Um senhor idoso, manquitolando de uma perna, disse que tinha caído de uma montaria, levantou-se com dificuldades e foi logo falando: “Moço, já fiz tudo isso a cavalo”

Num passado recente, para saber como se chegava ao centro de uma cidade, bairro ou rua, se perguntava, e sempre tinha alguém que sabia por qual rua seguir ou em qual ônibus embarcar.
Outro jeito era, antes de sair de casa, consultar as páginas amarelinhas. Hoje os jovens sequer sabem o que era isso – talvez sejam encontradas em arquivos de bibliotecas, museus ou na casa das pessoas que gostam de guardar o passado. Caso não tivesse, era só encostar no balcão de qualquer loja ou bar e pedir:
– Por favor, me empreste as páginas amarelas.
Éramos todos analógicos.
Ao sair para viajar a prática era a mesma, buscar informação com quem sabia. Se longa, ter que trafegar por muitas estradas, o auxiliar era o Mapa Rodoviário, a Revista 4 Rodas e placas, quando estas existiam.
Em uma viagem da Serra da Capivara (PI) para o Vale do Jequitinhonha (MG) seguíamos a orientação do GPS que nos enveredou por uma estrada de chão, cheia de buracos, leiras de areia, curvas e muita poeira. De tempos em tempos apareciam placas indicando outras vias com o recado, “não siga o GPS”, ou seja, não entrar ali. Restava rir.
No sertão da Bahia, perdidos, avistamos uma casa, distante uns 50 metros da estrada, e paramos. Naquela manhã de sol quente, toda a família estava sentada na varanda. Fomos bem recebidos e logo em seguida convidados para almoçar.
Agradecemos e perguntamos o que queríamos saber. Um senhor idoso, manquitolando de uma perna, disse que tinha caído de uma montaria, levantou-se com dificuldades e foi logo falando:
– Moço, já fiz tudo isso a cavalo. Gesticulando indicou o caminho a seguir e onde parar para buscar novas orientações. Só faltou dar o nome das pessoas a quem deveríamos perguntar.
Desligamos o GPS.
Na última viagem tentamos usar pouco o Waze e GPS, e confiar mais nas placas. Erramos, o que nos custou percorrer 140 quilômetros a mais. Mas a correção de rumo foi feita numa conversa em um posto de gasolina.
– Por esta estrada – indicou com o braço estendido – chegará onde você quer (Uberaba), é mais curta e mais perigosa, vai demorar mais, então vale a pena voltar 60 quilômetros.
Fazendo a volta constatamos que eram 70.
A viagem era de Brasília para Curitiba, mas naquele momento o objetivo era chegar a Uberaba para visitar o Museu. A tentação de fazer tal visita era alimentada há mais de um ano e foi despertada pelas placas convidativas na rodovia: “Visite o Museu dos Dinossauros” com a indicação do rumo.
Na entrada do Museu há uma placa “O Complexo Cultural e Científico de Peirópolis (CCCP) da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) é a sede da Paleontologia em Uberaba…”.
Como minha cabeça ainda não está suficientemente higienizada, antes de ler a frase toda meus olhos caíram sobre o CCCP e então li: União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e imediatamente também me lembrei de uma piada ou brincadeira do passado. Na camisa vermelha da seleção de futebol da URSS vinha o CCCP, que na gozação era traduzida por Camaradas Cuidado Com o Pelé.
O museu é novo e rico. São duas salas, uma delas a antiga estação de trem de Peirópolis, estava fechada para reforma. Por fora, na parede atrás da estação há uma placa semelhante a um quadro de sala de aula que indica o destino dos trens: PARA BAIXO e ao lado escrito PARA CIMA. Imaginei que antigamente, embaixo de cada uma das frases, com giz se escreviam os horários.
Esta indicação, opino, só era útil para o pessoal do lugar, pois, para quem não era, não seria fácil saber quais cidades estão acima e as que estão abaixo, até porque constatei que ali o terreno é plano e cercado apenas por pequenas colinas.
A primeira curiosidade foi saber a origem do nome. O que me foi dito no local não me satisfez, me rendi e fui buscar na internet. Peirópolis assim se chama porque ali no início do século passado o senhor Frederico Peiró iniciou a extração de calcário na localidade. De Peiró, Peirópolis.
Na entrada do museu três vira-latas dormiam no meio de cerca de 40 crianças sentadas no chão que ouviam um professor ou guia expondo sobre o acervo. Eram de uma escola pública que está – busquei a informação – a 300 quilômetros dali.
– Antes da fundação do museu, em 1992, as peças eram levadas para o Museu Nacional do Rio de Janeiro. – Ele não disse se voltaram.
Falou sobre vários fósseis, a evolução dos espécimes e que na região foi identificado um dinossauro que ganhou o nome de titanossauro, que era ovíparo e do qual há um ovo exposto.
Como as crianças ouvi a palestra ou aula, até o fim e saí em busca do ovo do titanossauro. Surpresa: é menor que o de avestruz.
Dr. Rosinha é Médico, ex-deputado federal, funcionário do Ministério da Saúde.
Via Jornal Plural.