Por Yulo Oiticica *
Oriunda da Sicília, esta organização espalhou-se pelos Estados Unidos e se tornou a mais rica e importante organização criminosa do mundo. A Cosa Nostra na Sicília se tornou um Estado dentro do Estado, controlando a polícia, a justiça, os meios de comunicação e a política da Ilha, a partir de sua aliança com o Partido Democrata Cristão e o Alto Clero da Igreja Católica. Aqueles que não se submetiam á lógica mafiosa eram alvos de atentados e assassinatos como os juízes Falcone e Borselino (estes crimes causaram tamanha indignação que a população exigiu um combate enérgico à organização criminosa).
A Cosa Nostra possuía o seu código de silêncio, a omertá, e quem desrespeitava este mandamento era sumariamente executado. Esta digressão sobre a máfia siciliana e seu código de silêncio, a omertá, me ocorreu por analogia ao silêncio sepulcral da imprensa em geral e das televisões em particular sobre o vergonhoso envolvimento de um jornalista da revista Veja com um dos chefes do crime organizado conhecido como Carlinhos Cachoeira.
Esta revista que sempre se colocou como a Vestal das Vestais da imprensa brasileira, que atacou e ataca impiedosamente a honra e a dignidade dos seus desafetos, especialmente se pertencem ou simpatizam com o Partido dos Trabalhadores, que guinda indivíduos como o Senador Demóstenes Torres à condição de paladinos da moralidade, simplesmente apresenta a singela explicação que seu funcionário teria Carlinhos Cachoeira como “fonte”. Será que se o jornalista em questão fosse assessor de algum parlamentar do PT ou funcionário da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação, uma empresa pública federal), esta singela explicação seria aceita pela mídia em geral e pela revista Veja em particular? Quais seriam as manchetes? No mínimo seriam do tipo: “Governo Dilma e o PT de braços dados com o crime organizado”. “CPI para apurar as atividades criminosas do PT” e outras manchetes tão aviltantes que sequer tenho estômago para citar.
A verdade factual que a grande mídia se recusa a publicar é que são no mínimo suspeitas as relações entre a revista Veja e o contraventor Carlinhos Cachoeira; que estas relações são incompatíveis com o papel da imprensa; que pode ter ocorrido crime ou não e é preciso investigar a fundo para que a verdade apareça; que caso não tenha ocorrido crime, mesmo assim a relação entre a revista e o contraventor não é saudável para a democracia e muito menos para a liberdade de expressão. Estas verdades factuais evidentes para qualquer pessoa de boa-fé são sumariamente varridas para debaixo do tapete pelo seleto grupo de plutocratas que controla a mídia no Brasil.
Estes mesmos plutocratas são aqueles se inflamam, se arrepiam e se rasgam a qualquer menção sobre políticas públicas de controle social da mídia e da revisão das políticas vergonhosas de concessões de rádios e televisões, aqueles que ao menor rumor sobre políticas de democratização dos meios de comunicação vociferam que o país descamba para a ditadura, aqueles que esbravejam contra políticas e leis de conteúdo regional mínimo (leis que na maior parte das vezes sequer é cumprida), são os mesmos que qual a Cosa Nostra se protegem com um pacto de silêncio.
Os cidadãos brasileiros doravante ao ouvir os arautos destes interesses midiáticos gritarem “Liberdade de expressão!”, “Liberdade de expressão!”, devem entender que o que realmente eles estão bradando é “Omertá!”, “Omertá!”. Ou seja, o que eles querem realmente é continuar com o poder de cercear as informações que não são de seu agrado enquanto continuam a fazer as suas cachoeirices.
* Yulo Oiticica é deputado estadual e líder da bancada do PT-Bahia.
Comente com o Facebook