Bolsonarista de “primeira hora”, Abraham tem como única experiência na área de educação as suas aulas de economia. E se existe algo que a história possa nos ensinar é que não existem ações de ódio sem um discurso que o preceda e legitime.
O plágio do novo ministro da educação de Bolsonaro
Por Erick Kayser* no GGN
Uma certeza percorria o país nas vésperas do governo de Jair Bolsonaro completar seus primeiros 100 dias: o ministro da educação Ricardo Vélez Rodríguez seria demitido. As sucessivas trapalhadas e gafes públicas (como a de comparar os turistas brasileiros com “canibais”), acompanhada de uma total inoperância numa área sensível para a sociedade, colocando em risco o funcionamento de programas e ações educacionais essenciais, pareciam precipitar a permanência do ministro indicado por Olavo de Carvalho, essa figura bizarra que ostenta o título de “guru presidencial”. Pois na segunda-feira, 08 de abril, a demissão de Vélez do Ministério da Educação foi anunciada num “tuíte presidencial”.
A conturbada passagem de Vélez Rodríguez no Ministério já constituiu um marco do novo governo: foi um dos mais breves ministros da educação da história do Brasil. O desempenho pífio de Vélez em uma audiência na Comissão de Educação da Câmara, no final de março, deixou o governo sem alternativa, substituindo seu nome. No entanto, para aqueles e aquelas que imaginavam que a relativa demora em demitir o ministro se dava por haver uma busca mais criteriosa para o substituto, logo se frustrariam ao ver o nome anunciado.
Abraham Weintraub foi o nome. Ocupava um cargo no Ministério da Casa Civil de Onyx Lorenzoni, que, conta-se, foi quem teria apresentado Abraham, e seu irmão Arthur, ao então candidato Jair Bolsonaro. Os irmãos Weintraub são professores da Unifesp e participaram da construção do programa econômico da campanha de Bolsonaro, antes mesmo da chegada do “posto Ipiranga” Paulo Guedes. Bolsonarista de “primeira hora”, Abraham tem como única experiência na área de educação as suas aulas de economia. Conforme seu próprio Currículo Lattes e demais informações públicas disponíveis em uma simples busca apontam que o novo ministro da Educação tem a maior parte de sua vida profissional vinculada ao sistema financeiro, como executivo do Banco Votoranti e membro do comitê da BM&F Bovespa.
Sua produção acadêmica não traz menção alguma à educação, mas sim à economia, principalmente ao tema da Previdência. Em 2015, o novo ministro fundou o Centro de Estudos em Seguridade (CES), que se apresenta como uma associação civil sem fins lucrativos fundada por professores dos cursos de Atuária e Contabilidade da Unifesp. O CES, conforme matéria publicada no Estadão no final de 2018, poderia ser o alvo que desencadeou uma sindicância em curso contra os irmãos Weintraub. No ano passado, o CES foi a única instituição a apoiar a realização da Cúpula Conservadora das Américas, evento idealizado por um dos filhos-parlamentares do presidente. Abraham e Arthur palestraram sobre economia no evento. A fala do agora ministro neste evento merece um comentário a parte.
O discurso de Abraham Weintraub na Cúpula Conservadora é duplamente revelador: expõe que houve uma mera troca de nomes, mantendo um compromisso de continuidade política e, o mais impressionante, revela que o novo ministro é um plagiador! Sim, pode parecer estranho, mas vamos explicar. Com relação ao primeiro ponto, para quem achava que as semelhanças de Abraham com Vélez eram apenas a inexperiência em gestão pública, em seu discurso de dezembro de 2018, ficamos cientes que o novo ministro também é um “olavete”. Em seu extremismo verborrágico, Abraham também se revela um plagiador. Utilizando antigas ideias, em frases quase que literais, sem citar a devida autoria ou influência.
No discurso, a única referência de Abraham a educação é quando ele fala que“precisamos vencer o marxismo cultural nas universidades” (sic). Ainda demonstraria todo seu desapego democrático, ao enveredar para um discurso de ódio, onde defende que “Quando um comunista chegar com papo, xinga. Faz como o Olavo de Carvalho diz pra fazer. E quando for dialogar, não pode ter premissas racionais”. (sic)
No trecho mais significativo de sua fala, o agora ministro faz uma ode à necessidade de “combater o comunismo”, que seriam os verdadeiros detentores do poder no Brasil, pois “Os comunistas são o topo do país. Eles são o topo das organizações financeiras; eles são os donos dos jornais; eles são os donos das grandes empresas; eles são os donos dos monopólios.” (sic). Este último trecho é um desavergonhado plágio do agora novo ministro da Educação. Abraham Weintraub, não demonstrando honestidade intelectual, não faz nenhuma deferência aos alemães da década de 1930 que claramente o inspiraram.
Para quem duvida e acha exagero, lanço um desafio simples: pegue algum discurso de Hitler ou outra liderança nazista e substitua a palavra “judeu” por “comunista”, certamente constatarão a assustadora semelhança. A “solução final” lançada pelos nazistas, dando início a uma das mais poderosas máquinas de extermínio de vidas humanas, com seus cruéis campos de concentração, não surgiram da noite para o dia. Sua realização foi sedimentada por alguns anos de discursos antissemitas e ações segregatórias. Se existe algo que a história possa nos “ensinar” é que não existem ações de ódio, sem haver um discurso de ódio que o preceda e legitime.
*Historiador e militante da Democracia Socialista – PT
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