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Água! Pra que te quero?

A demanda crescente por água tem se notabilizado fortemente nas experiências mais recentes e vivenciadas pela sociedade. Tanto o modelo de consumo, como a matriz geradora do modelo de produção conseguiram dar cabo e acelerar o esgotamento hídrico em várias regiões do planeta.

É possível imaginar que o comportamento que se fortalece ao longo do tempo em relação à consciência que as pessoas têm da importância da água, como um elemento fundamental para sanidade humana, estivesse diretamente atrelado aos interesses do capital que se movimenta atrás das águas e numa aposta manipuladora de mentes visando tão somente a imbecialização das pessoas. Nessa perspectiva a Monsanto faz ensaios surpreendentes. Em rede televisiva mandou um recado para milhares de pessoas usando a figura amada de Louis Armstrong e a sua obra prima What a Wonderful World (Que Mundo Maravilhoso).

O cenário que se desenrola na atualidade é permeado de sinais claros de um pesadelo coletivo. Está na pauta do dia da agenda de vários governos o aquecimento global, as alterações ou mudanças climáticas. Os profetas da chuva, ainda em voga, continuam rolando suas pedrinhas no tabuleiro das incertezas e exercitam uma leitura que mescla esforços e saberes distinto. Por exemplo, o circulo e a dança indígena para fazer chover, pedras de sal e a barra vermelha no horizonte. O espírito em clara viagem ao céu. No nosso caso o céu do semi árido bem mais desafiador.

Num contexto urbano forjado de espertezas a figura real e ameaçadora do senhor Desinfeta um sobrevivente da classe média, proprietário de um apartamento num condomínio onde vivem advogados e engenheiros. Queixoso de sua profissão de biólogo resolveu instalar no subsolo de seu condomínio, uma fabrica de desinfetante tendo a principal matéria prima – a água – garantida para seu sucesso. Tem sido assim anos e anos. Dessa forma beneficiado pela cumplicidade e o medo dos demais que só contestam nas suas costas e são incapazes de denunciarem tal crime. Tem mais! O senhor Desinfeta concorre as eleições para sindico do prédio utilizando-se de um golpe sórdido. Um voto por um desinfetante.

Considerando a indiferença dos condôminos quanto ao destino da água, a mesma água que lhes garante asseio, cozinhar e beber. É lamentável o nível de consciência das pessoas. Por isso a temática do reuso da água é intrigante, porém um tema de grande importância, pois passa a ser uma atividade mais abrangente que é o uso racional ou eficiente da água, o controle de perdas e desperdícios, e a minimização da produção de efluentes e do consumo de água. No reuso de água a redução da demanda sobre os mananciais se dar devido à substituição da água potável por uma água de qualidade inferior que atenderá a fins específicos.

A cidade de Fortaleza tem um desenho hídrico quase num formato de cinturão de águas. Uma população de 3.517.275 habitantes. Milhares de domicílios, ligados ou não a rede coletora, com uma capacidade extraordinária de águas residuárias consideradas descartadas. Enquanto a renuncia da responsabilidade ambiental contribui para que essa água descartada tenha serventia de alimentar e poluir pântanos, sítios de lama e aumentar o flagelo nas áreas de risco que proliferam nas cidades de crescente população.

Tratar desse tema é cuidar das garantias de uma cidade sustentável, é provocar estranheza naqueles (as) que tem práticas semelhantes ao senhor Desinfeta. Reeducá-los (as) juntamente com os princípios da justiça ambiental. É não se contentar apenas com alguma atividade já existente de reuso da água com fins agrícolas, em certas regiões do Brasil, ainda exercida de maneira informal e sem as salvaguardas ambientais e de saúde publica adequadas. É necessário mais do que nunca que se avance nos ambientes rural e urbano com viés na institucionalidade, na regulamentação e promoção do setor através da criação de estruturas de gestão, preparação de legislação, disseminação de informação, desenvolvimento de tecnologias compatíveis com as nossas condições técnicas, cultural e sócio econômicas. É um longo caminho que precisamos trilhar. E devemos começar pelo local, pela nossa cidade. Águas para vida!

Historiadora, especialista em políticas e planejamento educacional.Ambientalista e diretora da Companhia de Transporte Coletivo de Fortaleza. Membro Diretório Estadual e da Secretaria Nacional Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT.

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