Por Rodrigo Mathias
A Marcha dos Povos em Defesa do Planeta e da Humanidade certamente foi a ponto alto da Cúpula dos Povos até aqui. Mesmo debaixo de chuva, cerca de 80 mil pessoas participaram da manifestação no Centro do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (20), ocupando toda a extensão da Avenida Rio Branco, uma das mais importantes da cidade.
O ato é uma maneira dos movimentos sociais de todo o mundo chamarem a atenção dos governantes que estão reunidos no Rio Centro para a realização da Rio + 20. Apesar da grande pluralidade de pautas e reivindicações que podiam ser vistas nos milhares de cartazes e faixas durante o ato, a crítica aos danos ambientais causados pelo sistema capitalista e o repúdio à falácia da economia verde deram o tom da manifestação, como bem resumiu a vice-presidenta da UNE, Clarissa Alves da Cunha.
“Os movimentos sociais do mundo inteiro estão aqui hoje para dizer que o planeta precisa de um novo modelo de desenvolvimento. Se queremos caminhar em direção a uma sociedade justa, igualitária e sustentável, devemos dizer bem alto aos governantes mundiais que o sistema capitalista, mesmo pintado de verde, não nos contempla”, afirmou Clarissa durante sua intervenção em um dos carros de som do ato.
A companheira aproveitou pra criticar a retirada da expressão “direitos reprodutivos”, que se refere à autonomia das mulheres para decidir quando ter filhos, do texto final da Rio + 20, após pressão do Vaticano.
Mulheres vão às ruas novamente
Os movimentos feministas mostraram mais uma vez sua força. Apenas dois dias depois de participar de uma grande caminhada, que contou com a presença de cerca de 10 mil mulheres, movimentos como a Marcha Mundial das Mulheres conseguiram repetir o sucesso da convocação e se destacaram durante o ato.
Veja aqui o vídeo de uma das intervenções da MMM no ato
Parlamentares comprometidos com a lutas populares também fizeram questão de participar da manifestação. Militante da DS, o deputado estadual Robson Leite (PT-RJ) afirmou que a marcha foi um dos principais momentos não só da Cúpula dos Povos, mas também da Rio + 20:
“A Cúpula tem sido o contraponto necessário à Conferência da ONU. Sem esse tipo de pressão social, os líderes mundiais ficariam muito confortáveis no isolamento do longínquo Rio Centro. É preciso que a voz dos movimentos sociais seja ouvida, para que a Rio + 20 não se torne um fracasso por pressão do grande capital mundial”, afirmou.
Povos de todo o mundo
A participação de militantes estrangeiros na marcha também foi grande. Desde cambojanos protestando contra a prisão de ativistas em seu país, até argentinos se opondo às grandes mineradoras, os movimentos e ONGs de outros países se fizeram presentes no ato. O destaque em termos de visibilidade ficou para uma ONG alemã, que levou para as ruas do centro do Rio um tanque forrado de pão árabe, pela redução dos gastos militares no mundo. Se dependesse da militante portuguesa Benedicta Mena, a Rio + 20 sequer seria realizada:
“Para mim a verdadeira conferência mundial sobre o meio ambiente está sendo realizada aqui na Cúpula dos Povos. O encontro do Rio Centro não consegue chegar a avanço algum, pois os países desenvolvidos estão totalmente comprometidos com os interesses das grandes corporações mundiais”, desabafou.
Entre as personalidades mais execradas durante os discursos nos carros de som, os deputados e deputadas da bancada ruralista do Congresso brasileiro tiveram o maior destaque. Os maiores países poluidores do planeta também foram lembrados pelos manifestantes. Com gritos de protesto como “China, o planeta não é uma latrina” e “Obama, não fuja à Pacha Mama”, os líderes dessas nações também foram “homenageados” pelos militantes.
A próxima grande atividade da Cúpula dos Povos começa nesta sexta-feira (22) e deve terminar somente no sábado (23). Durante esses dois dias acontecerá a Assembleia dos Povos, que tem como objetivo debater uma agenda mundial comum de lutas e campanhas e de fazer a avaliação da Rio + 20 pelo ponto de vista dos movimentos sociais.
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