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Da arte de tergiversar

A direção nacional da Articulação de Esquerda lançou um texto, intitulado “A emenda saiu melhor que o soneto”, em que faz uma avaliação inicial do III Congresso do PT. Ao lado de considerações sobre as decisões políticas e o clima positivo que predominou durante o evento, das quais compartilhamos, a direção nacional da AE reitera, como, aliás, o fez durante todo o processo do Congresso, ataques gratuitos e inverdades contra a tese Mensagem ao Partido: O PT e a revolução democrática.

Senão vejamos: afirma-se que “Apresentando-se como a segunda força do PT (posição que não foi possível aferir pelos motivos já explicados), a “Mensagem parece não ter percebido o isolamento em que se colocou.” Vamos por partes. Quanto à primeira parte da frase, os companheiros da AE omitem que, na primeira votação, para definição dos textos-base sobre socialismo, em que como eles mesmos afirmam “abriram mão em favor da tese “PT militante e socialista”, ficou claro que, de maneira destacada e reconhecida por militantes de diversas tendências, que a segunda tese mais votada foi a da “Mensagem ao Partido”. De novo, na votação do texto-base sobre Brasil, em que como afirmam os companheiros da AE, “a tendência Movimento PT e a tese “PT militante e socialista” apoiaram a tese “A esperança é vermelha”, ficou claro para todos os observadores atentos das mais distintas tendências que a segunda tese mais votada foi a da Mensagem. Estranhamente, a direção nacional da AE parece que não ter visto estas duas votações e se concentram na análise da terceira votação, ou seja do texto-base sobre Partido, em que, como eles mesmos afirmam, quase todas as teses retiraram seus textos em favor do projeto intitulado Novo rumo para o PT, menos a Mensagem. Ora, posto que houve um grande ajuntamento de quase todas as teses, não é estranho que a direção da AE queira tomar justamente esta votação como base para “conhecer o tamanho real de cada parte”?

Mas por quê a Mensagem não aceitou a proposta de retirar sua tese e apoiar a do “Novo rumo para o PT”? A pergunta correta a ser feita é: por quê a Mensagem, segunda força destacada em termos de número de delegadosno III Congresso, abriria mão de sua tese própria para apoiar a de uma força menor , que atacava em sua tese a própria Mensagem? Para fazer a “ANTARCTICA” e impor uma derrota simbólica ao Construindo um Novo Brasil? Quais seriam as consequências de uma atitude como esta? E mais importante ainda, o que se aprovaria de mais positivo? Será que não comprometeria o andamento dos trabalhos e não mudaria o comportamento do CNB que, como diz a AE, não bloqueou “os debates e em vários casos ajudaram a solucionar os dilemas de maneira positiva.”?

Mas vamos à segunda parte da afirmação do documento da AE, que fala do isolamento da Mensagem durante o Congresso. A Mensagem afirmou, em seu texto inicial de balanço: “As resoluções do Congresso, que respeitamos e reconhecemos, foram tomadas em um ambiente saudável de debate democrático e pluralista. Algumas delas representam avanços importantes para a renovação e a revitalização de nosso partido.” Neste aspecto, nossas análises convergem. Mas onde está o “isolamento” da Mensagem? Foram aprovadas emendas extremamente importantes de nossa autoria, de forma isolada, ou em conjunto com outras forças, o que já em si demonstra a falácia do argumento do isolamento. Algumas delas têm uma forte marca da Mensagem, à medida que as defendemos durante todo o processo congressual, como, por exemplo, a do código de ética e a da introdução de práticas republicanas associadas ao socialismo democrático. É curioso, aliás, o comportamento da AE sobre este último tema. A emenda iria ao plenário porque a AE se opos a ela na comissão de sistematização. Iria ser defendida pelos companheiros André Singer e Marco Aurélio Garcia. No último momento, a AE recuou, desistindo de encaminhar contra e votou a favor de um ítem sobre o qual tinha se posicionado contra durante todo o processo. Quem ficou isolado?  Nesse contexto o ataque à Democracia Socialista soa como provocação barata.

O sectarismo é um mal que infelizmente se enraizou em diversos setores da esquerda mundial e brasileira. O sectarismo da AE com relação à Mensagem atingiu as beiras da alucinação. A história da esquerda demonstra que o sectarismo é um dos caminhos da derrota. Convidamos a Articulação de Esquerda de volta ao diálogo construtivo de idéias conosco e com todos os setores que constroem o Partido dos Trabalhadores.

Carlos Henrique Árabe é membro da executiva estadual do PT-SP

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