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Die Linke: uma nova solução para as crises do euro

319494Por Flávio Aguiar, publicado originalmente na Carta Maior

Normalmente, as propostas do partido Die Linke não são levadas muito a sério pela mídia convencional alemã, dominada até a raiz dos cabelos pelos concentos da ortodoxia econômica – com exceções, é claro.

Além disso o partido é visto com uma tradicional desconfiança de ser uma aglomeração de nostálgicos da RDA, remanescentes do comunismo, ou dissidentes populistas do SPD social-democrata. Volta e meia aparece uma denúncia de que algum membro proeminente do partido colaborou com a Stasi – a polícia política do regime comunista, hoje fora da lei.

No passado não muito distante houve uma tempestade midiática porque um membro da direção do partido enviou cumprimentos a Fidel Castro por ocasião de seu aniversário. Para completar esse quadro, muitos membros dele são vistos como próximos de Hugo Chavez – o abominável homem dos trópicos.

Entretanto, na semana passada, essa situação tradicional sofreu uma rotação de 180 graus. O motivo dessa reviravolta foi uma proposta da deputada federal Sarah Wagenknecht, de 43 anos. A proposta desenvolve um raciocínio absolutamente original para literalmente “esvaziar” a crise do euro – esvaziando a bolha das dívidas soberanas e a bomba relógio de uma crise internacional de grandes proporções em que a moeda europeia se transformou.

Sarah Wagenknecht é filha de mãe alemã e pai iraniano – que ela não chegou a conhecer. Autora de uma tese universitária sobre a leitura do jovem Marx sobre Hegel. Nascida na ainda Alemanha Oriental, ela entrou para o Partido Comunista alguns meses antes da queda do muro de Berlim e da consequente dissolução do regime, com a posterior reunificação das Alemanhas.

Tornou-se líder da corrente “Plataforma Comunista”, hoje integrando a Linke. Foi eleita membro do Parlamento Europeu, onde faz parte da comissão para o Mercosul. Em 2009 elegeu-se deputada no Bundestag, pelo estado da Renânia do Norte/Vestfália, onde é vice-líder no plenário. É também vice-presidente da Linke.

A proposta de Sarah começa com uma drástica redução de todas as dívidas soberanas dos países da Zona do Euro. Apenas a parte da dívida que não exceda 60% do PIB de cada país seria paga. O resto seria simplesmente zerado. Isso atingiria a própria Alemanha, onde a dívida soberana está em 80% do PIB.

Isso provocaria uma quebradeira de bancos e instituições financeiras conexas. Mas, esclarece ela, “o risco” faz parte das operações capitalistas.

Porém, para minorar os efeitos imediatos das quebras, os estados – através de um acordo pan-europeu – injetariam capital novo nesses bancos e nessas instituições financeiras, mas apenas para garantir que as operações ligadas às contas dos clientes e aos investimentos na “economia real” – produtiva – não sofressem solução de continuidade. No setor de poupança, os estados garantiriam investimentos de até um milhão de euros, Com isso, argumenta ela, o setor especulativo dos bancos – que forneceu desreguladamente créditos para que governos irresponsáveis endividassem brutalmente seus estados e cidadãos – seria simplesmente varrido do mapa.

Mas isso não é tudo. Para se contrapor à insolvência que chegaria também a alguns estados, estes receberiam ajuda diretamente do Banco Central Europeu (que hoje injeta capital nos bancos ameaçados e no setor financeiro esperando que estes continuem operando “razoavelmente” com as letras das dívidas soberanas), num montante anual de até 4% do seu PIB. Ainda além, o setor bancário seria disciplinado para oferecer negócios e empréstimos apenas com base na realidade dos depósitos que abrigam, ao invés de com olho nas possibilidades especulativas desregradas, como aconteceu até agora.

Por que essa nova e súbita compreensão quanto a uma proposta da “jurássica”(o termo é meu) Linke?

Como reconhece Christian Rickens em artigo no Der Spiegel (Out of the Left Field: a New Idea to Save the Common Currency, 27/07/2012), a atmosfera européia está saturada pelo fracasso das políticas econômicas ortodoxas e dos planos de austeridade que não funcionam.

Ainda é difícil que proliferem na mídia européia visões com a de Paul Krugman, seguidamente exposta no NY Times, para quem os planos de austeridade são os principais indutores da própria crise européia, afundando as economias em redemoinhos recessivos.

Mas a fadiga do pensamento ortodoxo é evidente. Tanto quanto a teimosia de seus gurus em não dar o braço a torcer.

 

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