Notícias
Home / Conteúdos / Artigos / Contribuição da Democracia Socialista e da Militância Socialista ao Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores

Contribuição da Democracia Socialista e da Militância Socialista ao Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores

08 de julho de 2023

Mariana Janeiro e Joaquim Soriano

  1. A tensão central que marca a conjuntura nestes seis meses de governo é o esforço em defender os compromissos de campanha e o programa eleito e as forças do “mercado” – notadamente do capital financeiro e dos rentistas – e a maioria neoliberal e ultraconservadora do congresso nacional.
  2. Não vamos nos deter em avaliar o quanto “O Brasil Voltou”, pois, dentre outras, contamos com a apresentação que a companheira Miriam Belchior realizou no recente 26º Encontro do Foro de São Paulo. Disponível aqui.
  3. A eleição do presidente Lula trouxe um deslocamento significativo da capacidade de forças, mas ainda existem obstáculos para a realização de um programa de mudanças em benefício das maiorias. Portanto, o programa deve ser também uma via de mobilização. A unidade das forças de esquerda, democráticas e populares deve permanecer ativa para conquistar novas vitórias nas eleições municipais que se aproximam. É um erro considerar que a mudança possível já foi alcançada e começar a fazer concessões como método de governar.
  4. A definição do TSE pela inelegibilidade de Bolsonaro é um marco democrático importante no sentido de minar a estrutura e legitimidade deste movimento de características fascistas e antidemocráticas. Essa luta deve continuar, combinando a responsabilização jurídica dos envolvidos nos crimes cometidos pelo bolsonarismo com a disputa das bases sociais desse movimento, principalmente entre os setores populares e as classes trabalhadoras.
  5. Neste momento em que as lideranças da extrema-direita estão sendo julgadas, o seu braço fisiológico no congresso age com desenvoltura e impõe condições ao governo buscando torná-lo incapaz de realizar o programa eleito. A mobilização iniciada com o PPA é importante, mas deve culminar no lançamento do orçamento participativo nacional o mais breve possível, bem como a retomada da agenda da reforma política democrática pela esquerda. A governabilidade democrática é um desafio central a ser conquistado.
  6. A avaliação positiva dos primeiros seis meses de governo do presidente Lula e o bom momento da economia não devem nos impedir de apontar as insuficiências e riscos inerentes da política econômica até aqui adotadas. Em especial, a chamada autonomia do Banco Central e a nova regra fiscal.
  7. O Banco Central, sob direção de um bolsonarista neoliberal, apoiado na decisão antidemocrática de sua independência frente ao governo eleito, continua sendo o principal obstáculo à construção de uma dinâmica macroeconômica desenvolvimentista e distributivista. Cada vez mais isolado, mesmo entre os setores empresariais, é necessário intensificar a campanha pela remoção de Campos Neto e a pressão por uma nova política econômica, com imediata redução da taxa de juros e da Selic, bem como medidas de barateamento acelerado do crédito público e privado.
  8. A agenda econômica do capital neoliberal se fará presente na disputa dos rumos do governo em todos os quadrantes da área pública e privada. Não à toa em menos de 100 dias de governo o capital pôs o Banco Central no centro do debate da política econômica com a manutenção da elevada taxa de juros. O tipo de discurso do Banco Central pela manutenção das altas taxas de juros nos dá a dimensão da dificuldade que será administrar as bombas de efeito retardado na economia que foram deixadas pelo governo Bolsonaro. A agenda dos juros altos não é a agenda do governo Lula, mas é a agenda de todos os grandes capitalistas do país, da mídia e do capital internacional que continua interessado naquilo que o Brasil tem – suas riquezas e estatais.
  9. A habilidade do presidente Lula garantiu um fôlego de curto prazo na negociação da PEC da Transição aprovada ainda antes da posse. Por um momento de aparente tranquilidade, a PEC da Transição deu condição de, pelo menos, não bloquear o governo no primeiro semestre do seu primeiro ano de gestão. Mas, a PEC da transição é incapaz e insuficiente para dar sustentabilidade a um governo de transformação e reconstrução do Brasil.
  10. A nova regra fiscal é demasiadamente rígida, podendo prejudicar a execução de programas de crescimento e desenvolvimento necessários para dar sustentabilidade ao crescimento econômico e garantir o emprego, tanto no médio quanto a longo prazo. Programas como o PAC e o Minha Casa Minha Vida necessitam de volumes de investimento bem superiores aos R$ 75 bilhões colocados como piso (e, na prática, provavelmente também como teto) na nova regra fiscal. A necessidade de robusto investimento fiscal torna-se ainda mais sensível inclusive pela irresponsabilidade da política monetária conduzida pelo Banco Central e pelas amarras colocadas pelo neoliberalismo na ação dos bancos públicos, em especial no BNDES.
  11. Da mesma forma, não podemos aceitar que a regra fiscal impeça que áreas como saúde, educação, ciência e tecnologia tenham os recursos necessários. A hipótese de redução dos mínimos legais existentes para essas áreas não deve sequer ser considerada. O mesmo vale para os demais programas sociais, que devem ter os recursos necessários para garantir nosso programa de governo.
  12. O teto de gastos que o neoliberalismo conseguiu impor ao país foi sistematicamente alterado e não cumprido, especialmente durante o governo Bolsonaro. Apesar disso, o mercado financeiro especulativo exige de nós, que nunca nos comprometemos com essas políticas austerecidas, que tenhamos rigidez, algo que não foi cobrado dos governos representantes do neoliberalismo.
  13. Por isso a luta por uma estrutura fiscal condizente com o desenvolvimento do Brasil deve ser mantida pela esquerda mesmo depois da aprovação da nova regra fiscal. Quando houver conflito entre esta e o programa que elegeu o presidente Lula, devemos estar prontos para deixar intactos os compromissos programáticos com a população, fazendo as adequações legais pertinentes na regra fiscal.
  14. O Brasil continua a passar por um contexto de emergência ecológica e sanitária, sendo a reconstrução e avanço das políticas para estas áreas prioritárias neste próximo período. A luta feminista e antirracista, deve deixar de ser pensada como agendas separadas e iluminar toda a dimensão do programa, trazendo para a defesa de políticas públicas e garantia de direitos todo o acúmulo e potencial de lutas dos movimentos feministas e antirracistas.
  15. Desde a vitória eleitoral, temas relativos ao ambiente, emergência climática, defesa da Amazônia ocupam o interesse de cada vez maiores parcelas dos movimentos sociais em todo o mundo e da opinião pública. O papel do Brasil nesta área é crucial. Contrária a esta onda progressista encontra-se a maioria do congresso nacional, com suas pautas retrógadas que ameaçam o presente e o futuro dos povos: Marco Temporal, Grilagem de Terras, Agrotóxicos, Mineração sem controle. Urge ampliar a mobilização para barrar os retrocessos, considerando também que esta agenda é em disputa com as “corporações do capitalismo verde” que tentam centralizar as soluções à emergência climática e continuar lucrando e explorando os territórios. Haverá uma cúpula de chefes de estado dos oito países amazônicos nos dias 8 e 9 de agosto em Belém (PA), antecedida por um Fórum de Diálogos com Movimentos e Organizações da Sociedade Civil, momento importante para demonstrarmos ao mundo nossa disposição de luta em defesa da vida e do planeta.
  16. Precisamos recuperar uma identidade própria, um sentido de futuro, que seja visível e compreendido pela sociedade brasileira. Ou seja, uma atualização programática, com propostas e bandeiras que visualizem alternativas ao quadro atual que vivemos, cinzento, confuso, opressor, tendendo à barbárie no Brasil e no mundo. Unificar as Federações de esquerda ou uma Frente de Esquerda é o caminho para construir essa identidade.

Precisamos retomar o otimismo da virada do século no combate ao fórum dos ricos e poderosos de Davos, responsáveis por essas políticas econômicas de exploração, miséria e desigualdade social e reafirmar que “outro mundo é possível”.

Agora não como simples bandeira de propaganda, mas com um conjunto de políticas públicas que efetivamente mudem a vida das pessoas e favoreçam que elas possam ser também protagonistas dessa construção de novos horizontes que nos façam caminhar.

Para isso, a observação preliminar é de que a luta anti-capitalista não tem um modelo pronto e acabado para servir de guia. Aprender com os erros e os acertos, formular políticas públicas que sejam compreensíveis e tornem seus agentes protagonistas das mudanças e conquistas, é um bom método para avançar.

Nesse sentido, o PT e nossos aliados, da forma mais unificada possível, necessitam fortalecer um projeto de democracia participativa que seja um norte programático permanente e radicalmente distinto da mera representação burocrática dominante atual. A iniciativa do governo em relação ao Plano Plurianual é correta e necessária, mas precisa desdobrar nos orçamentos anuais e, principalmente, como fazê-los.

  1. É necessário trazer para o centro da estratégia de atuação social e popular, a disputa política e ideológica. O PT tem que voltar a ser PT, tem que recuperar o seu ideário de esquerda, tem que recuperar uma ação coletiva, coordenada e orientada por um projeto de sociedade que unifica a si, e aos demais setores da sociedade.

É fato que as eleições de 2022 unificaram setores importantes da esquerda partidária e social para disputar as eleições presidenciais. Agora é preciso unir a esquerda num projeto de disputa política e ideológica do país, com organização de base em defesa da democracia.

  1. Embora a correlação de forças hoje vigente no Congresso Nacional não permita agendar o tema da reforma política, é preciso ir construindo desde já a legitimidade de sua mudança em um sentido democrático e republicano. O primeiro passo é exatamente o de retomar e atualizar as propostas históricas do PT, construindo através do diálogo um programa comum para as esquerdas brasileiras.
  2. As eleições de 2024 apresentam-se como importante momento de consolidação de uma frente de esquerda que congrega as Federações de Esquerda (Brasil da Esperança e PSOL-REDE), o PSB, PDT e os movimentos sociais para disputarmos com um programa comum, obtendo vitórias importantes, derrotando a ultra direita e os neoliberais e ampliando a influência política das propostas progressistas e de esquerda na sociedade brasileira.
  3. É inegável o retorno do Brasil como protagonista importante no cenário internacional, na luta pela PAZ e pela soberania dos povos. Especialmente na América Latina e Caribe pode desempenhar papel singular para a sonhada integração regional, dando passos concretos em diferentes ações de cooperação entre nossos países, criando uma dinâmica latino americana de lutas antineoliberais.

Veja também

Calendário de Mobilização da DS para 2025

2025 vem aí com seu imenso desafio: a luta pelo Partido das e dos Trabalhadores …

Comente com o Facebook