Novos tempos
O golpe de Estado contra o governo da presidenta Dilma e contra o histórico acúmulo democrático brasileiro ocupa toda nossa atenção política conjuntural no início desse segundo semestre de 2016. A luta para impedi-lo com uma tática democrática radical tem sido uma das principais tarefas da militância petista que se organiza na corrente Democracia Socialista, e nossas análises da conjuntura podem ser acompanhadas através da página eletrônica www.democraciasocialista.org.br e de nossas redes sociais.
Neste terceiro número da Revista Democracia Socialista, queremos ir além desse foco conjuntural. Porque, nos conflitos em curso, há vários elementos políticos que ensejam aspectos de disputas de caráter estratégico e histórico.
Um primeiro bloco temático trata justamente de identificar o momento histórico em duas chaves. Primeiro, Juarez Guimarães analisa a trajetória do projeto neoliberal, fazendo um balanço e identificando suas atuais características. Seguidamente, Gustavo Codas expõe a nova ofensiva conservadora que varre boa parte da América Latina em uma perspectiva histórica.
Um inventário de fatos políticos relevantes assinalaria, no período recente, golpes de Estado sofridos por governos progressistas – no ano de 2009 em Honduras; no Paraguai em 2012; em 2016 no Brasil – e derrotas eleitorais – em 2015 nas eleições gerais da Argentina e parlamentares da Venezuela; e em 2016 um referendum para mudar a Constituição na Bolívia. São eventos que nos questionam sobre a volta de “tempos conservadores”, como os que dominaram nossa região e o Brasil nos anos 1990, e, em consequência, se assistimos ao fim do período marcado por governos progressistas.
Um segundo bloco temático aborda o que poderíamos chamar, parafraseando o saudoso Eder Sader e seu trabalho seminal sobre as origens do PT nos anos 1970/80, de “quando novos sujeitos entram em cena, parte dois”. Esse processo de resistência ao golpe, e o protagonismo dos partidos de esquerda, movimentos sociais, alianças, frentes e de novos sujeitos políticos, aconteceu com um forte componente de resistência. Não esteve acompanhado por uma formulação estratégica. No entanto, isso não impede que tenha elementos para a renovação e a reorganização da esquerda.
Janeslei Albuquerque e Marcelo Fragozo nos apresentam a constituição das duas frentes, a Brasil Popular e a Povo Sem Medo, que têm exercido papel fundamental na resistência ao golpe de Estado em 2016, mas que desde 2015 se constituíram para enfrentar a totalmente errada e trágica decisão da presidenta Dilma de entregar a condução da política econômica ao inimigo, através das mãos do “Chicago Boy” Joaquim Levy, no Ministério da Fazenda.
Na sequência, Nalu Faria e Tica Moreno, com colaboração de Sarah de Roure e Tatau Godinho, realizam uma recuperação das lutas das mulheres na atual conjuntura. Importante destacar o protagonismo que o feminismo teve desde antes dos embates em torno do mandato da presidenta. Quando o novo bloco conservador anunciou sua consolidação no Congresso Nacional, com a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara Federal, o feminismo saiu às ruas para enfrentar a pauta legislativa reacionária e exigir o Fora Cunha.
Bruna Rosa nos traz um panorama da atuação da juventude na resistência à ofensiva da direita. Enfatiza a emergência de novas práticas políticas na organização e mobilização de jovens.
Marcio Caetano elaborou uma análise de como os trabalhadores e trabalhadoras da cultura se constituíram em setor social e político relevante da luta contra o golpe e os retrocessos.
Finalmente, entrevistamos membros da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), um dos principais sujeitos das lutas desde 2013, tanto nos temas das reivindicações populares urbanas como das mobilizações contra a direita e o golpe de Estado.
Engajamentos renovados e aprofundados, novos sujeitos sociais, são resultado das mudanças materiais e subjetivas ocorridas nas classes sociais populares e nos setores médios no Brasil por efeito dos governos liderados pelo PT. É importante ter essas e outras experiências em conta, nesse momento em que nosso partido precisa analisar sua trajetória e sua crise.
Nós, da Democracia Socialista, queremos fazer essa caminhada petista juntos, em diálogo, compartilhando críticas e autocríticas, com esses novos ou renovados sujeitos sociais, com essas frentes. Entender o momento histórico e as classes populares e suas expressões político-sociais é fundamental para essa tarefa.
Vamos à luta!
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