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Internacionalismo do século XXI

Em Mar Del Plata, toda a América disse não a Bush.

Convocada para se opor à Cúpula das Américas (que reúne os presidentes de todos os países menos Cuba), a Cúpula dos Povos foi um grande sucesso. Contribuiu para isso uma inédita convergência entre movimentos e governos da região, interessados em demarcar sua rejeição à política de George W. Bush no continente.

A Cúpula dos Povos aconteceu em novembro em Mar del Plata, Argentina, paralelamente às reuniões dos governos. As oficinas e seminários serviram para aprofundar o debate crítico às estratégias das grandes multinacionais em áreas chave: contra os transgênicos, contra a privatização da saúde e da educação, contra a mercantilização do corpo das mulheres, contra o controle das multinacionais sobre a água, em suma, contra a agenda das negociações de “livre comércio”.

Um dos momentos altos foi a assembléia que adotou uma declaração batendo duro em pontos como: contra a retomada das negociações da ALCA, convocando a unidade de todo o continente contra Bush. É nesse contexto que ganha destaque o debate das propostas alternativas ao “modelo ALCA”, e nesse ponto, há o que se resgatar dos debates realizados ao longo das disputas dos movimentos sociais e sindicais em relação ao Mercosul desde a década passada.

Há todo um conjunto de iniciativas que o governo da Venezuela vem impulsionando sob a denominação de ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas). Está em aberto o que virá a ser a Comunidade Sul-americana das Nações (um espaço geopolítico de contraposição às políticas do governo dos Estados Unidos, como quer Chávez, ou uma instância regional para organizar a subordinação aos ditames do governo e dos capitais daquele país, como propôs originariamente FHC). Sobretudo há o acúmulo reunido através da Aliança Social Continental, e que está expresso no documento “Alternativa para as Américas”, que define uma agenda alternativa e contraposta à da ALCA.

As mobilizações em Mar del Plata adquiriram um caráter massivo na marcha final e no ato que se realizou em um estádio de futebol, quando se reuniram cerca de cinqüenta mil pessoas. Essas mobilizações se viram fortalecidas pelo papel jogado por personalidades argentinas – incluído o ex-jogador Diego Maradona – em uma convocatória ampla contra o Bush. Mas também ajudou de forma decisiva a presença de representantes de peso da revolução cubana – como o cantor Silvio Rodriguez – e a do presidente Hugo Chávez, da Venezuela.

Uma outra integração é possível
Para entender a transcendência do acontecido em Mar del Plata, há que se verificar a trajetória que a luta contra a ALCA teve desde a Cúpula anterior, em abril de 2001 no Quebec. Aquela Cúpula dos Povos foi importante porque definiu um consenso – que até então não existia – de uma campanha “contra” o projeto ALCA (e não para emendá-lo, como alguns setores esboçaram como estratégia na fase anterior). Mas era um momento de aceleração das negociações oficiais e o governo Chávez era uma voz isolada e tímida frente aos outros 33 governos.

Sobre esse consenso construído pela Aliança Social Continental no Quebec, pôde-se erguer no período seguinte a Campanha Continental contra a ALCA, um espaço unitário de convergências contra as políticas do imperialismo na região. Ela deu uma identidade comum e uma articulação continental às lutas de resistências, e influenciou decisivamente no curso que tomariam as representações oficiais de alguns países.

Em Mar del Plata, não somente a voz de Chávez levantou-se contra Bush e a ALCA.O conjunto de países do Mercosul atuou junto com Venezuela, questionando a retomada das negociações. O presidente do México, Vicente Fox, foi quem destoou, pressionando para que a declaração dos presidentes incluísse como consenso a volta dessas negociações, e após o encontro, ainda provocou um incidente diplomático com a Venezuela que levou à retirada dos embaixadores de ambos os países.

É importante registrar que, dias depois de Mar del Plata, as negociações entre os países andinos e os Estados Unidos para um tratado de livre comércio fracassaram. Uma fortíssima oposição de mobilizações populares nos diversos países dessa região impedia que seus governos fizessem concessões aos Estados Unidos e aceitassem suas imposições.

O fato é que na região se desatou uma dinâmica política de questionamento à agenda imperialista. O governo Chávez é a ponta de lança desse processo, mas como o próprio presidente venezuelano faz questão de afirmar, isso só é possível porque há uma aliança estratégica com outros processos nacionais – dentre os quais o do Brasil, com o PT e o governo Lula, é prioritário e estratégico.

As bandeiras antiimperialistas são as que têm mais capacidade de, operando desde os níveis de consciência política mais básicos, desenvolver-se em novas bandeiras democráticas e populares que apontem rumo ao socialismo. As potencialidades estão abertas e precisam ser desenvolvidas. Essa foi a mensagem de Mar del Plata. Essa é parte importante da agenda do Fórum Social Mundial em Caracas.

 

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