Em 20 de julho de 1995, há 20 anos, morria o belga Ernest Mandel, um dos principais intelectuais e dirigentes marxistas revolucionários da segunda metade do Século XX, que teve grande participação e influência nos debates da esquerda brasileira.
Formado politicamente no ambiente da resistência ao nazismo e ao estalinismo nos anos da Segunda Guerra Mundial, se transformou num dos principais expoentes do pensamento marxista revolucionário que se ergueu contra as duas correntes majoritárias do movimento operário, a socialdemocrata e a estalinista.
Desde a fundação da nossa corrente em 1979 foi um interlocutor de primeira ordem. Nossa denominação como “Democracia Socialista” é um reconhecimento da elaboração de um setor importante da esquerda revolucionária de várias partes do mundo que naquele tempo se reunia em torno à IVa Internacional, na qual Mandel foi figura de destaque. A gigantesca tarefa era como superar a trágica herança do estalinismo no movimento operário e socialista no mundo.
Mandel foi autor de vários livros que renovaram a economia marxista. Em português foram publicados “A formação econômica do pensamento de Marx” (Coimbra, 1978), “O capitalismo tardio” (S.Paulo, 1985) e “A crise do capital: os fatos e sua interpretação marxista” (Campinas, 1990).
Sempre esteve aberto ao debate com outras correntes do marxismo. Assim, nos anos 1960 participou ativamente em Cuba, apoiando as posições do ministro Ernesto Che Guevara, em relação ao planejamento socialista. E foi um entusiasta da revolução sandinista, vitoriosa em 19 de julho de 1979.
Quando a experiência estalinista estava chegando a seu final, nos anos 1980, analisou seu curso em diversos escritos e no livro traduzido para o português com o título “Além da perestroika” (S.Paulo, 1989) publicado em dois volumes.
Em 1990 o PT e o PC Cubano organizaram o Fórum de São Paulo reunindo um amplo espectro de organizações de esquerda de toda América Latina num contexto mundial marcado pela debacle do socialismo estalinista e do fim da URSS que aconteceria no ano seguinte, e numa conjuntura regional pautada pelo ascenso vertiginoso do neoliberalismo.
No Terceiro Encontro do Fórum realizado em julho de 1992 em Manágua (Nicarágua) Mandel participou como convidado e apresentou a tese “Façamos renascer a esperança”(1) que teve grande repercussão. Posterior a esse evento, em sua última visita ao Brasil, voltou a falar da importância dos socialistas retomarem a luta de massas a partir das necessidades mais sentidas da população ao tempo de reconstruir o horizonte da luta anticapitalista.
Vinte anos se passaram desde sua morte. Ficaram conosco o exemplo de sua fraternidade com a luta do povo brasileiro e latino-americano, sua obra econômica marxista fundamental para entender o capitalismo do nosso tempo e sua preocupação teórica e estratégica de projetar um socialismo com democracia.
Nota:
(1) Para a versão editada por um jornal sandinista na época, ver, em castelhano:
http://www.ernestmandel.org/es/escritos/txt/hagamos_renacer_la_esperanza.htm
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