Sempre houve e haverá o “inocente útil”. Não são pessoas de má índole, são pessoas desinformadas, ignorantes, que imaginam que o que estão fazendo construirá um mundo melhor para si e para a sociedade.
Na condição de inocente útil, desinformado, acaba sendo útil à alguma causa, que pode inclusive ser contra seus interesses, necessidades e até seus direitos. Como é um desinformado, incorpora como verdadeiro determinadas ideias, como por exemplo, a que tudo que tinha de ruim no Brasil entre 2014 e 2016, mesmo que poucas, eram culpa do PT, Lula e Dilma.
Estas coisas “ruins” eram marteladas dia e noite pelas empresas privadas de comunicação (especialmente a Globo, Folha de São Paulo, O Globo, Estadão, Revista Veja, Época e IstoÉ). O inocente útil, uma vez que não tem o hábito e cultura da leitura para fazer uma análise crítica do que vive, incorpora tudo como valor próprio e passa emocionalmente a agir.
Foi assim durante o golpe contra a Dilma: batiam panelas, buzinavam e, de verde e amarelo com as camisas da CBF-Nike – ambas corruptas, protestavam nas ruas contra a corrupção. Inocentes e úteis não sabiam que há corrupção na CBF.
O melhor retrato dos inocentes úteis foi feito no carnaval deste ano, no Rio de Janeiro, pela escola de samba Paraíso da Tuiuti. A escola expôs a volta da escravidão, a realidade que vivemos e quem a produziu. A ala dos “manifestantes fantoches” foi um dos destaques. Ela ironizou os batedores de panela, os que de verde e amarelo saíram às ruas para “derrubar Dilma e levar junto o PT”. A Paraíso Tuiuti foi explícita: mostrava os inocentes úteis sendo manuseados pela mídia.
Mais de dois anos se passaram do golpe e tenho a impressão que poucos inocentes úteis foram buscar informações. Poucos foram ler sobre a história do Brasil ou fazer uma análise crítica do que fizeram, o que construíram ou mudaram de posição. Tenho encontrado poucos que se dizem arrependidos. Estariam com vergonha de assumir que erraram?
Aos que estão com vergonha e aos que já se arrependeram, um convite: deixem de ser inocentes úteis e venham para a rua demonstrar que estão descontentes com o rumo que foi dado ao Brasil.
Muitos dos inocentes úteis que foram usados pelo golpe perderam qualidade de vida, quando não o emprego. Hoje sabem que foram manipulados pela mídia. Espero que saibam também quem estava e ainda está por trás de tudo isso: o grande capital financeiro.
O golpe foi dado para destruir direitos trabalhistas, previdenciários, a saúde e a educação pública de qualidade. Tanto é que acabaram de tirar recursos do SUS e da educação para subsidiar o diesel e quem mais vai ganhar serão as grandes transportadoras. Não os caminhoneiros autônomos.
O golpe foi dado para entregar as empresas estatais, como a Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. A entrega da Petrobras já é sentida no bolso de todos. Os inocentes úteis gritavam, batiam panela e protestavam contra o preço da gasolina. Agora, que ela custa mais de 4 reais o litro, nada fazem. Que vergonha! Aliás, alguns são tão inúteis que, recentemente, com as manifestações de paralisação dos caminhoneiros, chegaram a ficar até 10 horas na fila para colocar gasolina e pagaram até o dobro por um litro. Foram ou não foram inocentes inúteis?
Os inocentes úteis ajudaram a destruir o Brasil, destruíram seus próprios direitos e a qualidade de vida deles e de muita gente. Destruíram os sonhos e esperanças. Destruíram a vontade de viver de muita gente e estão destruindo a vida. Tanto é que após 15 anos de queda houve aumento da mortalidade de crianças entre 0 a 5 anos.
É tempo dos inocentes tornarem-se úteis para a sociedade e para si mesmos: revejam a posição que tomaram e se tornem sujeitos de suas próprias vidas. Deixem de serem manipulados pela mídia e pelo capital.
Em outubro teremos eleições e o jeito de se tornarem sujeitos de seus destinos é buscar informações e não votar em quem os manipulou, em quem mentiu e em quem está realmente destruindo o Brasil.
Dr. Rosinha é presidente estadual do PT Paraná, foi deputado federal e Alto Representante Geral do Mercosul.
Publicado originalmente em Porém.net
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