Pensar no 8 de março, Dia Internacional da Mulher nos remonta historicamente à compreender a luta das mulheres socialistas.
A história mostra que a construção de uma data de demarcação a mobilização, a luta e as conquistas das mulheres tem sua primeira referência na II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em 1910, frente a proposta de Clara Zetkin, apresentando a resolução de instaurar oficialmente um Dia Internacional das Mulheres.
ANALINE SPECHT
“As feministas burguesas demandam igualdade de direitos sempre e em qualquer lugar. As mulheres trabalhadoras respondem: demandamos direitos para todos os cidadãos, homens e mulheres, mas nós não só somos mulheres e trabalhadoras, também somos mães; E como mães, como mulheres que teremos filhos no futuro, demandamos um cuidado especial do governo, proteção especial do Estado e da sociedade.” (Alexandra Kolontai)
Pensar no 8 de março, Dia Internacional da Mulher nos remonta historicamente à compreender a luta das mulheres socialistas.
A história mostra que a construção de uma data de demarcação a mobilização, a luta e as conquistas das mulheres tem sua primeira referência na II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em 1910, frente a proposta de Clara Zetkin, apresentando a resolução de instaurar oficialmente um Dia Internacional das Mulheres.
O Dia Internacional das Mulheres Foi resultado da ação e mobilização das mulheres de esquerda, especialmente das mulheres socialistas, perpassando as operárias sufragistas norte americanas que em 3 de maio de 1908 o “Woman’s Day” (Dia da Mulher), reivindicando igualdade econômica e política para as mulheres, denunciando a exploração e a opressão das mulheres, e pautando especialmente o direito ao voto. A partir de então o “Woman’s Day”, ainda sem uma data fixa, ganhou adesão e expandiu para além das mobilizações sindicais e das mulheres operárias, passando a ser promovido pelos Partidos Socialistas e Comunistas.
Em 1914 o Dia Internacional da Mulher foi comemorado pela primeira vez no 8 de março, sendo a data escolhida por praticidade apenas, sem nenhuma referência maior.
A definição do 8 de março tem uma importante relação, também, com a atuação das operárias russas que preparavam a revolução russa de 1917, com a realização de uma ação política em 23 de fevereiro pelo calendário russo ou 8 de março pelo calendário gregoriano.
Consta que na Conferência Internacional das Mulheres Comunistas em 1921 “uma camarada búlgara propõe o 8 de março como data oficial do dia internacional da mulher, lembrando a iniciativa das mulheres russas”. (textos SOF)
O Dia Internacional da Mulher passa a ser celebrado oficialmente em 1922.
Outro fato atribuído ao 8 de março é o incêndio numa fábrica têxtil em 1857 em Nova Iorque, que teria levado a morte de 129 operárias. Sobre este fato não existem referências concretas, entretanto, este episódio não é descartado, pois muitas são as ligações entre as ações e movimentos das mulheres norte americanas de esquerda e a construção do Dia Internacional da Mulher.
Nesse sentido, é fundamental compreender e considerar o processo histórico que culminou com a constituição do Dia Internacional da Mulher, não pautando o mesmo apenas por um fato em determinado momento da história.
É Imprescindível analisar que desde o século XIX as mulheres socialistas já denunciam as condições de opressão e de exploração do sistema capitalista patriarcal, já reivindicam o direito a igualdade econômica, política e social.
Hoje em pleno século XXI as bandeiras de luta das mulheres socialistas feministas ainda estão centradas na luta pela superação do sistema capitalista patriarcal, denunciando as mesmas condições de exploração e opressão, só que agora exercidas com novos instrumentos e de forma muito mais violenta. No século XXI para além da exploração do trabalho das mulheres vivemos uma realidade em que a vida e o corpo das mulheres são meras mercadorias, em que a opressão ocorre por meios subjetivos, imateriais que formam a lógica do senso comum da sociedade capitalista.
Os desafios e as lutas das mulheres do século XXI são mais complexos, porém contam com uma forte atuação política de novos movimentos sociais, se no contexto do início do século passado as participação e visibilidade das mulheres ocorria pelos partidos socialistas e comunistas e pelo movimento das operárias, hoje existem várias organização feministas, movimentos altermundistas como a Marcha Mundial das Mulheres.
Recuperar a história e o verdadeiro protagonismo no processo de construção do Dia Internacional da Mulher é de fundamental importância, pois ao longo dos anos o capitalismo patriarcal conservador foi se apropriando da data e anulando o sentido político do 8 de março. Como uma data comercial, propagandeiam o Dia da Mulher, sugerem flores às mulheres e parabenizam o fato ser mulher, conformando um senso comum rasteiro e superficial. O mesmo senso comum despolitizado que enaltece mulheres (porque nasceram com este sexo), como Yeda Crusius, Mônica Leal, Martha Medeiros, Lya Luft, Rita Camata, Mirian Leitão, Hillary Clinton, Angela Merkel, Condoleezza Rice entre muitas outras que se quer conseguem ter uma vaga compreensão do que seja opressão e exploração de gênero, pois são produtos do sistema, que apenas reproduzem a sua lógica burguesa, ocidental, racista, xenófoba, maschista. Mulheres como estas envergonham as verdadeiras mulheres de luta.
Neste 8 de março de 2009 saudemos as grandes mulheres que fizeram e fazem a história, que contribuíram e contribuem cotidianamente para transformação social, que lutaram e lutam por uma socialista.
Saudemos a Rosa Luxemburgo, Alexandra Kolontai, Frida Kahlo, Simone de Beuvoir, Patrícia Galvão, Anita Catarina Malfatti, Tarsila do Amaral, Gertrudis Gómez de Avellaneda y Arteaga, Ana Betancourt Agramonte entre outras que fizeram a história, que não se calaram e continuam a nos inspirar.
Saudemos a Maria da Penha, Dilma Rouseff, Rosa Guillen, Marilena Chauí, Renée Coté, Nalu Farias, Rejane Oliveira, Bertolina Sisa, Luiziane Lins entre muitas outras que fazem do cotidiano o espaço de lutas.
Saudemos a todas as trabalhadoras socialistas assalariadas, servidoras públicas, autogestionárias e as militantes, todas mulheres fortes e de luta que enfrentam duplas, triplas jornadas e não abandonam as trincheiras da ação política ideológica.
Saudações feministas às mulheres de luta!
** fragmento do artigo fragmento do artigo “8 de marzo de 1913, o Dia da Mulher” publicado em 17 de fevereiro de 1913, disponível em http://www.kaosenlared.net/noticia/8-marzo-1913-dia-mujer
Referências: 8 de março Dia Internacional da Mulher: em busca da memória perdida – SOF, disponível em www.sof.org.br
ANALINE SPECHT é colaboradora do Economia Soliária RS, tem 27 anos, é socióloga, militante da economia solidária e do movimento feminista, atuou na Articulação Regional Sul do Programa de Comércio Justo e Consumo Consciente da Senaes/MTE (2007-2008). Atualmente compõe o Coletivo da Setorial Estadual de Economia Solidária do PT/RS, a coordenação colegiada da Marcha Mundial das Mulheres do RS e a Rede Economia e Feminismo – REF – Mais informações em participantes.
Comente com o Facebook