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A contradição fundacional do PSOL e as eleições municipais de Belém

A contradição fundacional do PSOL e as eleições municipais de BelémPor Tiago Ventura *

Com o resultado final das eleições, chega o momento de iniciar avaliações e prever possíveis consequências para o quadro político-partidário do País. Esta análise tem como objetivo principal refletir sobre alguns dos desafios que se materializaram nesta eleição, para a esquerda brasileira, com foco, sobretudo,  na experiência da candidatura do  PSOL na cidade de Belém.

O PSOL nasceu de setores descontentes que decidiram romper com o Partido dos Trabalhadores a partir da sua chegada à Presidência da República e, desde sua fundação, optou por ser oposição ao governo petista. Seu marco fundacional é ingressar no cenário nacional como alternativa ao bloco histórico da esquerda, constituído a partir da redemocratização, onde estão PT, PSB, PDT e PCdoB.

Em Belém se concentraram as principais expectativas e esforços deste partido para alcançar a vitória em uma capital, em 2012. O candidato do PSOL era o deputado estadual Edmilson Rodrigues, ex-prefeito de Belém pelo PT e detentor de forte popularidade por conta dos seus mandatos à frente da cidade.

No primeiro turno, Edmilson consolidou-se como principal representante da esquerda paraense. Aliou uma forte rejeição à atual administração de Belém, uma memória positiva de sua passagem pela prefeitura, o peso histórico da esquerda na capital e a fragilidade da candidatura petista.

A candidatura do PT se mostrou extremamente limitada desde a formação das chapas – quando não foi capaz de atrair nenhum dos seus aliados tradicionais –  até o resultado final da eleição, onde alcançou somente 3,06% dos votos.  A opção de setores da direção do partido – vitoriosos no processo de eleição interna – em submeter a decisão de 2012 aos objetivos de pavimentar a aliança com o PMDB para 2014, resultou em uma candidatura frágil, com poucas condições de crescer eleitoralmente e alcançar o segundo turno,  abrindo espaço para o crescimento do PSOL .

O resultado manteve o PSOL dentro de suas expectativas: sagrou-se vitorioso no primeiro turno com 32,5%. Enfrentaria o candidato do PSDB, Zenaldo Coutinho que, estando muito além das expectativas, ao alcançar 30,6% dos votos.

A campanha tucana iniciou o segundo turno de forma avassaladora. Seu discurso tinha como pilar a união com o governo estadual. A candidatura do PSOL, que naquele momento se mostrava sem aliados no pleito, acabou tendo que explicar seu isolamento aos eleitores.  As primeiras semanas do segundo turno foram marcadas pela incapacidade de Edmilson em responder à campanha tucana e pela consolidação de Zenaldo na liderança das pesquisas.

Aproximação com o PT

O único caminho para Edmilson reverter este cenário, seria colocar no centro da estratégia de campanha o apoio recebido pelo PT no segundo turno. O apoio do PT poderia simbolizar para a população a possibilidade de que Edmilson colocaria Belém no rumo do desenvolvimento e dos avanços sociais em curso no país.

Percebendo a necessidade de sair do isolamento para reverter o quadro eleitoral, a propaganda do candidato recebeu doses nada homeopáticas de petismo, que incluíam inserções de Lula e Dilma no programa eleitoral e a apresentação positiva de ações do governo federal em Belém.

A mudança da campanha de Edmilson foi responsável por um crescimento surpreendente na reta final. Apesar de não ser o suficiente para a vitória, o alinhamento do PSOL ao restante da esquerda no país e a utilização da experiência federal, da imagem de Lula e de Dilma, elevou o tom da campanha, animou a militância e fez muitos acharem que estaria em curso uma virada eleitoral. As defecções resultantes deste giro eleitoral – saída do PSTU e da CST/PSOL da campanha – em pouco alteraram o crescimento da candidatura na última semana. Serviram mais como munição para a direita utilizar nos debates eleitorais.

A virada seria possível se a opção de romper a trajetória fundacional do PSOL e encarar de frente a polarização esquerda-direita – atualmente em curso no país – fosse a tônica inicial do segundo turno. Infelizmente, quando finalmente optou por trilhar este caminho, a vantagem eleitoral tucana já estava concretizada.

Em síntese, para se consagrar vitorioso eleitoralmente, o PSOL precisou se afastar dos condicionantes que moldaram seu processo de fundação. Quando cumpriu a risca sua base fundacional, o partido se isolou do restante da esquerda brasileira, trazendo para si um papel de coadjuvante na luta política do país.

Os maiores exemplos são  as opções de Fortaleza, Salvador e São Paulo. Ao contrário da maturidade demonstrada pelo PT de Belém, ao não titubear em declarar apoio a Edmilson, as decisões sectárias de convocar o voto nulo nessas cidades mostra todo o obscurantismo que ainda cerca o PSOL, expondo sua opção por colocar a construção do partido acima da possibilidade de intervir, de forma concreta, na mudança do padrão de vida do povo brasileiro e de fortalecer a esquerda, em enfrentamento a setores conservadoras e reacionários do País, como os Ferreira Gomes, a família Magalhães e José Serra.

A eleição de Belém é o símbolo da contradição entre sua trajetória sectária e a busca pela ampliação do seu protagonismo político, mostrando que a polarização em curso no país, se sobrepõe ao cerne fundacional do PSOL e exige dele a necessidade de se reaproximar da esquerda brasileira.

A eleição em Macapá, na qual o PSOL saiu vitorioso, exibe sinais parecidos com os de Belém. Com a ressalva de que, neste caso, o PSOL chegou até a receber apoios de setores tradicionais da direita para alcançar uma apertada vitória eleitoral. Vale destacar uma preocupação com a possibilidade da trajetória sectária do PSOL o aproximar de setores da direita, que comunguem dos mesmos objetivos de derrotar a experiência de esquerda em curso no país.

O PSOL pode, e espero que assim o faça, se tornar um partido cada vez mais relevante a nível nacional, capaz de construir mandatos responsáveis e progressistas e se consagrar vitorioso em cidades relevantes, concebendo experiências de gestão local inovadoras. No entanto, as eleições de 2012, em especial o caso de Belém, mostram que isso depende, de forma decisiva, de sua reaproximação com o restante da esquerda brasileira, rompendo os fundamentos que o amarram desde sua fundação.

* Tiago Ventura é mestrando em ciência política no IESP/UERJ e ex-vice-presidente da UNE.

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