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Desprezo à vida e compulsão pela morte | Luizianne Lins

Desprezo à vida. Essa característica de Bolsonaro já foi bem demostrada em suas inúmeras declarações racistas, machistas e homofóbicas. Em seus seguidos elogios a torturadores como o Coronel Ustra. E em suas relações intimas com milicianos, inclusive aqueles acusados de envolvimento no assassinato de Marielle Franco.

Não é surpresa que o mesmo desprezo à vida e a compulsão pela morte também esteja presente no cálculo cruelmente oportunista de não socorrer devidamente quem está agora perdendo bruscamente sua renda, apenas para depois jogar a culpa pelo sofrimento dessas pessoas em quem defendeu a quarentena e o isolamento social como método fundamental de combate à pandemia do Corona Virus. 

Sim, os passeios do Presidente pelo comércio de Brasília, suas selfies, seus abraços e apertos de mãos, são friamente calculados. Um cálculo perverso de quem sabe que sua política econômica antes da pandemia já trazia aumento da desigualdade e de que a crise se aprofundará ainda mais no futuro próximo. Um cálculo de quem aposta no aumento do sofrimento e da angústia de quem está ficando sem renda ou de quem vê seu negócio ameaçado. Tudo pra depois dizer que não teve nada a ver com isso e que os prejudicados “devem cobrar Prefeitos e Governadores”, como já disse mais de uma vez.

É possível dizer que o povo brasileiro tem hoje dois adversários a vencer: o Governo Bolsonaro e o vírus.

Bolsonaro sabota abertamente as iniciativas sanitárias de combate à pandemia. Suas ações e declarações são contrárias às recomendações de toda a comunidade científica mundial. À partir dele seus apoiadores são estimulados a quebrar a quarentena e negligenciar os cuidados com a própria saúde e a dos outros.

Ao mesmo tempo as medidas econômicas tomadas até agora pelo governo são lentas ou incapazes de proteger o emprego e a renda das pessoas. O governo está, por exemplo, prometendo empréstimos para ajudar empresas a pagar os salários dos seus funcionários, enquanto noutros países são os próprios governos que estão assumindo essas folhas de pagamento. É assim que Alemanha, Noruega, Portugal, Inglaterra, Espanha, Itália, entre outros, estão fazendo. Fazem isso por uma questão muito simples: pouquíssimos empresários vão querer se endividar agora quando todo mundo está prevendo uma recessão mundial profunda pelo menos até o final do ano e início do próximo. Ninguém vai se endividar sem saber se depois vai poder pagar. Daí o que virá serão demissões.

A outra alternativa apresentada pelo governo é de que a empresa reduza ou suspenda totalmente os salários dos funcionários. Nessa hipótese, restará ao trabalhador ficar vivendo apenas com uma parcela do valor do seguro desemprego a que teria direito. Nessa proposta muita gente vai ter redução de mais da metade dos salários. Vai ser isso ou a demissão.

Não passa pela cabeça do governo tributar os ricos. Não há intenção de se proibir demissões (como fez a Argentina) ou de se aumentar o número de parcelas do seguro desemprego. Não há plano para isolamento de pessoas infectadas que hoje moram em casas com 2 ou 3 cômodos juntamente com outras 10 pessoas.

Além de tudo isso, filhos e ministros do presidente insistem em atacar o principal fornecedor mundial de equipamentos médicos hospitalares, a China, em declarações delirantes de xenofobia e preconceito.

Definitivamente, mais do que nunca, dar um fim a este governo virou uma questão de vida ou morte.

O povo brasileiro tem direito a um governo que defenda a vida de todos em todos os seus aspectos. Um governo que defenda a democracia, a transparência e a participação popular. Um governo que respeite a ciência.

Um governo que exija de cada um, segundo suas possibilidades e distribua a cada um, segundo suas necessidades.

Fora Bolsonaro!!!

Luizianne Lins é Deputada Federal (PT – CE)

Publicação original no O POVO : https://mais.opovo.com.br/colunistas/eliomardelima/2020/04/12/artigo—desprezo-a-vida-e-compulsao-pela-morte.html

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