Reproduzimos abaixo a intervenção de José Ramón Balaguer, membro do secretariado do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, no ato final do 18º Foro de São Paulo, que foi realizado em Caracas – Venezuela, no último mês de julho.
Em seu discurso, Balaguer defende a importância da vitória do presidente Hugo Chavéz – nas eleições do próximo dia 7 de outubro – para o aprofundamento da integração latino-americana e das mudanças sociais ocorridas no continente:
“O imperialismo sabe que Venezuela, sob a liderança do camarada Hugo Chávez, é uma vanguarda das lutas patrióticas revolucionárias internacionalistas no mundo; que é uma incalculável reserva espiritual e material para as mudanças e a integração dos povos latino-americanos.
Segundo ele, é preciso resistir à ofensiva norte-americana focada em “garantir seu domínio neocolonial sobre os recursos econômicos e soberania política e militar no continente”. Para Balaguer a estratégia dos EUA para a América Latina passa pela reversão dos processos revolucionários em curso no continente, para o fortalecimento de seus interesses econômicos e políticos na região, promovendo a ascensão de uma nova direita – como a representada por Capriles, concorrente de Chávez no próximo pleito.
Balaguer também chama a atenção para a persistência de tentativas de golpes de Estado na América Latina com a intenção de barrar os processos em curso no continente:
“Um exemplo do constante assédio a estes processos são as frustradas tentativas golpistas na Venezuela em 2002, Bolívia em 2008, Equador em 2010 e os golpes de Honduras, em 2009, e recentemente no Paraguai”.
Leia abaixo a íntegra da intervenção de José Ramón Balaguer, membro do secretariado do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba
Estimado companheiro Hugo Rafael Chávez Frías, presidente da República Bolivariana da Venezuela; delegadas e delegados do XVIII Encontro do Foro de São Paulo, os avanços do movimento progressista e revolucionário na América Latina e no Caribe hoje são claros e animadores, êxitos que constituem uma expressão da crise do capitalismo mundial, das mudanças geopolíticas globais que a acompanham, bem como as novas noções e práticas políticas da esquerda latino-americana e caribenha. O mapa político regional hoje exibe uma impressionante diversidade de processos patrióticos nacionalistas, progressistas, socialistas e revolucionários, a que devemos adicionar o crescente fortalecimento das organizações políticas de esquerda, os espaços de concentração e integração, como a Aliança Bolivariana para os Povos da América, Petrocaribe, UNASUL e, em particular, a CELAC, instituições sem precedentes na história moderna de nossos países que desde a guerra da independência se consolidam paulatinamente e nos permitem avançar de forma conjunta em maiores níveis de soberania e independência frente aos poderes que hegemonizam a economia e a política mundial.
Por outro lado, nos últimos anos a América Latina e o Caribe se caracterizaram por indicadores macro-econômicos favoráveis graças aos altos preços da energia, dos alimentos e outros recursos naturais. Não obstante, apesar dos dados macro-econômicos, se aprofundaram as desigualdades e não foi garantido o desenvolvimento devido ao domínio econômico das multinacionais, ao pagamento da dívida, à injusta distribuição das riquezas, à fuga de capitais e à estrangeirização de dividendos. Os Estados Unidos continuam sendo o principal destino das exportações latino-americanas e caribenhas e pelo agravamento da crise do país, Europa e Japão ligados aos cortes no crescimento de algumas economias asiáticas já começaram a impactar na América Latina e no Caribe por seus altos níveis de interdependência com nossas regiões, a crise já vem nos provocando o aumento do desemprego entre os setores mais pobres e desprotegidos, o crescimento acelerado da violência social, a revitalização do narcotráfico como alternativa econômica junto ao desgaste de muitas organizações políticas e sociais também se refletem em maiores níveis de erosão e tensão sociais, que se agravadas podem se expressar em lutas e rebeliões populares contra o status quo; os governos de esquerda também estão enfrentando o trabalho de sapa que é realizado pelo imperialismo norte-americano e a direita interna.
Na América Latina e no Caribe não se define a liderança unipolar norte-americana, mas o enfraquecimento de sua influência é um desafio aos seus interesses imperiais, a causa fundamental do conflitos entre os Estados Unidos e as forças progressistas e revolucionárias latino-americanas é o objetivo norte-americano para garantir seu domínio neocolonial sobre os recursos econômicos e soberania política e militar no continente, esses processos são a base do aumento defendido das contradições entre os Estados Unidos e seus aliados contra a nova liderança emergente na região, seu esforço para reverter os processos revolucionários para fortalecer os interesses econômicos, políticos e norte-americanos na região implicam em promover a ascensão de uma nova direita, conter a influência dos países da ALBA e derrotar as experiências progressistas e revolucionárias, especialmente da Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Paraguai, Equador e Cuba, incrementar e modernizar seu poderio militar, voltar a controlar os principais recursos naturais e conter o avanço de China, Rússia e Irã e outros setores. Um exemplo do constante assédio a estes processos são as frustradas tentativas golpistas na Venezuela em 2002, Bolívia em 2008, Equador em 2010 e os golpes de Honduras, em 2009, e recentemente no Paraguai.
O Partido Comunista de Cuba reafirma que atos como o ocorrido no Paraguai pretendem frear os processos de mudanças progressistas e de genuína integração latino-americana e caribenha na nossa América. Consideramos que este golpe se soma à larga lista de atentados contra a autodeterminação dos povos latino-americanos sempre realizados pelas oligarquias com a autoria, cumplicidade ou tolerância do governo dos Estados Unidos. Fidel recordava recentemente que se a história de cada uma das nações da América Latina for analisada, desde o México até a Patagônia, passando por Santo Domingo e Haiti, será possível observar que todas, sem nenhuma exceção, têm sofrido, durante 200 anos, desde o início do século XIX até hoje, de uma forma ou de outra estão sofrendo cada vez mais os piores crimes que o poderio e a força podem cometer contra o direito dos povos; a forma ambígua e velada com que os Estados Unidos conduzem sua ofensiva política militar contra a América Latina não contradizem sua vocação belicista e imperial. As bases militares na Colômbia, Panamá e outros países, o relançamento da IV Frota, o respaldo real aos golpes de Estado de Honduras e do Paraguai, o recrudescimento da ofensiva contra os países da ALBA e a aprovação do orçamento militar mais alto de toda a história dos Estados Unidos confirmam que os principais grupos de poder estadunidenses rearticulam uma estratégia hegemônica para a América Latina como parte dessa ofensiva imperialista pela liderança mundial. A mais recente Cúpula das Américas e a XLII Reunião da Organização dos Estados Americanos, OEA, colocaram em evidência a recente rejeição de nossos países da América Latina e o Caribe a já anacrônica política de isolamento que desde o triunfo da revolução cubana o imperialismo quer implementar. Hoje essa estratégia está em franco retrocesso, é um fracasso, incluindo nos cenários como a OEA e as mencionadas cúpulas foram utilizadas para aplicá-la. Em todo o caso, nos tempos atuais vividos na região, se demonstrarão como nunca antes, que organizações com a OEA não representam os interesses dos nossos povos e que as alternativas seguem sendo hegemonia imperial e recolonização ou verdadeira independência e mudanças sociais.
Delegadas e delegados, nos próximos anos os processos progressistas revolucionários latino-americanos e caribenhos terão que enfrentar unidos desafios importantes que derivam da complexa situação mundial, agravada pelo impacto da crise econômica e da maior agressividade do imperialismo norte-americano e seus aliados.
No ato comemorativo do 10º aniversário do Convênio Integral de Cooperação Cuba-Venezuela, em 8 de novembro de 2010, o companheiro Raul disse:
“Enquanto na América Latina se agrava o enfrentamento entre os setores reacionários e conservadores, que defendem um modelo político e econômico dependente e explorador, por outro lado avançam as forças revolucionárias e progressistas comprometidas coma justiça, a igualdade e a independência dos povos da região.
Neste contexto, a relação entre Cuba e Venezuela se converte no melhor exemplo de como devem ser os vínculos entre os povos e adquire maior dimensão se for levado em conta que se desenvolve em meio à difícil conjuntura internacional que vivemos em que prevalece a instabilidade política e econômica e quando a crise econômica global, energética, alimentar e ambiental se somam às graves ameaças à paz…”
No dia de ontem escutamos as palavras da camarada Gabriela Montaño, da Bolívia. Ela expressava com profunda intensidade e sentimento a importância e a transcendência da Revolução Bolivariana e sua preocupação com relação aos perigos que pairam sobre a Revolução Bolivariana.
Nesse momento veio à minha memória Martí, que em um dos últimos minutos de sua vida, antes de morrer, escreveu uma carta a um amigo (Manuel Mercado) mexicano, e nela dizia o que havia feito em silêncio e que agora abria o coração para expressá-lo nessa carta, de que tudo que havia feito até esse momento era tentar impedir, com a independência de Cuba, que os Estados Unidos caíssem com mais essa força sobre os povos da América.
Nesse momento pensei: apesar dos mais de cem anos dessa expressão, é algo que pode ser aplicado ao momento que vivemos na América Latina. E poderia se dizer a todos nós que tudo o que fazemos e devemos fazer será para impedir, com a consolidação e o desenvolvimento permanente da Revolução Bolivariana, que os Estados unidos possam se lançar com mais essa enorme força sobre os povos da América.
Hoje o imperialismo e as forças da reação internacional falam mais uma vez de forma austera do desaparecimento da Revolução Bolivariana, e com ela, da eliminação de todos os avanços da esquerda latino-americana e caribenha. Ele articula uma aliança imperialista internacional contra a Venezuela e os países da ALBA, que sob a liderança dos Estados Unidos incluem seus aliados ocidentais e os mais diversos setores conservadores no mundo.
Outra vez subestimam a linhagem patriótica e heróica dos povos latino-americanos e do povo venezuelano, assim como sua capacidade de luta e de compreender os desafios que temos.
O imperialismo sabe que Venezuela, sob a liderança do camarada Hugo Chávez, é uma vanguarda das lutas patrióticas revolucionárias internacionalistas no mundo; que é uma incalculável reserva espiritual e material para as mudanças e a integração dos povos latino-americanos.
Assim, como uma extraordinária bandeira das lutas políticas e ideológicas internacionais contra o imperialismo e a favor do socialismo, é preciso estar alertas frente aos planos subversivos e contra-revolucionários contra a Revolução Bolivariana, bem como frente às pressões e sanções econômicas e os esforços por dividir e minar o apoio popular com que contam os governos dos países da ALBA, objetivos imediatos do imperialismo estadunidense. Os avanços dos venezuelanos e venezuelanas dependerão em grande parte da possibilidade de consolidar as transformações progressistas dos últimos anos, é por isso que a solidariedade com a Revolução Bolivariana deveria ser um dos aspectos vitais da nossa batalha internacional nos próximos tempos. Frente a uma aliança imperialista internacional não há outra alternativa que fazer uma concentração progressista e revolucionária internacional, para a defesa da Irmã República Bolivariana e de seu líder, o presidente Hugo Rafael Chávez Frías.
Apoiar os processos políticos, revolucionários e progressistas da América Latina é respaldar suas transformações econômicas e sociais, dirigidas a alcançar a justiça social, suas posturas e a futura unidade da nossa América. A unidade irá tornar mais forte a América de Martí e Bolívar e para isto é necessário contribuir com o surgimento, consolidação e desenvolvimento de todos os processos de integração, que contribuem para o fortalecimento da independência e a soberania dos povos latino-americanos e caribenhos, trabalhar a favor do fortalecimento dos processos de integração como a Aliança Bolivariana para os povos da nossa América, a União do Sul (UNASUL), Petrocaribe, Caricom e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Nós pensamos que esse deveria ser para todos nós e todas as forças revolucionárias de nossa América, o objetivo estratégico principal, a integração de nossos povos.
Camaradas, para a delegação do Partido Comunista de Cuba, a única alternativa frente à crise do capitalismo neoliberal é o socialismo, que supõe independência, plena condição inevitável para o desenvolvimento, justiça social e solidariedade social, respeito ao meio ambiente e ao direito dos povos de escolher democraticamente o projeto de sociedade que cada nação queria. Nossa pequena ilha, que estava saindo de um período especial de mais de uma década, agora enfrenta os embates da crise econômica mundial, do modelo neoliberal e o aperto do bloqueio estadunidense, bem como, também, a necessidade de superar os próprios erros e adequar a sociedade às exigências atuais.
Nesta complexa situação, a direção de nosso país, em conjunto com o povo, analisa as medidas necessárias para preservar ao máximo as conquistas sociais e realizar as mudanças que produzam as transformações econômicas e sociais necessárias, que patrocinem o uso adequado dos recursos disponíveis, a necessária busca por eficiência e maior racionalidade econômica para as atuais circunstâncias. Se Cuba pode resistir às graves consequências do duplo bloqueio durante o período especial e hoje enfrenta as complexidades da crise internacional, é por uma unidade do povo em torno de seu partido, a Fidel e a Raúl, bem como seu apego aos valores socialistas, como explicou o companheiro Raúl na quinta sessão da Assembleia Nacional do Poder Popular, essa unidade entre os revolucionários e entre a direção tem nos permitido chegar até aqui e continuar no futuro aperfeiçoando o socialismo.
A unidade se fomenta e se colhe na mais ampla democracia socialista e na discussão aberta com o povo de todos os assuntos, por mais delicados que sejam.
Com mais razões que nunca, frente aos desafios que enfrentamos e os que estão por vir, os revolucionários e revolucionárias cubanas empunhamos com mais vigor que nunca as bandeiras patrióticas e socialistas. Camaradas, a única opção para avançar frente aos novos desafios e os colossais poderes imperiais, multinacionais e mundiais será a unidade em nossa diversidade e a capacidade de entender a necessidade de multiplicar de forma criativa a solidariedade entre as forças da mudança e do progresso. Como assegurou José Martí, é a hora do acerto de contas e vamos prosseguir em marcha unida, em fileiras próximas, como a prata nas raízes dos Andes.
Muito obrigado.
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