Artigo escrito pelo presidente da CUT, Artur Henrique, e pela secretária nacional de juventude da central, Rosana Souza de Deus, discute o papel a ser exercido pela juventude CUTista, a partir da criação da Secretaria de Juventude – ela deve se inserir na estratégia de construir um país sustentável com protagonismo popular nas decisões políticas.
Artur Henrique e Rosana Souza de Deus *
O presente texto tem o objetivo de localizar o papel a ser exercido pela juventude CUTista, a partir da criação da Secretaria de Juventude. Compartilhamos a opinião segundo a qual a juventude brasileira possui papel fundamental na construção da estratégia defendida por nossa Central: um país sustentável com protagonismo popular nas decisões políticas.
Ao longo de anos, o processo de globalização, sob hegemonia do capital financeiro, fez com que os Estados nacionais perdessem, progressivamente, sua capacidade de gerar, controlar e executar uma série de políticas de suporte ao desenvolvimento econômico, de inclusão social com a geração de emprego e renda e valorização do trabalho. A hegemonia do mercado financeiro atinge não apenas o Brasil, mas toda a periferia do mercado mundial, condicionando um modelo subdesenvolvido. Suas conseqüências mais desastrosas são: desestruturação da nossa economia, fragilização do poder do Estado e desregulamentação do nosso mercado de trabalho.
No Brasil, as reformas neoliberais – privatização, redução de pessoal, corte de investimentos públicos -, em meio à estagnação relativa dos últimos 25 anos, tornaram a máquina pública incapaz de exercer papel ativo no desenvolvimento. Trata-se, portanto, de propor um amplo reaparelhamento do Estado, para que este possa exercer seu papel.
A retomada do papel ativo do Estado para a promoção do crescimento econômico significa reorientação da política econômica, das políticas sociais e na estruturação do mercado de trabalho.
Nenhum país construiu seu desenvolvimento sem enfrentar os problemas das desigualdades sociais. As políticas sociais, portanto, assumem um papel central. Nesse campo, a máquina pública foi enfraquecida, durante todo o período neoliberal, provocando graves crises nas áreas da seguridade social, da saúde, da educação, culminando num ponto extremo de alarmante aumento da violência.
Não é difícil entender o impacto desse processo sobre a vida da maioria dos jovens brasileiros. Se a juventude não goza de proteção social, não pode construir uma trajetória de vida baseada na cidadania plena. O neoliberalismo provocou estragos enormes sobre as expectativas de futuro para nossos jovens. O trabalho tornou-se sinônimo de precariedade para a maioria deles. O desemprego tornou-se a marca central da sua presença nesse mercado de trabalho precarizado.
Além de tudo, a diminuição do Estado foi acompanhada pela responsabilização dessa juventude por sua própria situação de desemprego. A ideologia neoliberal tentou convencer a juventude que o desemprego seria culpa dela, por não estar qualificada a suficiente para garantir um lugar nessa sociedade competitiva. O cinismo neoliberal era nítido: reduzia a oferta de educação pública e, ao mesmo tempo, afirmava que o jovem precisava se qualificar para conseguir um lugar no mercado.
De um lado, o mercado de trabalho foi profundamente precarizado. De outro, as políticas sociais foram reduzidas à extrema focalização, pois foram destinadas aos mais pobres entre os pobres.
Recentemente, a CUT assumiu uma estratégia de disputar os rumos do desenvolvimento nacional. Trata-se de uma disputa de hegemonia com o capital financeiro, os grandes meios de comunicação e os setores neoliberais organizados, que dão base política para o bloqueio às mudanças. Nossa Central tem construído uma Jornada Nacional pelo Desenvolvimento com Distribuição de Renda e Valorização do Trabalho para organizar o movimento sindical CUTista nesta luta e dialogar com a sociedade sobre nossas bandeiras.
Nessa estratégia, é fundamental organizar a juventude brasileira para consolidar a vitória democrática e popular. A maioria dessa juventude é trabalhadora, porque já está inserida no mercado de trabalho (ocupada ou à procura de ocupação). A maior central sindical do país tem um papel histórico de organizar esse segmento e, assim, inserir suas demandas no plano de luta sindical.
No entanto, verificamos as dificuldades encontradas para aproximá-los dos sindicatos. Ao mesmo tempo, nos deparamos com a dificuldade de renovação das direções sindicais. São dois desafios que não serão superados sem atualizar a estratégia sindical da CUT, hoje articulada em dois eixos centrais: fortalecer a concepção sindical CUTista e disputar hegemonia na sociedade.
Para fortalecer a concepção sindical da CUT, é necessário reorientar a luta sindical de forma a representar os interesses da maioria da classe trabalhadora do nosso país, e não apenas daqueles que já estão inseridos no mundo dos direitos vinculados ao trabalho. A maioria da juventude trabalhadora brasileira está ocupada em tarefas precarizadas. Não conseguiremos organizá-la e representá-la se permanecermos limitados aos que possuem carteira de trabalho assinada. É um exercício de atualização da prática sindical.
Para avançar na disputa de hegemonia na sociedade, guiada por um outro modelo de desenvolvimento, é necessário recuperar o sentido das políticas sociais e do papel do Estado. Nossa juventude necessita de proteção social. Ela se encontra desprotegida frente a lógica exploradora do empresariado, que busca aumentar sua taxa de lucro ampliando a precarização do trabalho – do trabalho de jovens, preferencialmente. Ela está desprotegida, também, pela baixa renda de suas famílias e pela ausência de políticas públicas que desonerem a sua vida social (custos com transporte público, com lazer, alimentação, estudos).
O fortalecimento do Estado é imprescindível para garantir a universalização de políticas sociais que permitam proteger nossa juventude diante da imposição da busca por trabalho. Criar uma plataforma de luta juvenil que apresente as reivindicações para reverter a atual situação é uma tarefa urgente assumida pela CUT.
Com a criação da Secretaria Nacional de Juventude da CUT (SNJ-CUT), nossa Central terá maiores condições de atingir esses desafios. Para tanto, ela não pode ser uma pasta setorial, no sentido de dedicar-se às especificidades da condição juvenil. Ela atingirá seu papel na estratégia geral da CUT se conseguir relacionar as bandeiras gerais de luta da classe trabalhadora com as questões que afetam diretamente a realidade juvenil.
Um exemplo disso é a histórica luta pela redução da jornada de trabalho. É uma bandeira do conjunto da classe trabalhadora, mas tem um impacto particular sobre a juventude. Será tarefa da SNJ-CUT traduzir essa bandeira em sua face juvenil, ou seja, transformá-la em uma bandeira de luta da juventude brasileira. Reduzir a jornada é gerar emprego. E é também gerar tempo livre. É fundamental para os jovens estudantes que precisam trabalhar e que são obrigados a abandonar a escola porque a jornada de trabalho desabilita-o a raciocinar, a produzir conhecimento, a chegar no horário da aula.
Outro exemplo da importância de relacionar a estratégia geral da CUT com a plataforma juvenil é a aliança com os movimentos sociais do campo democrático e popular. A agenda de lutas construída em unidade entre esses movimentos terá muito mais vigor no interior do movimento sindical se for apropriada pela SNJ-CUT. Um aspecto ilustrativo dessa agenda é a Conferência Nacional de Educação (CONAE), convocada pelo Governo Lula. Poderemos construir forte unidade com a União Nacional dos Estudantes, com movimentos culturais, com movimentos do campo, com intelectuais progressistas e com o sindicalismo da educação em torno de uma plataforma comum desses setores. A SNJ-CUT nasce com potencial protagonismo frente às necessidades de mobilização unitária dos movimentos juvenis.
Por fim, é importante ressaltar a contribuição possível da SNJ-CUT e do conjunto da juventude sindical nesse período que se abre pós 10º Concut. A provocação desafiadora é de construir uma nova geração sindical em nosso país. Nova não apenas no que diz respeito à idade, mas nova em sua forma de construir política sindical, em seu potencial criativo para organizar a maioria da classe trabalhadora e de romper com as formas autoritárias, burocráticas e opressoras que ainda estão arraigadas na estrutura sindical, apesar da incansável luta do sindicalismo combativo e militante da Central Única dos Trabalhadores.
Artur Henrique é presidente da CUT, e Rosana Souza de Deus é secretária nacional de juventude da central. Este artigo foi publicado no livro “Juventude em Perspectiva”).