa prende sociólogo Boris Kagarlitsky

Os serviços de segurança abriram uma investigação contra o cientista político que tem sido uma voz crítica das políticas de Putin, sob a acusação de “incitamento ao terrorismo na internet”.

Foto: Divulgação Facebook

A informação sobre a acusação a Boris Kagarlistky foi dada pela agência Tass, citando o advogado do sociólogo e cientista político. Sergei Erokhov confirmou que o serviço de segurança russo (FSB) acusa Kagarlistky de incitamento ao terrorismo através da internet, um crime cuja pena prevista pode ir até aos sete anos de prisão.

Erokhov diz que o sociólogo marxista nega as acusações e diz que “nunca apoiou ou justificou o terrorismo” nas suas publicações. “O objetivo de todas as suas intervenções públicas é o de mostrar os verdadeiros problemas que o estado russo enfrenta”, afirmou o advogado, segundo o qual o motivo da acusação é uma publicação na rede Telegram acerca das consequências militares da explosão da ponte da Crimeia em outubro do ano passado.

Kagarlitsky está preso preventivamente e deverá ser ouvido esta quinta-feira no tribunal de Syktyvkar, a capital da república de Komi, no norte do país.

Boris Kagarlitsky é uma figura conhecida da esquerda russa. Nascido em 1958, foi um dissidente do regime soviético e em 1980 foi expulso do Instituto de Artes Teatrais onde estudava. Nessa altura dinamizava publicações da oposição de esquerda ao regime e foi preso em 1982 por “atividades anti-soviéticas”, sendo libertado no ano seguinte. Regressou ao instituto em 1988 após a subida de Gorbachev ao poder e dois anos depois foi eleito para o soviete da cidade de Moscovo, liderando o Partido Socialista. Em 1992 fundou o Partido do Trabalho e no ano seguinte voltou a ser preso, desta vez às ordens de Boris Ieltsin, cuja nova Constituição aboliu o soviete de Moscovo.

Nos anos seguintes prosseguiu a carreira académica, ensinando Ciência Política na Universidade de Moscovo e noutras instituições, sendo investigador principal num instituto da Academia Russa das Ciências dedicado aos movimentos laborais. Atualmente dirige o Instituto de Estudos da Globalização e Movimentos Sociais, que foi declarado “agente estrangeiro” Em 2018, o próprio Kagarlistky foi classificado pelo governo de Putin como “agente estrangeiro” ao abrigo da lei que classifica dessa forma instituições e autores cujos projetos  recebam financiamento a partir do exterior, neste caso a Fundação Rosa Luxemburgo com sede na Alemanha.

Em 2021, Kagarlitsky voltou a ser preso durante dez dias, desta vez por ter apelado à participação nos protestos contra a fraude eleitoral nas legislativas. Anos antes, na sequência dos protestos da praça Maidan e da formação das repúblicas separatistas no Donbass, Kagarlitsky sofreu duras críticas por parte da esquerda ucraniana, acusando-o de inflamar o conflito a apelar ao ódio e à guerra contra o “governo oligarca” da Ucrânia no seu diário online Rabkor. Mais tarde mudou de posição e opôs-se à intervenção militar da Rússia na Ucrânia muito antes da invasão de fevereiro de 2022. Agora, o Movimento Socialista Russo (RSD) solidariza-se com o sociólogo e diz que “podemos discordar o quanto quisermos das suas declarações e conclusões feitas em períodos distintos da sua atividade pública, mas resolveremos essas contradições num debate franco e aberto quando Boris estiver em liberdade”.

A investigação a Kagarlitsky levou a buscas no seu jornal online, mas também à detenção do ativista e psicólogo Alexander Archagov, também autor no Rabkor, em Moscovo, anunciou a sua advogada Yulia Kuznetsova. Archagov também já tinha sido preso durante dez dias em 2019 por ter participado num comício a favor dos candidatos independentes à eleição na capital russa.

As casas da socióloga Anna Ochkina na cidade de Penza e do gestor de redes sociais do Rabkor, Alexander Archagov, em Moscovo, foram também alvo de buscas da polícia russa.

Via Esquerda.net

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