Dias atrás, em entrevista à imprensa, o volante da seleção brasileira Felipe Melo disse o seguinte sobre a “Jabulani”, nome dado à bola que está sendo usada na Copa do Mundo de futebol: “Digamos que a bola normal é como mulher de malandro: você chuta e ela está ali, legal. Essa bola da Copa é estilo patricinha: não que ser chutada”.
Dr. Rosinha *
Jogadores de futebol dos grandes times e da seleção do Brasil são ídolos de grande parte da população. Seus exemplos, atos e ideias podem ser seguidos e adotados, principalmente por crianças e adolescentes. Esses jogadores deveriam ter mais cuidado com suas declarações.
A violência contra a mulher está presente no cotidiano das ruas, casas e empresas. A comparação feita pelo jogador brasileiro parece ignorar esse tipo de violência. E ignorá-la equivale a encará-la como algo normal. Ou pior. Usar a violência como exemplo no trato com a bola não seria o mesmo que estimulá-la?
No mesmo dia da “inteligente” declaração de Felipe Melo, os jornais brasileiros traziam fotos do “Imperador” Adriano, ex-jogador do Flamengo, e de Ives, volante do Paraná Clube. As fotos mostram ambos fazendo, com as mãos, o símbolo de uma organização criminosa do Rio de Janeiro. Ambos empunham armas. Outro péssimo exemplo.
Já quanto aos espertalhões cartolas que dirigem o futebol, há suspeitas, investigações e provas de que sua atuação está relacionada com crime organizado. No futebol italiano (Inter de Milão) e no espanhol (Real Madrid) já foi provado esse envolvimento.
No Brasil, várias investigações feitas pela polícia, como no caso do Corinthians, e pelas CPIs da Câmara dos Deputados e do Senado, mostraram fortes indícios de participação de cartolas em organizações criminosas. Esses casos ainda permanecem sob investigação ou aguardam julgamento.
Há também provas de manipulação de resultados de jogos, como o chamado escândalo do apito, em 2005. Este escândalo teve como personagem o árbitro Edílson Pereira de Carvalho, que admitiu que arranjava resultados no Campeonato Brasileiro.
Um jornalista canadense, Declan Hill, lançou um livro com o título de “The Fix: Soccer and Organized Crime” (“A armação: futebol e crime organizado”, em tradução livre).
Hill afirma que houve fraude em quatro jogos da Copa do Mundo de 2006. Afirma que os resultados teriam sido acertados para beneficiar apostadores, e que o acerto incluía dois jogos da seleção italiana, que acabou campeã, e um do Brasil, contra Gana.
Manipulação de resultados de jogos não é coisa nova. No passado, essa manipulação se dava, imagino, por coisas menores. Hoje, com o crime organizado tomando conta de inúmeras organizações – nem o Vaticano se livrou – , como acreditar em resultados de campeonatos ou mesmo de copas do mundo?
Lendo essas e tantas outras matérias sobre o futebol, é que concluí há algum tempo: não vale a pena sofrer pelo futebol. Nem mesmo pelas seleções nacionais.
Às vezes acho que devo me vestir de verde e amarelo e gritar pela seleção até ficar rouco. Mas quando caio na realidade me torno um simples torcedor. E decido: vou celebrar e torcer, mas sem sofrer.
Não conheço pessoalmente a bola da Copa. Sei apenas que possui onze cores diferentes. E que cada uma delas representa dialetos e etnias da África do Sul. O nome “Jabulani” (palavra da língua Bantu isiZulu) significa “celebrar” ou “celebração”, em Zulu.
* Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR) e membro do Parlamento do Mercosul. Procutewww.drrosinha.com.br, e www.twitter.com/DrRosinha.
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