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A ilha do presídio e a ditadura | Jonas Tiago Silveira

Na quinta-feira, dia 12 de dezembro, Raul Pont e Paulo de Tarso Carneiro retornaram à ilha do presídio em Guaíba, onde foram presos políticos durante a ditadura militar.

Foto: Jonas Tiago Silveira

A ilha das Pedras Brancas, segundo algumas fontes históricas, leva este nome pela sua proximidade com Guaíba, que anteriormente tinha o nome de Pedras Brancas. A ilha foi um ponto estratégico na defesa dos farrapos, foi um depósito de pólvora, ainda no tempo do império, e foi também um laboratório de pesquisa sobre a peste suína. A Partir de 1956, a estrutura da ilha  foi transformada em presídio para presos de alta periculosidade.

Com o golpe militar, o presídio passou a receber presos políticos. Foi nele que esteve detido o Sargento Manoel Raymundo Soares, um defensor da democratização das forças armadas, que foi encontrado morto no Lago Guaíba com as mãos amarradas, caso que foi um dos primeiros, se não o primeiro, assassinato da ditadura militar. 

Muitas histórias circulam sobre o tempo em que a ilha foi presídio, boa parte delas devem ser lendas, como o caso do preso que escapou da ilha, navegando em uma grande panela do refeitório. Outras, já tem mais fontes, como o caso de uma regata que estava sendo disputada nas proximidades, onde foi dado um tiro de largada e o fogo foi respondido pelos guardas da prisão, que só momentos depois entenderam que não se tratava de um ataque e nem de uma tentativa de resgate.

Foto: Jonas Tiago Silveira

Raul Pont, que foi detido em São Paulo em uma operação comandada por Ustra, foi transferido para a Ilha do Presídio, onde ficou por um ano. Paulo de Tarso Carneiro, que foi detido no Rio Grande do Sul, também viveu na prisão por um ano. Ambos voltaram à ilha a convite do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, instituição da Secretaria de Estado da Cultura, e de professores e estudantes do Programa de Pós-Graduação em Design da UFRGS.

Chegar na ilha, que foi tombada como patrimônio histórico, não foi uma tarefa fácil, partindo cedo ao lado da Usina do Gasômetro, o barco não seria o suficiente para levar nosso grupo até a ilha, uma vez que a mesma não possui mais um ancoradouro. A solução foi um bote para transferir os passageiros do barco até as pedras na lateral da ilha, onde Paulo de Tarso revelou que costumava ficar sentado algumas tardes, nos momentos em que podiam sair das celas.

Passando por uma pequena trilha coberta de galhos e troncos caídos, além de muito lixo levado pelas águas, chegamos à escadaria principal que dava acesso ao presídio. Ali, boa parte das estruturas resiste, mesmo sem teto ou sem as janelas. Na escada, Raul e Tarso conversaram com os estudantes, explicando um pouco da rotina da prisão e de como foi sua chegada ali. Apesar da ilha do presídio não ser um lugar onde aconteciam as maiores torturas físicas durante a ditadura, Paulo de Tarso dividiu com os presentes como era viver em constante tortura psicológica durante aquele momento do cárcere e dos castigos praticados conforme os acontecimentos externos. 

O bloco das celas, com exceção de uma única janela, já não tinha mais grades. “Até as grades roubaram” dizia Raul Pont. Ficavam cerca de oito presos em cada cela, que media aproximadamente 2,5 metros quadrados. Na cela havia beliches para os presos e um pequeno buraco no centro que servia como patente nos momentos em que não podiam deixar a cela. Durante a visita ao bloco, Paulo de Tarso também revelou que enquanto esteve preso ali, dois menores de idade também haviam ficado detidos.

“É importante falar sobre o que aconteceu e conversar com as pessoas, não só pela memória, mas para que este conhecimento sobre o passado também tenha influência na nossa formação como pessoas, ainda mais em uma época que o Fascismo segue nos ameaçando” – disse Paulo de Tarso Carneiro ao grupo de estudantes. Raul Pont aproveitou para fazer um registro na antiga cela em que ficava, acompanhado da filha e dos netos.

Confira o vídeo da visita à ilha do presídio no Instagram da Democracia Socialista, clicando AQUI.

Jonas Tiago Silveira é Músico, Escritor e Jornalista.

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