O oito de março é um dia de luta e resistência das mulheres no mundo. Infelizmente esta data hoje é incorporada pelo capitalismo buscando lucro e desconsiderando a realidade de opressão vivida cotidianamente pelas mulheres. A desigualdade e a opressão ficam mascaradas atrás das mensagens de parabéns acompanhadas de flores hipócritas de felicitação.
Este ano, no Brasil, a mobilização do 8 de março feminista se dará em diálogo com as articulações internacionais de paralisação das mulheres trabalhadoras e também em conexão com a conjuntura difícil em que se encontra o Brasil neste momento.
No final do ano de 2016 o governo golpista de Michel Temer formalizou uma proposta de reforma da previdência que objetiva igualar os tempos de contribuição entre homens e mulheres, que hoje são diferenciados. A proposta, além de absurda para a toda a classe trabalhadora, ignora por completo a realidade do trabalho feminino no Brasil e as desigualdades que ainda persistem em nossa sociedade.
As construções históricas dos direitos e garantias são elaboradas a partir de uma análise das necessidades de setores sociais que, sob determinada perspectiva, demandam políticas específicas. Como exemplo podemos citar as mulheres, e as populações negras e lgbt. Portanto, qualquer reforma da previdência ou trabalhista a ser aprovada deve ocorrer na perspectiva de garantia de mais direitos, e não de retirada dos mesmos.
Hoje, no Brasil, comparando os anos de 2004 e 2015, temos que a jornada masculina total (trabalho principal e afazeres domésticos) foi de 53,1 horas semanais (2004) e reduziu-se para 46,1 horas semanais (2015). As mulheres declararam, somando (trabalho principal e afazeres), 57,2 horas (2004) e 53,6 horas (2015). O que significa que hoje as mulheres trabalham 7,5 horas a mais por semana segundo dados do PNAD.
Além disso, o mercado de trabalho continua desigual entre homens e mulheres. Aquelas que trabalham fora de casa ainda recebem 30% a menos que os homens em funções similares. As mulheres alcançam ainda, em relação aos homens, as taxas mais elevadas de desemprego.
Temos uma realidade de muita desigualdade no campo do trabalho no Brasil. Homens e mulheres ainda recebem salários diferenciados para o cumprimento de atividades similares ou iguais; mulheres ainda têm maiores taxas de desemprego; homens ainda tem mais acesso ao mercado formal; e mulheres ainda são as maiores responsáveis pelos afazeres domésticos e cumprem as maiores jornadas semanais.
A busca por uma sociedade com equidade deve se dar a partir de uma reestruturação das bases das relações de trabalho estabelecidas até o momento. Uma reforma previdenciária que iguale o tempo de contribuição entre homens e mulheres não somente ignora por completo os limites e contradições da realidade do emprego no Brasil como evidentemente aprofundará as desigualdades já existentes neste campo.
Mais do que nunca, hoje o 8 de março para as mulheres brasileiras é um dia de resistência e luta contra os retrocessos!
*Priscila Borges é Cientista Política, mestranda em Política Social e militante da Marcha Mundial das Mulheres.
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