“Comandante, comandante.” Ele parou. “Soy doctor Rosinha, diputado por el PT”, continuei. A roda de seguranças que o cercava se abriu, e ele me convidou a se aproximar.
Cumprimentei-o e tentei um diálogo. Foi impossível, pois ao abrir a roda outras pessoas se aproximaram para cumprimentá-lo ou tirar fotos ao seu lado. Era janeiro de 2003, na posse de Lula, em Brasília.
DR. ROSINHA
Para mim, ficou a imagem de um homem simpático e atencioso. Mas Fidel vai além da simpatia pessoal. É um homem carismático, com grande liderança, e que contribuiu para a alteração do curso da história, não só cubana, mas do mundo.
Fidel marcou e influenciou ideologicamente muitas gerações e angariou seguidores em todo o mundo.
Independentemente da ideologia de cada um, é impossível não reconhecer que Fidel Castro marcou um período importante na história, principalmente da América Latina. Fidel desafiou interesses poderosos, e construiu a perspectiva de um mundo melhor.
Sem a tarefa completa (construir um mundo melhor) —até porque se trata de uma tarefa de muitos homens e mulheres—, Fidel sai do governo quando em todo o mundo e principalmente na América do Sul o capitalismo em seu atual modelo (o neoliberalismo) é questionado, com a eleição de presidentes comprometidos com mudanças.
As mudanças implementadas nos últimos anos por tais governos vêm gerando maior capacidade de integração da América Latina. Esse avanço integracionista, tarefa também de Fidel, dá a Cuba melhores condições de inserção no continente.
Como diz Brecht, Fidel é daqueles homens imprescindíveis, e essa categoria de homem sabe qual é o seu tempo. No seu tempo, sai do governo num método de transição política calmo, no qual os princípios de seu governo são mantidos.
E sai de uma maneira em que provavelmente os únicos derrotados são os Estados Unidos, que queriam tirá-lo do governo através de golpes ou da sua própria morte.
Como há tempo para tudo, agora, no seu tempo, Fidel sai do governo e continua influenciando a história. E, como há tempo para tudo, não chegou ainda o tempo para um diálogo meu com Fidel.
Dr. Rosinha, deputado federal (PT-PR) e vice-presidente do Parlamento do Mercosul
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