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Mulheres negras no Brasil: tecendo a luta feminista contra o projeto de morte| Elaine Monteiro

O Brasil é um país grande e diverso. Nós mulheres negras somos a maior parte da população, portanto, a nossa experiência não pode ser descrita de uma única forma. Existem especificidades que variam a cada região, mas sem dúvida, há um realidade de violações compartilhada frente ao capitalismo patriarcal e racista.

Estamos imersas em uma agenda de retirada de direitos, redução da responsabilidade do estado com as pessoas mais pobres. Isto impõe às mulheres negras mais desafio para a sobrevivência, uma posição de mais reação e resistência. O momento político que estamos vivendo nos mostra como cada prisão não se dá de maneira isolada, e caracteriza uma intensa perseguição que atinge a esquerda como um todo.

E hoje, como um dia histórico de lutas das mulheres negras, e por isso não podemos deixar de rememorar as mulheres lutadoras da nossa geração que entregam sua vida cotidianamente para a transformação social.

É importante denunciar a situação de Preta Ferreira, uma grande liderança da luta por moradia que foi vitimada, há mais de 30 dias, por mais uma prisão arbitrária, o que materializa mais uma página da perseguição a movimentos sociais. A qual, assim como diversas mulheres que doam sua vida a luta e esta outras mulheres negras, está a frente de processos de lutas e por isso despertam com mais força a raiva do estado. Sua situação expressa mais uma das facetas do conservadorismo que se expande no Brasil.

É muito triste pensar que no Brasil, em uma suposta democracia, lutadoras e lutadores tenham sua integridade em risco e sejam perseguidos por defender direitos fundamentais. A execução política da Marielle não pode ser esquecida, e certamente tem um vasto efeito sob as recentes mobilizações de mulheres no Brasil. Marielle foi uma mulher que ameaçou o poder instituído dentro e fora do estado, apresentou pautas socialistas e feministas na centralidade da sua formulação política. Ela foi um exemplo, a expressão de uma geração de lutas, com certeza sua história possibilita a visibilidade dessas pautas, mas isso não significa que as mesmas estejam sendo respeitadas ou mais aceitas pelas instituições públicas e pela população, ainda que o debate esteja efervescido.

Como sou residente de uma região urbana do Estado do Rio de janeiro, especificamente da cidade de Nova iguaçu que fica na baixada fluminense, urge tecer comentários sobre a realidade conflituosa que caracteriza o estado. Vivo uma rotina intensa de idas e vindas diárias a capital fluminense, e por isso experiencio a ausência de políticas públicas de mobilidade urbana e a insegura se circular por áreas que são expostas a conflitos armados, por parte do estado, por uma suposta “guerra às drogas”, mas que se expressa como uma guerra a pretos e pobres.

Há muito anos diversos grupos e movimentos vem denunciando a intensificação da militarização e como este fato implica, necessariamente, sobre a vida da população negra. Por aqui, as mulheres negras são as principais articuladora de redes de resistências às violências do estado. A nossa realidade no estado está diretamente atrelada ao projeto conservador que é implementado pelo governo federal.

Algumas lideranças tendem a denominar este como um “projeto de morte”, a qual se materializa em caracterizada em excursões genocidas e institucionais, uma vez que o governador o utiliza do seu espaço de poder para legitimar e incentivar arbitrariedades policiais direcionadas a moradores de favelas e regiões marginalizadas, mas este projeto ultrapassa a ação policial e também se expressa na agenda econômica, o que atinge diretamente as trabalhadoras, estas sendo expressas a de reformas como a trabalhista e da previdência que a longo prazo empurrará mais pessoas pro trabalho informal e precarizado.

Nós da Marcha Mundial das Mulheres temos na nossa cerne a luta transversal antirracista, antipatriarcal e anticapitalista. Nossa agenda política de ação se constitui no diálogo com movimentos negros auto organizados, na participação de fóruns populares e com a construção cotidiana junto a movimentos populares, que mesmo não auto organizados tem em sua base majoritária a população negra.

Visto que, a agenda política do governo federal prioriza as demandas do capital em detrimento às urgências da vida, isso condiciona a nós mulheres uma intensa movimentação para garantia de condições básicas para a vida. Dentre as diversas demandas, destaco que hoje as reivindicações estão centradas na defesa da previdência social, na defesa de políticas que assegurem a demarcação de terras indígenas e quilombolas, contra a violência policial e intensificação da militarização contra os cortes de investimentos na educação e pesquisa científica.

*Elaine Monteiro é militante da Marcha Mundial das Mulheres no Rio de Janeiro

Publicação original: https://marchamulheres.wordpress.com/2019/07/25/mulheres-negras-no-brasil-tecendo-a-luta-feminista-contra-o-projeto-de-morte/

 

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