Do site da UNE
O 5º Encontro das Mulheres Estudantes da UNE (EME) será realizado de 29 a 31 de março na cidade de Camaçari, na Bahia. O EME surgiu em 2005, por iniciativa da diretoria de mulheres da UNE, com o objetivo de ser um espaço de organização e fortalecimento do debate feminista na entidade, contribuindo no combate ao machismo e a todas as formas de opressão sofridas dentro das universidades e no movimento estudantil.
A diretora de Mulheres da UNE, Liliane Oliveira, afirma que “para as mulheres da UNE a universidade cumpre um papel central na transformação da sociedade e vamos reforçar, com bastante unidade, que para mudar a universidade: somos todas feministas!” Na entrevista abaixo ela explica os objetivos do Encontro e como ele tem contribuído para discutir pautas específicas e fazer avançar melhorias para as estudantes brasileiras.
Quais os desafios das jovens universitárias hoje em dia?
As mulheres hoje ocupam metade do corpo discente da universidade, mas, os desafios ainda são muitos. Para isso temos que olhar por inteiro para a universidade.
A universidade expandiu, se interiorizou, cursos noturnos foram abertos e mais mulheres jovens e trabalhadoras fazem parte desse universo. É necessário, portanto, que as mulheres façam, verdadeiramente, parte da universidade. Para isso temos que garantir nossa permanência na universidade. Nesse sentido, três aspectos ainda saltam aos olhos: o primeiro é a necessidade de termos condições materiais para estudar, ou seja, temos que ter assistência estudantil específica para as mulheres; o segundo é produzir conhecimento que não reproduza os valores androcêntricos e patriarcais; e o terceiro, a participação das mulheres nos espaços de decisão da universidade.
Por um último, não podemos esquecer que o primeiro contato das estudantes com a universidade ainda é muito traumático. As recepções de calouros e trotes são humilhantes e fazem as estudantes carregarem cicatrizes ao longo de toda sua graduação. Essa “recepção” só reforça para as mulheres que a universidade ainda não é um espaço para elas.
Como a universidade pode ajudar a avançar contra o machismo e a desigualdade na sociedade?
A Universidade deve estar atenta à demanda de projetos e propostas integrados aos anseios populares, que promovem maior emancipação social. Não somente não reproduzir valores machistas e racistas, mas, também construir novos valores emancipadores. Para isso, a universidade tem desafios internos muito grandes a desconstruir. Temos que avançar na democratização da universidade incluindo na sua decisão as mulheres e ter sua produção, ensino, pesquisa e extensão voltadas para uma demanda da superação das desigualdades. A UNE aprovou recentemente, no CONEB, seu projeto de Reforma Universitária com foco na qualidade da educação. Reafirmamos neste projeto que a qualidade passa por construir valores de igualdade e uma educação não sexista.
Qual vai ser a pauta de discussões desse 5o EME?
Chegamos ao 5o EME com uma bagagem de muitas mulheres de luta na UNE. Essas mulheres abriram muitas portas e apontaram muitos caminhos. É nossa tarefa dar continuidade e nos preparar para novos desafios. Queremos sair do EME com nossas campanhas periódicas: “pelo fim dos trotes machistas” e “pela criação de creches”, enraizadas e dar continuidade à campanha pela legalização do aborto, iniciada na gestão de 2007, onde a Diretoria de Mulheres junto a então presidenta, Lúcia Stumpf, deu grande visibilidade ao tema.
Entendemos que o machismo estrutura e organiza nossa sociedade e apontamos a construção do feminismo para mudar essa realidade. Por isso, queremos protagonizar debates importantes na disputa de valores da juventude brasileira. Colocamos, também, na nossa agenda a luta pela democratização da mídia, contra a mídia sexista e por uma reforma política que inclua verdadeiramente as mulheres. Outro ponto importante é que o EME contará com o aprofundamento das lutas das mulheres contra o racismo e a luta contra a mercantilização do corpo e vida das mulheres.
Leia abaixo a Convocatória oficial do 5o EME da UNE
O EME surgiu em 2005, por iniciativa da diretoria de mulheres da UNE, com o objetivo de ser um espaço de auto-organização e fortalecimento do debate feminista na entidade, contribuindo no combate ao machismo e todas as formas de opressão sofridas pelas mulheres dentro das universidades e no movimento estudantil. A segunda edição, que ocorreu em 2007 consolidou o Encontro e permitiu a criação de uma agenda própria.
Em 2011 o EME contou com a participação de centenas estudantes de todo o Brasil em Salvador. Com o mote “Ô abre alas que as mulheres vão passar” o Encontro reforçou a luta por Creches, assistência estudantil, currículos acadêmicos que abrangem a discussão de gênero e educação não sexista. A partir do encontro foi criada uma agenda de avanços para as mulheres nos espaços de decisão dentro e fora da Entidade e apresentar os desafios da mulher brasileira que, mesmo se admitindo avanços no campo das políticas públicas, no acesso à educação, ainda sofrem com as duplas jornadas de trabalho, com a falta de autonomia e a mercantilização de seus corpos, com a criminalização do aborto e com os valores patriarcais e mercadológicos arraigados no seu cotidiano.
Carregamos na construção deste 5º EME a trajetória de centenas de mulheres na UNE que unidas rompendo barreiras conquistaram a obrigatoriedade de 30% de mulheres da diretoria, construíram coletivos de mulheres estudantes nas universidades, realizaram uma massiva campanha pela legalização do aborto, campanhas permanentes pelo fim dos trotes machistas e criação de creches.
Apontamos também na luta das mulheres na UNE a importância da disputa dos valores da juventude brasileira. Acreditamos que a construção de um país mais justo passa por transformações estruturantes importantes, que para serem reais, tem de contemplar a pauta das mulheres. Da luta pela democratização dos meios de comunicação com combate à mídia sexista à luta até a luta pela reforma política com inclusão real das mulheres com voto em lista pré-ordenada e alternância de gênero, todo avanço das conquistas feministas é uma forma de democratização da sociedade.
E para construir essa pauta democratizante, entendemos que a universidade cumpre um papel central. Por isso nós mulheres estudantes queremos garantir que a universidade que hoje contempla metade das mulheres em seu corpo discente, seja também a universidade que contemple as mulheres na sua produção de conhecimento e garanta a permanência das estudantes.
Entendemos que uma educação de qualidade deve combater a opressão machista e se debruçar em construir a universidade a serviço do povo. Portanto, pela nossa caminhada de luta e perspectiva de construir maiores avanços, a UNE reafirma na sua luta pela igualdade, a luta feminista e declara em alto e bom som que:
Para Mudar a Universidade:
#SomosTodasFEMINISTAS!
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