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A elite e a moda do racismo | Tamara Terso

Festa Casa Grande&Senzala de Donata Meirelles, da Vogue.

A diretora de estilo da revista de moda Vogue, na semana passada, protagonizou mais um capítulo dos 50 tons de racismo da elite brasileira ávida por subserviência, bajulação e luxo, fruto da exploração material e simbólica de negras, negros e indígenas. A festa Casa Grande&Senzala de Donata Meirelles não nos deixa esquecer o racismo da Vogue, conhecido de longa data pelos seus famosos bailes de carnaval.

O racismo pós-industrial, na era das revoluções tecnológicas faz servil os corpos negros em muitas dimensões: a tentativa de escravização de mentes com o reforço dos estereótipos, o esvaziamento das identidades, modelos de democracia racial e uma reprodução de valores em conexões de alta velocidade com pequenas doses sutis de opressão. A socialite esposa de Nizan Guanaes, um dos homens mais influentes (segundo a Forbes) e dono de um dos maiores conglomerados de comunicação da América Latina, o grupo ABC, lucra com o racismo porque o institucionaliza no movimento de naturalização de mitos barthesianos em seus empreendimentos, por exemplo, na agência África ou na sua festa de aniversário de 50 anos com mucamas e tronos de sinhás, em pleno o sec.XXI.

Por mais que a senhora #doshow50 tenha feito retratação citando o samba, dito que tudo não passou de uma homenagem ao candomblé sua história mostra o contrário. Se a homenagem era ao candomblé o racismo ganhou contornos de intolerância, afinal de contas candomblé não é bagunça e indumentárias religiosas não são fantasias de festa. Quem aqui já viu festa de aniversário com fantasia de Papa, Cardeal ou Jesus Cristo? Hóstia sendo distribuída em cerimonial de jantar? Caso isso acontecesse seria encarado como pecado. Como as religiões de matriz africana não reconhecem esta categoria, no caso da festa dos Meirelles/Guanaes toda essa lambança é intolerância religiosa, opressão a ser combatida por incitar crimes de ódio, causa do genocídio que vitima negra e indígena por todos país. Sábio que é o Emicida afirmou que “esse é o xis da questão, já viu eles chorar pela cor do orixá?”

Não apenas o ato da festa é problemático, mas todo o circuito econômico e cultural rentista deste processo. Não podemos nos enganar: agentes individuais, conglomerados das comunicações e as elites deste país são coloniais e lucram com isso. Promovem e reforçam opressões em imagens. São sádicos na cruzada contra negros e indígenas. Tão sádicos que o local da festança foi o Palácio da Aclamação, sua line up composta por artistas negros e entre seus convidados haviam autoridades de Estado como o governador da Bahia e o prefeito de Salvador, ambos líderes políticos de territórios de maioria negra. Isso é o crime perfeito, uma estrutura política-econômica e social fundada no racismo institucionalizado.

O 1% dos mais rico do país reforçam valores racistas e conservadores porque para elas e eles o lucrativo é continuar sendo Brasil colônia, fácil de privatizar riquezas, enriquecer ilicitamente e de quebra derramar o sangue de quem não topa seu jogo sujo.

Racistas não passarão.

Tamara Terso é jornalista, militante do Enegrecer e da Democracia Socialista.

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