Em solidariedade a Brisa Bracchi
A violência política de gênero, assim como todas as outras opressões que são estruturadas nos moldes do patriarcado, surgem como um sintoma do sistema que guia nosso modelo social. O entendimento em torno do lugar da mulher ser o de submissão e não atravessar a porta da cozinha, colocando-nos em uma posição de violência cotidiana, com o trabalho do cuidado nas costas e o silenciamento como arma de contenção, tem se rompido de maneira mais expressiva, com mulheres ocupando espaços de liderança, inclusive o parlamento.
Não é surpresa que, ao se mexer nas estruturas patriarcais, os favorecidos por elas se revoltem, respaldados em todas as violências que não os coloca, em momento algum, como vítimas, mas como violentadores. É desde um “fale baixo, deputada!” a um golpe que destituiu a primeira mulher a presidir este país. Da mesma forma que isso não começa na destituição de Dilma, não termina na exposição de Isolda.
Nesta segunda-feira (28 de agosto de 2023), Brisa Bracchi, vereadora pelo Partido das trabalhadoras e dos trabalhadores em Natal/RN, foi explicitamente atacada no plenário da Câmara Municipal por um ex-vereador, em uma reunião da comissão de Indústria e Turismo, com um discurso que desqualifica as ações do mandato e violenta, explicitamente, grupos minoritários, como a comunidade LGBTI+ que sempre está presente nas lutas e pautas encampadas por Brisa que é, também, uma mulher bissexual.
Brisa vem do Movimento Estudantil, foi diretora de mulheres da União Brasileira das e dos Estudantes Secundaristas (UBES) e tem sua trajetória atravessada pelo movimento de mulheres, através da Marcha Mundial das Mulheres, movimento LGBTI+ e movimento negro, o que a colocou, desde sempre, como foco, especialmente como alvo das violências que nascem no patriarcado e se direcionam fortalecidas nos diversos espaços que ela é apresentada como minoria.
Em uma situação como essa, a principal arma de manifestação usada pela categoria dominante, é um falso acordo social de silêncio. Quando não se fala sobre o caso, ele deixa de existir, com o passar do tempo e não chega a quem deve chegar, impedindo, assim, o nosso objetivo real, que é alcançar todas as mulheres. A violência sofrida por Brisa no parlamento, não é a mesma sofrida por Maria, em sua casa, mas surge a partir dos mesmos ideias de opressão de gênero e ambas buscam resultar no silenciamento de nossas vozes.
A nossa luta se manifesta na resistência diária e nos movimentos de desconstrução das estruturas que nos silenciam, nos violentam e nos expõem. Em uma guerra, uma crise econômica, uma pandemia, somos nós, mulheres, as que mais sofrem os efeitos provocados, mas somos nós, mulheres, que também construímos, de forma pioneira, a transformação do mundo e das nossas vidas.
Ainda não entenderam, como parafraseado por Dilma Rousseff, na Marcha das Margaridas de 2019, que, por mais que tentem, a gente enverga, mas não quebra. A nossa luta é por transformação completa e ela perpassa o respeito às nossas mentes, corpos e posições. Brisa Bracchi é uma das mulheres que está em uma linha de frente ainda pouco acessada, mas denota e traz na sua política, a necessidade de rompermos as correntes e ocuparmos, lado a lado, esses lugares. É importante trazermos ao debate social a violência política de gênero e a necessidade que temos, enquanto sociedade, de mais mulheres no parlamento, especialmente, mas é imprescindível que os autores dessa violência recebam as medidas cabíveis. Nenhuma das nossas lutas é por uma, mas por todas nós.
Estefane Maria é Diretora de Mulheres da UNE e Militante da Marcha Mundial das Mulheres.
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