Notícias
Home / Conteúdos / Artigos / Arce e Choquehuanca concluem campanha: “Recuperar a democracia, a soberania e a estabilidade na Bolívia” | Leonardo Wexell Severo

Arce e Choquehuanca concluem campanha: “Recuperar a democracia, a soberania e a estabilidade na Bolívia” | Leonardo Wexell Severo

Em El Alto, ”quartel general” do Movimento Ao Socialismo (MAS), uma multidão enfrentou o rigor do frio para acompanhar os candidatos à presidência e à vice no próximo domingo.
David Choquehuanca e Luis Arce no encerramento do comício em El Alto (Campanha)Créditos da foto: David Choquehuanca e Luis Arce no encerramento do comício em El Alto (Campanha)

EL ALTO – Acendendo uma fogueira próxima ao palanque, com um pedido de permissão à Pachamama (Mãe Terra), centenas de milhares de manifestantes enfrentaram o poderoso frio de El Alto no final desta quarta-feira para o ato de encerramento da campanha de Luis Arce e David Choquehuanca, candidatos à presidência e à vice da Bolívia pelo Movimento Ao Socialismo – Instrumento Pela Soberania dos Povos (MAS-IPSP).
Em suas intervenções, os líderes se comprometeram a recuperar a democracia, a soberania e a estabilidade econômica no país andino e exortaram a todos os bolivianos a marcharem unidos contra o retrocesso praticado e proposto pelos que querem se manter no poder a qualquer custo.

“Estamos com Tupac Katari e Bartolina Sisa, em nosso quartel general – foi de El Alto onde se fez o cerco a La Paz, em 1871 – valorando o muyu (a rotação aimará) onde o poder não se concentra nas mãos de uns poucos, fizemos uma cerimônia de fogo porque o poder tem que circular”, declarou Choquehuanca, líder indígena aimará e ex-chanceler do governo de Evo Morales.

Russland Rodriguez, Erick Terza e Carlos Gutierrez, dirigentes do Sindicato de Trabalhadores Mineiros de Huanuni (LWS)

Na Avenida Periférica, que une a cidade com a capital, La Paz, Choquehuanca saudou a presença das lideranças dos movimentos sociais integrantes do Pacto de Unidade – como a Central Operária Boliviana (COB), Federação Sindical de Trabalhadores Mineiros (FSTMB), Federação Sindical de Trabalhadores Camponeses e Federação de Mulheres Indígenas Originárias “Bartolina Sisa” – e frisou a importância de cultivar esta união permanentemente junto ao povo. O objetivo, assinalou, é a partir das eleições do próximo domingo, 18 de outubro, impulsionar grandes transformações e avanços, principalmente na área da economia e da democracia.

Choquehuanca apontou que “assim como a economia não pode concentrar-se em pequenos grupos, o poder também não pode, tem que circular e haver uma permanente renovação”. “Lucho – como Luis Arce é carinhosamente chamado – está comprometido junto com nossa Pachamama, com nossos candidatos, com o povo boliviano, com o nosso instrumento político para que o poder possa fluir”, declarou, esclarecendo que ao contrário da economia capitalista, “da qual não somos partidários, somos da redistribuição, para buscar o equilíbrio”.

Dialogando com as 36 nações indígenas do Estado Plurinacional, Choquehuanca condenou as reiteradas agressões dos que se utilizam do atual governo golpista para praticar o preconceito diariamente.

“No próximo domingo vamos chegar longe e fazer respeitar nossa pollera (saia indígena), fazer respeitar nossa cultura, nossa música, fazer respeitar nossa Wiphala (bandeira multicor que representa Abiayala, o continente latino-americano). Vamos fazer respeitar o voto popular. Vamos voltar ao caminho da verdade. Basta de mentiras, exploração, engano e ódio. Vamos governar com amor. Nossa Pátria necessita ser amada por seus filhos. Vamos recuperar a Pátria, nosso processo de transformações e a estabilidade econômica”, declarou o líder indígena. Tudo isso, acrescentou, “com o poder de nosso mestre irmão Lucho”. Luis Arce foi o ministro da Economia do governo de Evo Morales, tendo sido responsável pelos maiores crescimentos do Produto Interno Bruto (PIB) na América Latina durante seis anos consecutivos.

“O povo decidiu que Lucho e eu fôssemos candidatos e não vamos nos esquecer, devemos caminhar juntos, unidos, sempre. Vamos caminhar com os mineiros, com os camponeses, com as mulheres, com os artesãos, com os artistas, com os jovens.

Por isso nos comprometemos na cerimônia com nossos ancestrais neste quartel general de Tupac Katari, somos milhões, somos maioria!”, enfatizou Choquehuanca, ao que a multidão respondeu: “somos maioria, caralho!”

E o líder indígena acrescentou: “Lucho e David são um só coração com o nosso povo. Não vão nos frear nem calar, vamos recuperar a esperança. Votar por Lucho é votar por nós mesmos!”

“SE SENTE, SE SENTE, LUCHO PRESIDENTE!”

Recebido entusiasticamente com um coro de “Se sente, se sente, Lucho presidente”, Luis Arce saudou a todos os reunidos neste “bastião de luta do Movimento Ao Socialismo”. E a população respondeu: “El Alto de pé, nunca de joelhos”.

“Saúdo a todo os que estão aqui com Lucho e David nos acompanhando em todo o mundo, aos nossos compatriotas que estão no Brasil, na Argentina, na Espanha e no Chile. A todos um abraço do povo boliviano”, declarou.

“Vivemos desde o sangrento golpe de Estado um pesadelo onde o povo sofre com a dor e a fome, com a volta do racismo, da discriminação e da prepotência”, condenou Lucho, destacando que “pensaram que iam matar o MAS e desde El Alto lhes dizemos que estamos mais vivos do que nunca. Recordamos que o povo é imortal”.

E a multidão voltou a responder: “Somos maioria!”

Cartazes de Tupac Katari e Bartolina Sisa, líderes indígenas do cerco a La Paz, deram colorido e combatividade à manifestação (LWS)

“Irmãos, vimos em 11 meses que a direita mostrou toda sua ambição de poder, dividem o Estado como um butim de guerra. Além disso, demonstraram sua incapacidade de conduzir o país. Roubaram nossos respiradores para o combate ao covid, nossa saúde, a educação de nossas crianças e jovens, assaltaram nossas empresas públicas. E isso não permitiremos”, enfatizou.

Conforme o candidato presidencial – que lidera todas as pesquisas de intenção de voto – “a direita demonstrou que não conhece, que não pensa, que não cultiva a cultura do povo boliviano”. “Por isso neste 18 de outubro o povo boliviano irá às urnas para dizer-lhes que precisa de um presidente que conhece as suas necessidades e que lhe respeite”, declarou.

Lucho conclamou o povo a estar alerta e mobilizado, uma vez que “a direita veio da única maneira que poderia: veio com armas, veio para massacrar o povo boliviano. Agora estão nos deixando um povo faminto, um país em profunda crise econômica, sem saúde e educação. E isso também não permitiremos”.

“Caminhamos com o jilata (irmão em aimará) David pelos nove departamentos (Estados), não só nas suas capitais, mas pelos seus interiores, por suas praças, ruas e mercados, e conhecemos suas necessidades para recuperar a Pátria. O povo boliviano demonstrou esperança, firmeza e uma fortaleza inquebrantável”, disse Lucho.

De acordo com o líder, “o povo está consciente do que vivemos desde outubro do ano passado. Muitos se deixaram impressionar e enganar por contos, e hoje estamos mergulhados numa profunda crise. Quando entramos no governo em 2006 com o irmão Evo, também encontramos um país quebrado, que não tinha futuro. E então trabalhamos dia e noite, longas horas, para poder lançar o país adiante, e conseguimos. Obtivemos os melhores indicadores econômicos e sociais da história do país e hoje temos o mesmo desafio porque vão nos entregar um país sem recursos. E vamos trabalhar para avançar rumo ao futuro, para dar ao país estabilidade econômica, estabilidade política e estabilidade social”.

Alertando para as graves dificuldades do momento, Lucho reafirmou que ele e Choquehuanca “somos os únicos que podemos garantir que as empresas privadas e nossas empresas públicas possam voltar a desenvolver-se normalmente, e vamos fazer isso porque necessitamos garantir o emprego e a renda das famílias”.

GUERRA SUJA

Há uma intensa guerra suja em curso neste último período, alertou Lucho, em que “temos recebido várias mensagens nos celulares dos nossos policiais e soldados que cumprem o serviço militar de que oficiais de alto posto estão lhes dizendo que se ganharmos as eleições vamos eliminar a polícia e vamos buscar vingança aos militares”. “Os policiais e soldados são nossos irmãos, são aimaras, são quechuas, são guaranis. O povo sempre estará de braços abertos para receber nossos irmãos, porque eles têm de estar ao lado do seu povo”, explicou.

Elizabeth Chura, do Bloco de Jovens pela Justiça, com a bandeira de Arce e do líder socialista Marcelo Quiroga Santa Cruz, assassinado pela ditadura de García Mesa em 1980 (LWS)

Mais uma vez a resposta veio em coro da multidão: “O povo unido jamais será vencido!”

A mesma mensagem “muito clara” foi enviada “aos irmãos jornalistas”, “a quem também será garantida a liberdade de expressão”, pois “somos um povo que vai governar para todos”.

CONFIANÇA NA JUVENTUDE

Lucho fez uma saudação especial aos jovens, recordando que o seu grande potencial gera enormes responsabilidades. “Esta juventude é a melhor geração que tivemos graças ao processo de transformações, graças ao esforço dos seus pais e avós terem lhes dado acesso à educação e à universidade. Tiveram possibilidade de uma melhor formação, de uma melhor alimentação, de acesso à internet. Os jovens são os filhos desse processo de transformação. E aos filhos deste processo vamos dar a responsabilidade de serem a nossa reserva moral, de serem os melhores nos nossos ministérios e em nossas empresas públicas. Milhares de jovens profissionais comprometidos com o nosso pais, com a sociedade e com o povo boliviano”, destacou.

Ao encerrar a campanha, sob um mar de bandeiras do MAS, Lucho recordou qual era a tarefa que sentia sobre os ombros e que seria o objetivo central do seu governo. “No começo deste ato, quando ouvíamos nossos irmãos pedirem um minuto de silêncio pelos nossos caídos em Senkata (bairro de El Alto), pelos nossos caídos em Sacaba (Cochabamba), pelos caídos em Pedregal (La Paz), por nossos heróis pela defesa da democracia, juramos recuperar a democracia, juramos recuperar a Pátria, juramos construir um país mais justo, com dignidade, mais igual”, concluiu.

Publicação original: www.cartamaior.com.br

Veja também

A fadiga do espetáculo | Luiz Marques

Na expressão de David Harvey, em Crônicas anticapitalistas: Um guia para a luta de classes …

Comente com o Facebook