Por Joaquim Soriano *
A filiação de Marina Silva ao PSB no dia 5 de outubro encerra apenas um capítulo da novela. Ela agora é filiada e pode concorrer a cargo eletivo em 2014. O processo de constituição do partido Rede Sustentabilidade prossegue. O TSE só disse que para ter o registro precisa cumprir as regras atuais. Faltam poucas assinaturas reconhecidas pelos cartórios para atingir as 492 mil. E o partido pode existir a qualquer tempo. Para se candidatar é que ela precisa estar filiada a partido político um ano antes das eleições.
Marina aproveita a decisão do TSE para aparecer como vítima de uma perseguição, chega a dizer que a democracia está em risco. Tudo porque o tribunal disse que tem uma regra que vale para todos e todas. Interessante assinalar que a ministra Cármen Lúcia, presidenta do TSE, aconselhou Marina a se filiar a partido com a qual mais se identificasse. E foi o que ela fez.
Já muitos integrantes da Rede ficaram chateados porque, afinal, sua maior liderança entrou para um partido tradicional. Perdeu a aparente leveza de ser “nova e pura”.
Quem ganha com esta “aliança” é Eduardo Campos. O apoio de Marina ao seu projeto agrega uma imagem de renovação, de diálogo com as manifestações de junho, de uma aliança programática a favor de um Brasil melhor.
A direita que apóia Eduardo Campos estava devidamente escondida durante o ato de filiação, inteiramente transmitido pelas organizações Globo. A deputada Luiza Erundina estava na mesa e foi chamada de “minha amiga” por Marina. Desta vez ela estava na foto e a direita não.
Mas até quando poderão esconder os novos “socialistas” como Paulo Bornhausen, de Santa Catarina e Heráclito Fortes, do Piauí? E Ronaldo Caiado, ainda no DEM, que o apóia?
A candidatura de Eduardo Campos se constitui aos solavancos. Fez estragos no PSB, onde no Ceará a saída dos Ferreira Gomes é o maior exemplo, mas não foi só aí. Atraiu grupos de direita e agora Marina e sua Rede.
Assim constituída, é uma frente eleitoral, que ainda buscará se fortalecer com alianças partidárias, pois necessita dos valiosos minutos na propaganda eleitoral do ano que vem, e que se pretende como um novo campo político, capaz de romper a polarização do PT com o PSDB.
Nas eleições de 2010, Marina, pelo PV, fez 20% dos votos nacionais. Em grandes centros urbanos chegou a 30%.
Nas eleições de 2012 este “espaço eleitoral” apareceu em várias das grandes cidades e foi ocupado por diferentes candidaturas, de diferentes partidos. Num certo sentido “o homem novo para o tempo novo” do Haddad, em São Paulo, enfrentou a candidatura do Russomano, com larga vantagem para o segundo, durante boa parte da campanha. Apareceu com o Freixo do PSOL no Rio de Janeiro, com o Ferrer do PDT em Fortaleza.
Em junho de 2013 este “espaço” também estava nas ruas. A candidatura de Eduardo Campos em 2014 enxerga este “espaço”. O apoio de Marina confere um grande aporte a seu projeto eleitoral e nesta direção.
Uma direção ainda difusa. Campos e Marina têm contatos variados com o grande empresariado, a simpatia e a adesão já mencionada de setores da direita tradicional, um discurso de apoio à iniciativa privada e de crítica ao “peso do estado”.
Marina repete com ênfase que é uma aliança estratégica, para discutir um programa. É contra a velha política. Falta dizer qual a estratégia, qual o programa e o que é a nova política.
Marina e agora Campos crescem na ambiguidade e no ambiente difuso. Tudo indica que este caleidoscópio de mais ou menos não resiste ao embate eleitoral. Por enquanto o mais forte e o mais nítido é o anti-petismo bradado por Marina. Ainda mais o anti-chavismo. Música para os ouvidos da direita no Brasil, na América Latina e no mundo!
Enquanto isso, no velho PSDB nada funciona muito bem. Aécio é mais que uma mala! Serra ficou no PSDB, também para derrotar o PT. E foi um amigo de Serra na Rede, Walter Feldman, quem ajudou Campos a encontrar Marina.
O que o tempo dirá, entre as possibilidades eleitorais de outubro e as definições das convenções partidárias do meio do ano de 2014, é se ainda o PSDB tem fôlego para a disputa ou se a estratégia de organizar uma grande frente para derrotar o PT precisa de outra candidatura, a de Campos ou mesmo a de Marina.
A disputa vai ser duríssima. Por enquanto Dilma leva vantagem.
“Acabar com a miséria é apenas o começo”
Para o campo democrático e popular a tarefa central é reeleger Dilma Roussef.
Parece ser simples, mas não é. Por mais que o ex-presidente Lula fale e repita que a candidata é Dilma, existe um movimento sutil e discreto, até mesmo com declarações abertas, que vai do movimento sindical a setores do empresariado e chega a porta vozes dos banqueiros que convergem para o “Volta Lula!”
A reeleição de Dilma será com a força do PT, das alianças políticas constituídas, com a força da liderança de Lula e com uma aliança social mais definida programaticamente.
Para a realização desta aliança, Dilma precisa dar continuidade ao diálogo iniciado pós junho de 2013. Junto com o PT e com os movimentos sociais, construir uma visão de futuro, uma plataforma que concretize o pós Brasil Sem Miséria. Adiante tem a construção de uma nação soberana, com emprego digno e de qualidade, com desenvolvimento econômico em harmonia com os ecossistemas, com mais democracia e participação popular. Um novo mandato para dar curso às mudanças.
* Joaquim Soriano é membro da Direção Nacional da Democracia Socialista e editor do site da DS.
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