Por Iuri Faria Codas
Na última segunda-feira (29), teve início, oficialmente, o período de campanha eleitoral no Chile para as eleições de novembro, quando serão escolhidos os novos deputados, senadores, conselheiros regionais e presidente. Ao todo são nove candidaturas disputando a presidência da república, sendo quatro delas independentes (sem filiação partidária).
A candidata da coalizão Aliança – da qual faz parte o atual presidente chileno Sebastián Piñera – é Evelyn Matthei, da União Democrática Independente (UDI). Ex-deputada, Matthei foi eleita senadora nas duas última eleições e ocupou o cargo de Ministra do Trabalho a partir de 2011, até ser lançada como presidenciável.
O processo para a definição da candidatura da Aliança foi bem conturbado. Inicialmente, a coalizão realizou primárias internas (pela primeira vez desde sua fundação em 1989), onde disputaram Andrés Allamand da Renovação Nacional (RN) e Pablo Longueira da UDI, com o último saindo vencedor. Longueira só se apresentou como candidato dois meses antes das primárias, pois seu partido a princípio apoiava Laurence Golborne, um independente da Aliança que despontava nas pesquisas com as maiores intenções de voto entre os pré-candidatos da coalizão de direita, em grande parte graças a sua atuação no resgate dos 33 mineiros em 2010 quando era Ministro da Mineração. Porém Golborne se viu em meio a uma polêmica pela condenação por parte da Suprema Corte ao consórcio empresarial no qual ele era executivo antes de ir pro governo. Logo em seguida, surgiram acusações de ocultamento de patrimônio e, ambos os casos, o fizeram perder apoio dentro da Aliança e sofrer ataques de adversários, inclusive de Allamand. Após alguns dias da decisão da Suprema Corte, Golborne retirou sua candidatura e a UDI lançou Longueira.
Por sua vez, Longueira venceu as primárias, mas duas semanas depois renunciou, por estar sofrendo de depressão. Com isso, a UDI lançaou Matthei como candidata e após três semanas a RN declarou apoio a ela. Toda essa demora para definir a candidatura prejudicou ainda mais a Aliança, que já vinha enfrentando dificuldades nessa corrida eleitoral. O governo de Sebastián Piñera tem baixíssimos índices de aprovação, tendo sofrido grande desgaste durante as mobilizações de 2011. No último ano sua popularidade começou a ensaiar uma recuperação, mas voltou a cair recentemente graças à retomada da luta do movimento estudantil pelo ensino gratuito, além de diversas lutas locais, greves setoriais e uma greve geral. Por isso, o principal esforço de Matthei tem sido se apresentar como uma direita menos conservadora, inclusive levantando algumas propostas de legalizar o direito ao aborto em alguns casos e de direito a herança entre casais do mesmo sexo, além de reforçar a presença de mulheres na sua campanha, para fazer um contraponto a sua principal adversária Michelle Bachelet.
Desde o ano passado, a ex-presidenta Bachelet desponta nas pesquisas de intenção de voto como grande favorita. Saiu vencedora das prévias de sua coalizão, Nova Maioria, composta pelos partidos da antiga Concertação (Socialista, Democrata Cristão, Radical Social-Democrata, Pela Democracia) mais os partidos Comunista, Esquerda Cidadã e Movimento Amplo Social. As lutas populares que abalaram o governo Piñera também influenciaram a candidatura de Bachelet. Agora, ela vem defendendo propostas mais ousadas como a convocação de uma Assembleia Constituinte, que reforme o sistema político e eleitoral, garanta autonomia aos povos originários e estabeleça leis de igualdade de gênero, além de mudanças no modelo educacional. Também apresentou diversas críticas a Aliança do Pacífico e apontou a importância de reforçar a integração regional com os demais países da América Latina.
A última pesquisa eleitoral publicada foi logo após as primárias, portanto quando Matthei ainda não estava concorrendo. Por esse motivo fica difícil saber o quanto sua candidatura pode ter afetado as intenções de voto, mas nas que foram realizadas entre março e julho desse ano, Bachelet oscilou entre 39% e 46%, tendo chances de vencer no primeiro turno.
O terceiro candidato mais competitivo nessa eleição é Marco Enríquez-Ominami. Importante quadro político do PS em outros tempos, Ominami rompeu com o partido em 2009 por não lhe darem o direito de disputar prévias dentro da Concertação para as eleições presidenciais daquele ano. Naquele pleito ele se lançou como candidato independente, com o apoio de alguns partidos pequenos e movimentos sociais, e surpreendeu ao alcançar mais de 20% dos votos. Ele se destacou apresentando um discurso e propostas mais à esquerda, ao mesmo tempo que aparecia como o candidato da renovação, em uma disputa centrada entre duas figuras antigas da política chilena. Em 2010, fundou o Partido Progressista (PRO) junto com outros dissidentes da Concertação.
Nas pesquisas que saíram até o momento, Ominami variou entre 6% e 8%. Mesmo tendo agora uma campanha melhor estruturada do que em 2009, pode ser difícil que ele repita ou ultrapasse a marca daquela eleição, dado que a candidatura de Bachelet tem apoio partidário mais amplo do que a Concertação tinha da última vez, além de propostas mais conectadas com as reivindicações populares dos últimos anos uma grande aceitação de sua candidata no eleitorado chileno, tendo feito um dos governos melhor avaliados da história. Ainda assim, Ominami aposta no discurso da renovação e na necessidade de se livrar de toda a herança dos tempos de Pinochet na política e na sociedade chilena. Entre suas principais propostas estão a federalização do país, educação gratuita, convocação de uma assembleia constituinte através de um plebiscito vinculante, matrimônio civil homossexual e combate ao narcotráfico através da legalização da maconha, com a produção e distribuição sendo controladas pelo Estado.
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