Jornal DS 25 [Mai2010]. As recentes eleições regionais francesas tiveram como resultado a maior derrota da direita desde a eleição de François Mitterrand para a presidência do país, em 1981. O governo Sarkozy e o seu partido (UMP) assistiram o Partido Socialista “ressuscitar” politicamente após a fragorosa derrota sofrida nas eleições europeias do ano passado, e ganhar 21 das 22 regiões da França continental.
Eduardo Mancuso *
Para completar, o maior rival de Sarkozy no seu partido, Dominique de Villepin, anunciou, logo após a derrota eleitoral da UMP, a criação de um novo partido de centro-direita para disputar as eleições de 2012.
A abstenção superou os 50%, expressando o descontentamento com três anos de gestão “hiperpresidencial” midiática e de poucos resultados, enquanto pesquisa realizada pela agência Ipsos mostrou que 58% dos franceses o rejeitam para as próximas eleições presidenciais. O discurso da segurança com a política repressiva do governo aos jovens e migrantes nas periferias não reduziram a violência. Alguns analistas afirmam que, com a crise econômica, os agricultores votaram em massa na Frente Nacional de extrema-direita, que voltou a se posicionar como a quarta força política do país, após ter sido “esvaziada” eleitoralmente pela direita mais moderna de Sarkozy em eleições anteriores.
A esquerda se articula
O PS francês, sob a liderança de Martine Aubry, luta por reunificar-se, renovar seu discurso, encontrar um programa político e recuperar a base social perdida desde a derrota de sua candidata, Sególene Royal, nas eleições presidenciais, que levou o partido a enfrentar sua maior crise. Já a Europa Ecologia, liderada por Daniel Cohn-Bendit, que reúne os Verdes, ecologistas de variadas matizes e alguns movimentos sociais (com a participação de Bové), e que havia obtido um surpreendente resultado nas eleições europeias (por volta de 15%), elegendo vários parlamentares, voltou a ter um bom desempenho nas urnas, sendo importante aliada do PS em várias regiões no segundo-turno. A Frente de Esquerda, reunindo o Partido Comunista Francês, o Partido de Esquerda (cisão recente do Partido Socialista) e o grupo de Piquet (ex-dirigente da LCR que não acompanhou a maioria da Liga no processo de criação do Novo Partido Anticapitalista), alcançou 6%, índice semelhante ao que havia obtido nas europeias (quando conseguiu superar a cláusula de barreira e elegeu parlamentares).
O fracasso eleitoral do Novo Partido Anticapitalista (NPA), liderado por Olivier Besancenot, o “jovem carteiro” como é conhecido (uma das figuras públicas com melhor imagem na opinião pública francesa, segundo pesquisas de opinião), resulta da política sectária adotada desde a sua fundação há menos de dois anos. O NPA vem se recusando a participar das tentativas de aliança e convergência da esquerda francesa, que, aliás, ainda está muito longe de superar a sua grave crise política, que culminou com a vitória presidencial de Sarkozy. O resultado do NPA nas eleições européias do ano passado, primeiro teste político do novo partido, frustrou suas próprias expectativas otimistas, não conseguindo superar a barreira de 5% e nem eleger deputados ao parlamento europeu, como era esperado. Agora, nas eleições regionais, os resultados foram bem piores, ficando em torno de 2,5%. Já na região de Limousin (centro da França), onde o NPA se aliou com a Frente de Esquerda, chegaram a 14%.
* Eduardo Mancuso é assessor de cooperação internacional da Prefeitura de Canoas (RS), e editor internacional do Jornal Democracia Socialista/Em Tempo.
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