* Por Liliane Oliveira
Atravessamos um processo de intensa mobilização e lutas estudantis no seio das universidades brasileiras. Há quase um mês, professores, servidores e estudantes, estão realizando diversas assembleias e atos convergindo para mais investimento e melhores condições de ensino. A pauta estudantil traz cada vez mais questões relacionadas à Assistência Estudantil e um novo paradigma de universidade.
Diferente da época de FHC e da agenda neoliberal, hoje a greve da educação está alicerçada no maior empoderamento de novos atores sociais e demandas há muito negligenciadas. Isso é possível graças a uma presença cada vez maior da classe trabalhadora, de estudantes oriundos de escolas públicas, de mais mulheres ocupando as cadeiras da universidade e de uma mudança significativa na orientação política do governo federal, já que no último período tivemos recordes do orçamento do MEC, construção de novas IFES em cidades do interior do país e consolidação das políticas de ações afirmativas nas universidades. Parte expressiva dessas mudanças se deram com as mobilizações, debates e manifestações públicas que tendem a organizar pessoas para alcançar mais vitórias. Nos dois últimos governos lutamos por reforma política, construção de universidades, democracia interna e mais recursos para educação. Nesse sentido, a UNE continua organizada e enfrentando os setores conservadores detentores do poder econômico brasileiro.
Esse estado de mobilização, além das pautas nacionais em defesa de 10% do PIB e 50% do Fundo Social do Pré-Sal para educação, tem cada vez mais questões locais no centro das reivindicações estudantis. Na UFBA, assim como em outras federais, a pauta tem como centro o maior investimento e priorização dos recursos para atender a demanda da Assistência Estudantil, maior controle e acompanhamento das novas instalações e obras, maior democracia interna – com paridade entre os três setores na ocupação dos órgãos deliberativos e eleição para Reitoria –, orçamento universitário participativo e a construção de um modelo de educação que seja verdadeiramente democrática e popular.
Há muito a ser feito no Brasil. O Governo Lula, e mais recentemente o governo Dilma foram eleitos pelas classes populares. Obviamente, há um dialogo aperfeiçoado com os trabalhadores. Contudo, é nosso papel conter e combater qualquer imobilismo do movimento social. Nascemos das mobilizações e greves. Nesses movimentos e contra o capital construiremos um Brasil para o povo. Estamos em greve tensionando o governo para a esquerda em aliança com tantas outras organizações e movimentos sociais para alcançarmos vitórias coletivas. Apresentamos uma pauta reivindicatória que aprofunda as transformações iniciadas há alguns anos e a nova conjuntura nos impõe novos desafios. O debate dessa greve não gira em torno da negação do REUNI, como alguns apostam, mas sim em como construímos um novo paradigma para a educação superior e que as IFES cumpram sua função social e transformadora.
Como já disse Che: A universidade deve ser flexível pintar-se de negro, de mulato, de operário, de camponês ou ficar sem portas, e o povo a arrebentará e pintará a Universidade com as cores que melhor lhe pareça.
*Liliane Oliveira é Diretora de Mulheres da UNE, militante do Coletivo Kizomba e Marcha Mundial das Mulheres.
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