Por João Marcelo Intini
Enaltecem o gesto cívico, mobilizador, o protagonismo da juventude e aproveitam para rechaçar a violência descabida. Apoiam as marchas pacíficas e pedem paz. Parabenizam policiais e governantes. Alguns creditam ao processo democrático que estamos construindo a possibilidade destes eventos. Outros preferem dizer que há um clamor profundo na sociedade contra a corrupção.
Bem, sejamos francos. Nos últimos 10 anos de Governo do PT, mudamos a cara da sociedade, construímos um patamar civilizatório nunca imaginado, pleno emprego, aumento de renda, estabilidade financeira, protagonismo internacional, vitórias e conquistas sociais. Estamos próximos de erradicar a miséria extrema.
Mas há muito por fazer. A estrada é longa, os obstáculos são diversos, complexos, exigem cuidado. A classe política pouco evoluiu. A sociedade, muito.
O PT cresceu com suas bandeiras históricas. Implementou dezenas delas, é referenciado por 1/3 dos eleitores. A Presidenta tem recordes de aprovação pública. Mas creio que estamos devendo a mesma ousadia que estamos vendo nas ruas.
As alianças programáticas nos impõem as fotografias com ruralistas, empresários, religiosos fundamentalistas e a velha guarda da política paroquial e coronelista. Nosso Governo aplica a agenda financeira de forma preponderante – não cometemos a hipocrisia de achar que sem uma economia pujante não teríamos tantas conquistas – mas falta algo.
Falta vida, falta alma.
Os indígenas, quilombolas, pobres das periferias, agricultores familiares, sem teto, catadores, todos querem algo mais, querem ampliar seus diretos. Querem a pauta da histórica luta de classe que o PT empunhou, ou empunhava!
E os jovens nas ruas também querem mais, querem respirar outra atmosfera, com mais dignidade, igualdade, alegria. Não estão insatisfeitos com as tarifas dos ônibus, apenas, mas com suas cidades, com a necessidade de democratizar as oportunidades.
O que estes jovens deveriam estar empunhando, era a bandeira da reforma política, da mudança concreta do padrão político brasileiro, pois muito daquilo que eles desejam, mesmo com a continuidade do PT no centro do Poder, não será viabilizado, pois as estruturas de poder não deixarão.
Não apenas outra sociedade emerge, mas outra representação dela precisa emergir. E a reforma política é o instrumento para tal. Romper com o domínio econômico nas eleições, apoiar o financiamento público de campanha, garantir a participação dos jovens e mulheres, promovendo a renovação dos quadros políticos e modificando a forma de escolha dos representantes, focando na composição dos partidos e seus programas e despersonalizando a política.
As alianças estratégicas do nosso governo precisam refletir o que está nas ruas, nos olhares da juventude, dos negros, dos pobres, das mulheres, dos sem teto e sem terra, dos indígenas, todos estes que, mesmo com tudo o que fizemos, assistem – estes sim atônitos – todos os gestos deste governo para com o capital, os ruralistas, as elites.
Aumentamos o Bolsa Família em alguns reais. Multiplicamos por milhares os investimentos que atendem a uma pequena parte da população. A equação, sabemos, é complexa. Uma grande obra, com seus empregos e investimentos, que ativa a economia, ou a agenda dos excluídos? Não é um pelo outro. Ambos, dignamente. Mas o fato é que estamos pendendo para um lado, preferencialmente.
Uma nova safra de trabalhadores que não se sindicaliza. Milhares emergindo socialmente, pelas portas abertas pelo nosso Governo, mas que não reconhece, essencialmente, o que foi feito.
Isto, por que não “politizamos” nossas políticas públicas. Não cuidamos do conteúdo, da forma, da comunicação. Gastamos milhões em comunicação através da mídia traiçoeira. Não cuidamos do dialogo profundo e de conteúdo com estes que emergiram.
Precisamos guinar a agenda do Governo Federal para a “esquerda”, rompendo a preponderância da agenda econômica e ampliando as iniciativas populares, democráticas, libertadoras.
Por um Brasil mais democrático, justo, solidário, a saída é à esquerda e pela reforma política.
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