Resultados visíveis. Livro analisa impacto dos assentamentos no meio rural.
Que alterações sociais, políticas, econômicas e até demográficas vieram a acontecer nas áreas em que ocorreu a reforma agrária? É o que tenta responder o livro “Impactos dos Assentamentos – Um estudo sobre o meio rural brasileiro”, de Sérgio Leite, Beatriz Heredia, Leonilde Medeiros, Moacir Palmeira e Rosângela Cintrão, que se baseia em dados de pesquisa realizada em 2000 e 2001, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e pelo Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Os 5 autores, coordenadores da pesquisa, buscaram comparar as situações atual e anterior dos assentados, tanto em termos objetivos como subjetivos. A pesquisa comparou também as condições sócio-econômicas existentes no assentamento e aquelas verificadas no seu entorno. Para isso, foram escolhidas seis regiões do país com grande concentração de famílias assentadas: Sul da Bahia, Entorno do Distrito Federal, Sertão do Ceará, Sudeste do Pará, Oeste Catarinense e Zona Canavieira Nordestina.
Mudanças de peso
As diferenças regionais e de capacidade organizativa dos assentados fazem com que os impactos provocados pela presença dos assentamentos sejam bastante diferenciados. A análise política se concentrou em entender o que motivou a desapropriação de terras, e como eles se tornaram ponto de partida de novas demandas e reivindicações, fortalecendo o protagonismo político da população.
Para compreender as mudanças econômicas, a pesquisa se concentrou nas fontes de rendimentos dos assentados, o que é produzido e como é comercializado. A pesquisa analisou também a infra-estrutura de cada local e constatou a precariedade e a falta de investimento público.
A análise do perfil da população estudada indica que os assentamentos vêm possibilitando o acesso à propriedade da terra para uma população historicamente excluída, que passou a ter na comercialização da produção sua maior fonte (69%) de rendimentos.
O livro confirma a tese de que a educação dos filhos é uma das grandes preocupações das famílias assentadas. Em 86% dos projetos investigados existem escolas, e cerca de 90% da população entre 7 e 14 anos freqüenta as aulas.
Quebrando preconceitos
Em muitos lugares, os trabalhadores rurais ganharam reconhecimento social e político pelos demais setores sociais, superando uma tensão inicial. Antes visto como espaço de “forasteiros” ou “arruaceiros”, os assentamentos passaram a ser vislumbrados em muitos casos como saída para a “crise” da agricultura local.
Ao comparar suas condições de vida antes do assentamento com as atuais, 91% dos entrevistados consideraram que suas vidas melhoraram e 87% acreditam que o futuro será melhor, apontando a perspectiva de estabilidade a longo prazo. A pesquisa foi financiada pelo Núcleo de Estudos Agrários de Desenvolvimento Rural e Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, e está sendo lançada pela Editora da Unesp.
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