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O chuchu e o prato a servir | Lúcio Costa

A discussão na imprensa, nas redes sociais e nos partidos sobre nomes para a vice de Lula corre forte e ácida.

Inicialmente, é preciso registrar que o vendaval em torno de quem será a vice na chapa de Lula é uma das expressões tanto da força de Lula quanto do bater de cabeças à direita.

Neste debate, causa pasmo o gritedo da grande mídia e de alguns personagens da política que, valendo-se das cogitações em torno de Alckmin, se põem a criticar Lula e o PT em nome do combate à “corrupção” e à “velha política”.

Ora, essa gente que teceu loas aos desmandos da Lava Jato, que se esmerou em encontrar qualidades em Temer e que até ontem estava alegremente abraçada com Bolsonaro não tem autoridade alguma para cobrar nada de Lula ou do PT! Essa chusma, antes de cobrar explicações, tem de responder política e legalmente pelos desmandos no uso da coisa pública –– os filés e picanhas comprados com dinheiro do combate à pandemia ––, pelas centenas de milhares de mortos pela Covid e pelos milhões de desempregados e famintos.

Feito o registro, é de assinalar que a discussão sobre o nome para a vice de Lula é um tema importante, mas que não esgota ou resolve as questões a serem tratadas; destas, que são muitas e complexas, ganham destaque como questões a refletir o debate em torno do programa e da tática eleitoral para 2022.

Em relação ao programa é necessária absoluta nitidez quanto a necessidade de reconstruir o Brasil. Daí que devam ser postos a mesa – e alguns já o puseram, como Lula e o PT – temas como: o pré-sal; a recuperação das refinarias privatizadas; a política de preços da Petrobrás; o resgate das empresas públicas; a revogação do Teto de Gastos, da Reforma Trabalhista e da lei que acorrentou o Banco Central à banca; a luta contra o racismo e a discriminação/violência de gênero.

Ademais, se impõe marcar com todas as letras que o governo de reconstrução nacional liderado por Lula governará com participação popular organizada e democracia participativa, aliás como previsto na atual Constituição.

Quanto a tática eleitoral –– sem entrar no debate em torno da Federação Partidária –– o desafio primeiro é compor um bloco político que envolva PT, PCdoB, PSB e, se possível, PSOL, PDT e REDE. É a partir deste núcleo político nacional e popular que devem ser feitos os movimentos para atrair setores do centro não comprometidos com o governo Bolsonaro.

O nome a vice-presidente deve resultar deste esforço, ser a ele subordinado, ser com ele coerente –– não apenas por questões ditas doutrinárias, mas igualmente por singelo cálculo eleitoral.

Para despertar a energia social necessária para eleger Lula presidente, além de grandes bancadas democrático-populares e dos setores comprometidos com salvar o Brasil do desastre, é preciso despertar a esperança e trazer milhões às ruas e às urnas, o que somente será alcançado se for construída uma política de alianças e apresentado um programa nítido que empolgue a Nação em torno de um projeto de reconstrução do Brasil.

Uma dura batalha se divisa no horizonte. Para disputá-la e vencê-la, se faz necessária, a partir da liderança de Lula, a organização de um bloco político-social, um arco de alianças e um programa capaz de unir as maiorias em torno de um projeto de reconstrução do presente e do futuro do Brasil. Este é o desafio.

Ademais, a disputa de 2022 no Brasil não será um idílico e civilizado processo eleitoral, mas sim o cenário de uma duríssima batalha, dado que o Departamento de Estado dos EUA e as oligarquias latino-americanas tentarão a todo custo frear o processo de reconstituição da capacidade hegemônica nacional-popular na América Latina e de recomposição de uma aliança continental não subordinada a Casa Branca.

Daí que diante destes desafios aguar o programa e transformar a indicação do vice-presidente em uma reedição da “Carta ao povo brasileiro” (ou, por assim dizer, em um “trazer a terceira via para dentro da primeira via”) são escolhas a serem evitadas eis que parteiras da derrota nas eleições ou no governo.

Enfim, se limitar ao chuchu não basta para saber qual o prato serviremos.

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